O papa Francisco voltou a aparecer na televisão italiana para uma entrevista no programa Che tempo che fa, na noite de ontem (14). Ele falou sobre a Fiducia Suplicans, da sua vontade de visitar a Argentina e até de uma confissão até agora desconhecida.

Uma confissão

Na televisão italiana, Francisco salientou a importância do perdão e dos confessores perdoarem e tratarem "as pessoas com muita bondade, como o Senhor nos trata".

Ele confessou ainda que, em 54 anos de sacerdócio, só uma vez recusou o perdão, "por causa da hipocrisia da pessoa".

Neste sentido, reiterou que se deve perdoar tudo, mesmo com a consciência de que a pessoa "pode ter uma recaída".

Os críticos da Fiducia Supplicans manifestaram suas dúvidas

O papa respondeu sobre Fiducia supplicans, documento publicado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé que permite a bênção de uniões homossexuais e de casais em situação irregular.

Francisco disse que, quando se toma a decisão de publicar um documento desse tipo, "há um preço de solidão que se tem de pagar e, por vezes, as decisões não são acolhidas".

"Quando as decisões não são acolhidas, é porque não são conhecidas. Quando não agradam, falem, coloquem as dúvidas e discutam fraternalmente", exortou. "Se guardarem isso no coração, fazem uma resistência feia", afirmou.

O papa reiterou que "o Senhor abençoa todos aqueles que podem ser batizados, ou seja, todas as pessoas".

"No entanto, as pessoas devem entrar em diálogo com a bênção do Senhor e ver que caminho o Senhor lhes propõe. Mas temos que levá-las pela mão e ajudá-las nesse caminho, não os condenar desde o início. E esta é a ação pastoral da Igreja".

 

Possível viagem à Argentina no segundo semestre deste ano

Papa Francisco manifestou a sua preocupação pela Argentina porque "as pessoas estão a sofrer muito lá" e o país está a atravessar "um momento difícil".

Ele confirmou a sua vontade de visitar seu país natal no segundo semestre deste ano, depois de ter viajado para a Polinésia em agosto. "Eu quero ir".

Renúncia

No início da entrevista, o jornalista Fabio Fazio perguntou a Francisco sobre os rumores de uma possível renúncia. "Não é um pensamento, nem uma preocupação, nem um desejo”, disse o papa. “É uma possibilidade aberta a todos os papas".

Ele disse que, por enquanto, "isso não está no centro" dos seus pensamentos, preocupações ou sentimentos. "Enquanto sentir que tenho capacidade para servir, vou em frente, e quando não puder, será o momento de pensar nisso", afirmou.

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A esperança "nunca desilude"

Sobre o compromisso da Santa Sé com a paz e a possibilidade real de pôr fim aos conflitos, papa Francisco disse que "a esperança é como a força que nos leva adiante" e que esta "nunca decepciona".

O papa usou a imagem de uma âncora como metáfora da esperança, "que se puxa e se avança, agarrando-se à corda para chegar à margem. E esta âncora nunca decepciona".

"Todos os dias telefono para a paróquia de Gaza e eles contam-me as coisas terríveis que acontecem, quantos árabes morrem e quantos israelitas morrem, dois povos chamados a serem irmãos, que se destroem um ao outro", lamentou.

Além disso, ele disse que "a guerra começou no início da criação, com Caim e Abel, as inimizades e os crimes de guerra", recordando que "na história sempre houve guerras".

"A guerra é uma escolha egoísta, que tem este gesto: tomar para mim. Enquanto a paz tem o gesto oposto: dar e apertar as mãos", afirmou.

Francisco lamentou a situação das crianças que sofrem com a guerra e contou que, durante a visita de uma delegação de crianças da Ucrânia, "nenhuma delas sorriu".

"As crianças sorriem espontaneamente, eu dei-lhes chocolates e elas não sorriram. Esqueceram-se de sorrir e quando uma criança deixa de sorrir é um crime. É isso que a guerra faz: impede-as de sonhar", declarou.

“As crianças são exploradas, maltratadas, passam fome, são utilizadas para a guerra" e são "os grandes descartados".

No final do seu discurso, o papa Francisco disse que tem medo da "capacidade de autodestruição da humanidade atual".

"Perguntamo-nos como é que isto vai acabar, com as armas atómicas a destruir tudo”.

A "ternura das crianças" o faz sorrir e ressaltou que gosta muito de falar com os idosos.

"Não devemos esquecer estas duas capacidades que temos de ter: falar com as crianças, ouvi-las, fazê-las rir, e com os avós, ouvir as suas histórias”.

A "reforma" de que a igreja precisa

Para Francisco, é necessária uma "reforma dos corações, de todos os cristãos, para que se arrependam e mudem de coração continuamente".

Quanto à "reforma da estrutura da igreja", disse que "as coisas que eram boas no século passado não são boas agora" e que "a verdadeira liberdade é mudá-las, porque não são coisas absolutas em si mesmas, mas relativas ao momento histórico".