Começa no domingo (3) o tempo do Advento. “O Advento, apesar de usar o roxo, que significa penitência, mais do que penitência é uma preparação onde se busca a conversão do coração”, disse à ACI Digital, o padre Alexandre Nunes, dos Legionários de Cristo.

“Mais do que penitências, se busca o desejo de converter o coração, de preparar o coração para receber Jesus, seja no memorial da primeira vinda que Ele teve e se atualiza na liturgia do Natal, mas também a preparação para a segunda vinda”, disse.

O padre Nunes, que faz doutorado em Teologia Litúrgica pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma, e é membro da equipe de formadores do Pontifício Colégio Internacional Maria Mater Ecclesiae, disse que “antes da reforma litúrgica, nos dias anteriores das grandes solenidades, a cor litúrgica era o roxo, como uma espécie de mini preparação de um dia para a grande festa do dia seguinte”. Como o Natal e a Páscoa “são grandíssimas festas”, esse tempo de preparação “se estende por mais semanas, os quarenta dias da Quaresma e as quatro semanas do Advento”, disse.

Sobre este chamado a conversão, o padre Rafhael Silva Maciel, da arquidiocese de Fortaleza (CE) e professor da Faculdade Católica de Fortaleza, disse à ACI Digital que “o tempo da Quaresma faz o apelo à conversão com a motivação de práticas e de exercícios penitenciais, com certa austeridade. O Advento, mesmo que também chame à conversão, não tem a austeridade penitencial como sua marca”.

“Sem dúvida, é um tempo oportuno para um bom exame de consciência e para uma boa confissão, com aquele objetivo de estar melhor preparado para as celebrações do Natal e, mesmo, pensando na nossa constante preparação para a segunda vinda do Senhor, da qual não sabemos nem o dia nem a hora”, disse.

Dois enfoques do Advento

Segundo o padre Alexandre Nunes, a tradição do Advento começou por volta do ano 380, na região que hoje é a Espanha, quando os cristãos começaram a celebrar um tempo de preparação para o Natal. “Na época, o Natal era chamado Epifania, pois se juntavam as duas festas do nascimento e da manifestação de Jesus, depois que dividiram”, disse. O sacerdote contou que também na França, no século V, há registros de uma preparação para o Natal. Essa tradição chegou a Roma e se estendeu para o mundo no século VII, disse.

“Em Roma, também a partir do século VII começamos a dar um enfoque escatológico do Advento. Então, não é só uma preparação para a grande festa do Natal, como tudo aquilo que é importante na Igreja”, disse, destacando que “nos dois grandes mistérios que celebramos, seja no nascimento de Jesus, seja na Paixão Morte e Ressurreição, existe esse tempo de preparação”.

O enfoque escatológico aponta para “aquilo que há de vir, os últimos tempos, a segunda vinda de Jesus”. “Até hoje, temos esse aspecto no nosso Advento, onde não só preparamos para celebrar o que foi a vinda de Jesus há mais de dois mil anos, mas também nos preparamos para essa segunda vinda de Jesus, a vinda definitiva, quando virá para julgar os vivos e mortos. Então, essa preparação tem esses dois enfoques”, disse.

O padre Rafhael Maciel destacou que o Avento “é dividido, internamente, em dois períodos: do primeiro Domingo do Advento até o dia 16 de dezembro – nesse período a liturgia da Igreja recorda, também, para os fiéis que haverá uma segunda vinda de Cristo no final dos tempos”. Nessa primeira parte, “o aspecto escatológico é mais evidenciado”.

“O segundo período do Advento vai do dia 17 ao dia 24 de dezembro e é uma preparação mais próxima para o Natal, recordando, através dos textos da Palavra de Deus os eventos que antecederam o nascimento de Jesus Cristo”, disse.

Dentro do Advento, destaca-se ainda o terceiro domingo, chamado Domingo Gaudete ou Domingo da Alegria. “Chama-se Gaudete porque é a primeira palavra que aparece na antífona de entrada, que vem do livro de são Paulo aos Filipenses, capítulo 4, versículo 4,onde são Paulo fala: ‘Alegrai-vos no Senhor, repito, alegrai-vos’. Estejamos alegres, porque essa preparação tem um fim maravilhoso que a vinda de Jesus, nosso Salvador”, disse o padre Alexandre Nunes.

No Domingo Gaudete, “não usamos a cor roxa, mas o rosa, para colocar um pouco de alegria dentro dessa preparação”, disse o padre Nunes. Segundo ele, o “Domingo Gaudete seria o branco de festa com o roxo da preparação do Advento, juntando essas duas cores, dá o rosa”.

O sacerdote lembrou ainda que o Evangelho do Domingo Gaudete “é justamente o anúncio do último profeta” e que, “de fato, Jesus diz que era mais do que um profeta, é o maior dentre os filhos do homem, que foi são João Batista”. “Foi o último profeta que não só anuncia a vinda do Messias, mas também pode apontar ‘Este é o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo’. Ele tem essa alegria de ver o Messias prometido e mostrar para seus seguidores quem era o Messias e daí vem o seguimento dos apóstolos”, acrescentou.

Tradições do Advento

O padre Alexandre Nunes destacou alguns tradições e devoções do tempo do Advento. Um deles é “a coroa do Advento”. Segundo ele, a coroa tem um formato circular, que representa “a eternidade de Deus”, e a cor verde, que “é a esperança”. Tem também uma fita vermelha que a envolve, “que representa a entrega, o amor de Deus por nós, que nos envolve e que envolve o mundo”, e as “bolinhas vermelhas, que simbolizam os frutos do Espírito Santo”.

Na coroa, são colocadas quatro velas, que “podem ser roxas, que é próprio da cor do Advento”, ou, além de uma roxa, “também branca (paz), verde (esperança) e rosa (do domingo Gaudete, da alegria)”. “Alguns preferem e é o mais justo, colocar três velas roxas e uma rosa, simbolizando cada domingo do Advento. Às vezes, colocam no meio uma quinta vela, que é a branca, Jesus luz do mundo. Mas, as quatro são suficientes”, disse.

O padre Nunes citou ainda “a devoção das antífonas do Ó”. “São antífonas que encontramos na Liturgia das Horas, antes do cântico evangélico do Magnificat nas vésperas, todas as tardes, a partir do dia 17 até o dia 23 de dezembro. São sete antífonas: ó Sabedoria, ó Adonai, ó Raiz de Jessé, ó Chave de Davi, ó Oriente, ó Rei das Nações, ó Emanuel”, que fazem referência a Jesus, disse.

Em latim, essas palavras são Sapientia, Adonai, Radix, Clavis, Oriens, Rex, Emmanuel. Ao ler apenas a primeira letra de cada uma dessas palavras, da última para a primeira, forma a expressão em latim “Ero Cras”, que pode ser traduzido como “Virei amanhã”. É a proclamação do Senhor que vem.

Das antífonas do Ó veio o título mariano de Nossa Senhora do Ó, celebrada no dia 18 de dezembro, também chamada festa da Expectação do Parto de Nossa Senhora. Esta festa ressalta o anseio da Virgem Maria por ter o Menino Jesus em seus braços, mas também a expectativa pela vinda do Senhor.

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No Brasil, o culto e a devoção a Nossa Senhora do Ó chegou por meio dos portugueses, inicialmente em Pernambuco. Depois, começou a se espalhar pelo país, em diversas regiões, incluindo São Paulo, onde se popularizou e deu nome ao bairro da Freguesia do Ó.

O padre Alexandre Nunes citou ainda “uma tradição belíssima de que nos sábados do Advento se celebra a missa Rorate”, votiva a Nossa Senhora, por “o sábado é sempre dedicado a Nossa Senhora”.  A missa recebe este nome por causa da antífona em latim cantada no início da missa: Rorate caeli desuper et nubes pluant iustum (Derramai, ó céus, o vosso orvalho, e as nuvens chovam o Justo).

Essas missas “são celebradas cedinho, antes do amanhecer. São celebradas com as luzes da Igreja apagadas e só tem velas. Terminando a missa, já tem a luz do dia, que simboliza a vinda do Salvador, a luz do mundo que é Jesus”, disse o padre Nunes, acrescentando que “é uma tradição antiga, mas que se pode celebrar ainda hoje, mesmo com a reforma litúrgica”.