Em sua homilia na missa da noite de Natal em Belém no domingo (24), o patriarca latino de Jerusalém, cardeal Pierbattista Pizzaballa, manifestou seu desejo de que a Terra Santa seja um lugar de alegria, perdão, paz e reconciliação para acabar com a guerra.

“Tal como aconteceu com Maria e José, para nós, aqui hoje, parece não haver lugar para o Natal. Durante demasiados dias, todos nos sentimos assaltados pela dolorosa e triste sensação de que não há lugar, este ano, para aquela alegria e paz que, nesta noite santa, a poucos metros daqui, os anjos anunciaram aos pastores de Belém”, disse o cardeal na homilia da missa que celebrou na Igreja Saint Catherine.

“Neste momento não podemos deixar de pensar em todos aqueles que nesta guerra ficaram sem nada, deslocados, sozinhos, afetados em seus seres mais queridos, paralisados ​​pela sua dor. Esta noite lembro-me dos reféns sequestrados e das suas famílias. Penso, em particular, em Gaza e nos seus dois milhões de habitantes. Verdadeiramente, o ‘não havia lugar para eles’ expressa bem a sua situação, conhecida por todos hoje e cujo sofrimento não cessa de clamar ao mundo inteiro”.

O cardeal referiu-se assim à guerra entre Israel e o Hamas, que começou em 7 de outubro com um ataque surpresa do grupo terrorista palestino, que domina Gaza, e que deixou mais de 20 mil mortos, segundo a CNN em espanhol.

Na homilia em Belém, o cardeal Pizzaballa disse que infelizmente “o ódio, o ressentimento e o espírito de vingança ocupam todo o espaço do coração e não deixam espaço para a presença do outro. E ainda assim o outro é necessário para nós. Porque o Natal é precisamente isto, é Deus quem se faz presente humanamente e quem abre o nosso coração a uma nova forma de ver o mundo”.

O cardeal disse então que, apesar de tudo, “a fé, a esperança e o amor da Igreja de Deus são indefectíveis e baseiam-se na fiel promessa do Senhor, e não dependem dos tempos que mudam e das circunstâncias, mais ou menos adversas, que nos rodeiam”.

Qual é o lugar do Natal hoje?

“O lugar do Natal é, acima de tudo, Deus. A Natividade de Cristo acontece a princípio no Coração misericordioso do Pai. O seu amor infinito e inesgotável gera eternamente o Filho e no-lo dá no tempo, também neste tempo. Nas atuais circunstâncias, nós, toda a Igreja, devemos voltar a Deus, ao seu amor, se quisermos redescobrir a verdadeira alegria do Natal, se quisermos encontrar o Salvador”, continuou Pizzabala.

Segundo o cardeal, o “sim” da Virgem Maria e de são José “é também o lugar do Natal. Sua obediência e fidelidade são a casa onde o Filho veio morar. A vontade de Deus não é um poder que domina e subjuga, mas um Amor que só revela toda a sua força se for aceito com liberdade fiel e generosa, a verdadeira liberdade, que não é arbitrariedade, mas responsabilidade amorosa por nossa própria vida e pela vida dos outros”.

O cardeal disse também que “se quisermos que seja Natal, mesmo em tempos de guerra, todos devemos multiplicar os nossos gestos de fraternidade, paz, acolhimento, perdão e reconciliação”, não apenas como algo retórico, mas como “um compromisso responsável, disposto a abrir espaço, a não o ocupar, a encontrar um lugar para o outro e não o negar”.

“Estamos aqui e pretendemos continuar sendo os pastores do Natal. Ou seja, aqueles que, mesmo em condições pobres e frágeis, encontraram o Menino, experimentaram a sua graça e a sua consolação, e querem anunciar a todos que o Natal é, hoje como ontem, verdadeiro e real”, disse.

Terra Santa: Lugar de reconciliação e perdão

"Peço isso para mim, para a minha Igreja na Terra Santa e para todas as Igrejas: que seja um lar para todos, um lugar de reconciliação e perdão para aqueles que buscam alegria e paz", clamou o cardeal.

“Peço a todas as Igrejas do mundo, que neste momento olham para nós não só para contemplar o mistério de Belém, mas também para nos apoiar nesta trágica guerra: sejam portadores para o seu povo e para os seus líderes do 'sim' a Deus, do desejo de bem para estes nossos povos, da cessação das hostilidades, para que todos possam realmente encontrar o lar e a paz”.

Pizzabala também elevou as suas orações para que os governantes do mundo trabalhem “seriamente para parar esta guerra, mas sobretudo para que retomem os fios de um diálogo que finalmente levará a encontrar soluções justas, dignas e definitivas para nós”.

“Que Cristo renasça nesta terra, a sua e a nossa, e que daqui recomece o caminho do Evangelho da paz para o mundo inteiro! Que renasça no coração daqueles que n’Ele acreditam, movendo-os ao testemunho e à missão, sem medo da noite e da morte! E que renasça também no coração de quem ainda não acredita, como desejo de paz e de bem, de verdade e de justiça!”

O cardeal Pizzaballa também recordou a “pequena comunidade de Gaza. Meus queridos, eu costumava passar alguns dias com vocês antes do Natal. Este ano não foi possível, mas não vamos abandonar vocês. Estão em nossos corações e toda a comunidade cristã da Terra Santa e do mundo está reunida ao seu redor, sintam, tanto quanto possível, o calor da nossa proximidade e do nosso carinho”.

“Finalmente, que Cristo renasça no coração de todos, para que continue sendo Natal para todos! Feliz Natal!".