O cardeal Víctor Manuel “Tucho” Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé da Santa Sé, disse que “agora não escreveria” algo como o seu livro Paixão Mística: Espiritualidade e sensualidade, publicado em 1998 no México e que que foi divulgado pelo blog argentino Caminante Wanderer e replicado por outros meios de comunicação ontem (8).

O livro relata uma interação sensual imaginária entre Cristo e um adolescente, relaciona o orgasmo humano à intimidade divina e fala sobre atividades sexuais ilícitas realizadas de forma “sem culpa e sem perder a graça de Deus ou a experiência do seu amor”.

No sétimo dos nove capítulos do livro, Fernández fala de pornografia e da excitação sexual, dizendo que “uma mulher… sente-se menos atraída do que um homem por ver fotos contendo cenas sexuais violentas, imagens de orgias, etc. Isso não significa que ela se sinta menos excitada com a pornografia pesada, mas sim que ela gosta e valoriza menos”.

O texto prossegue discutindo “a possibilidade de atingir uma espécie de orgasmo gratificante em nossa relação com Deus, o que não implica tanto alterações físicas, mas simplesmente que Deus consiga tocar o centro anímico-corpóreo de prazer, para que uma satisfação que abrange toda a experiência da pessoa.”

No sexto capítulo, o livro descreve “uma experiência de amor, um encontro apaixonado com Jesus, sobre o qual uma adolescente [menina] de dezesseis anos me contou”. O texto discute um encontro com Cristo no Mar da Galiléia enquanto ele se banha e se deita na areia. Inclui uma longa descrição de beijar e acariciar seu corpo da cabeça aos pés enquanto a Mãe Santíssima fica ao lado e permite com aprovação que o encontro aconteça.

O cardeal Fernández disse à Infovaticana ontem (8) que a obra é “um livro da sua juventude que certamente não escreveria agora”.

Na época da publicação de A Paixão Mística. Espiritualidade e sensualidade Fernández tinha 35 anos, 12 deles como sacerdote.

“Muito depois desse livro, escrevi outros muito mais sérios, como ‘A força curativa da mística’ e ‘A força transformadora da mística’”, acrescentou.

O cardeal argentino disse que “cancelou o registro” de A Paixão Mística. Espiritualidade e sensualidade “logo depois de ter saído” e “nunca permiti a sua reimpressão”. O texto, disse, fazia sentido naquele momento “num momento de diálogo com jovens casais que queriam compreender melhor o significado espiritual das suas relações”.

No entanto, acrescentou, “depois de um tempo pensei que poderia ser mal interpretado”.

“Não acho que seja uma coisa boa que seja divulgado”, continuou e disse que a sua recente divulgação é algo “contrário à minha vontade”.

Três correções em pouco mais de meio ano

Esta é a terceira vez em pouco mais de seis meses que o cardeal Fernández renega ou tenta emendar os seus próprios escritos.

Há meio ano, em julho de 2023, o cardeal Fernández defendeu-se das críticas ao seu livro Cura-me com tua boca: A arte de beijar, de 1995, lançado quando tinha dez anos de padre e também já era doutor em Teologia.

O atual prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF) disse que era uma catequese para adolescentes.

Em uma publicação feita no dia 3 de julho em sua conta no Facebook, Fernández disse: “Há anos eles se referem a um livrinho meu que não existe mais, que falava sobre o beijo”.

“Naquele momento eu era muito jovem, era pároco e procurava chegar aos jovens. Então me ocorreu escrever uma catequese para adolescentes a partir do que significa o beijo”, continuou.

Mais recentemente e depois do alvoroço causado pela sua declaração Fiducia supplicans de 18 de dezembro, que estabelece que os sacerdotes podem “abençoar os casais em situações irregulares e uniões do mesmo sexo, sem validar oficialmente o seu status ou alterar de forma alguma a doutrina perene da Igreja sobre o Matrimônio”, o cardeal emitiu uma nota explicativa de seis páginas em 4 de janeiro, em meio à oposição de vários bispos e episcopados de todo o mundo, principalmente na África.

O cardeal emitiu a nota explicativa apesar de ter escrito na Fiducia supplicans, no parágrafo 41, o seguinte: “O que foi dito na presente Declaração sobre as bênçãos dos casais do mesmo sexo é suficiente para orientar um discernimento prudente e paternal dos ministros ordenados a esse respeito”.

Portanto, disse o prefeito do DDF na declaração de dezembro, “além das indicações anteriores, não se podem esperar outras respostas sobre como regular os detalhes ou aspectos práticos relativos a este tipo de bênçãos”.

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