O papa Francisco expressou “preocupações” sobre decisões da Igreja na Alemanha que “ameaçam” minar a unidade com a Igreja universal.

O papa escreveu uma carta a quatro leigas alemãs que foi publicada hoje (21) no jornal alemão Die Welt.

“Eu, também, tenho preocupações sobre os numerosos passos concretos que grandes porções dessa Igreja local estão tomando agora, que ameaçam afastá-la mais e mais do caminho comum da Igreja universal”, escreveu o papa.

O documento datado em 10 de novembro foi escrito em alemão e traz a assinatura manuscrita “Franciskus”.

A principal preocupação do papa é o movimento para instalar um “conselho sinodal” permanente, órgão misto de leigos e bispos que governaria a Igreja Católica na Alemanha. Estabelecer esse conselho é uma das principais prioridades principal para o Caminho Sinodal Alemão, processo de discussões da conferência episcopal alemã e do ZdK, órgão paraestatal que reúne basicamente empregados leigos da Igreja. Iniciado em 2019, processo não canônico concluiu sua fase inicial em março de 2023, aprovando resoluções para não apenas avançar com o estabelecimento de um conselho sinodal, mas também abençoar uniões homossexuais e pressionar pela ordenação de mulheres na Igreja.

O papa destacou que esse tipo de “órgão consultivo e de decisão… não pode ser reconciliado com a estrutura sacramental da Igreja Católica”. O papa mencionou uma carta de 16 de janeiro da Santa Sé a bispos alemães, endossada por ele, que proibiu explicitamente o estabelecimento do conselho sinodal.

Um comitê de líderes do Caminho Sinodal Alemão se reuniu em Essen em 10 de novembro para estabelecer os fundamentos do Conselho Sinodal, que pretendem estabelecer até 2026.

Em junho quatro bispos alemães votaram contra o financiamento da comissão preparatória. Oito dos 27 bispos alemães estavam ausentes da reunião de 10 a 11 de novembro.

O papa destacou a necessidade da Igreja Católica na Alemanha estar enraizada na “oração, na penitência e na adoração”, “em vez de buscar por ‘salvação’ em comitês sempre novos e sempre discutir o mesmo assunto com uma certa concentração em si mesmo”,

Ele também exortou a Igreja Católica na Alemanha a “se abrir e sair ao encontro de nossos irmãos e irmãs”, especialmente os doentes, presos e marginalizados. “Estou convencido de que é aqui que o Senhor nos mostrará o caminho”.

A carta foi dirigida às teólogas Katharina Westerhorstmann e Marianne Schlosser, à jornalista Dorothea Schmidt e à filósofa Hanna-Barbara Gerl-Falkovitz. As quatro leigas alemãs eram delegadas do Caminho Sinodal Alemão, mas renunciaram em fevereiro em protesto contra decisões tomadas. Elas escreveram ao papa em 6 de novembro, expressando suas preocupações sobre o rumo da Igreja Católica na Alemanha.

Em sua resposta, o papa exortou as quatro mulheres a rezarem por ele e “pela nossa causa comum de unidade”.

O teólogo Martin Brüske descreveu a carta do papa como um aviso claro e contundente para interromper o trabalho da comissão sinodal.

“A nau capitânia de Pedro deu à Igreja alemã um ataque à proa”, disse Brüske numa declaração dada pelo Neuer Anfang (Novo Caminho), grupo de católicos alemães crítico ao Caminho Sinodal. “Aqueles que não querem ouvir e ver isto vão assumir total responsabilidade se acabarem por desaparecer no turbilhão da divisão”.

A liderança do caminho sinodal alemão descreve seu esforço para estabelecer o Conselho Sinodal como coerente com a ênfase do papa Francisco no aumento da sinodalidade na Igreja Católica, tema da assembleia do Sínodo da Sinodalidade ocorrida em outubro no Vaticano.

Em 29 de outubro, Thomas Söding, vice-presidente do Comitê Central de Católicos Alemães (ZdK), descreveu a assembleia do Vaticano como “uma confirmação do [Caminho] Sinodal na Alemanha”. Ele acrescentou que os planos alemães para estabelecer um conselho sinodal permanente eram consistentes com o apelo do relatório do sínodo de outubro para uma maior descentralização.

A carta do papa às quatro leigas não foi a primeira vez que ele comentou sobre o caminho sinodal. Em janeiro, criticou o processo como “elitista” e “nem útil nem sério”. Antes do início do caminho sinodal, ele escreveu uma carta em junho de 2019 ao “povo peregrino da Alemanha”, apelando a um foco na evangelização face à “crescente erosão e deterioração da fé”.

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