Com a vitória de Javier Milei nas eleições presidenciais da Argentina, uma pergunta que vem se repetindo há muito tempo está sendo feita: o papa Francisco visitará seu país natal em 2024?

Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, derrotou Sergio Massa, atual ministro da Economia e candidato do partido União pela Pátria, que era conhecido como Frente de Todos (Frente Peronista), na eleição. Os primeiros números apontam 55,95% para o primeiro e 44,04% para o segundo.

Massa reconheceu sua derrota na tarde de ontem (19), enquanto a contagem oficial dos votos estava em andamento, e destacou: "os resultados não são os que esperávamos". Ele também afirmou que havia ligado para Milei para parabenizá-lo "porque ele é o presidente que a maioria dos argentinos elegeu para os próximos quatro anos".

"A ideia é ir no próximo ano"

Desde o início de seu pontificado, em 2013, o papa não visitou sua terra natal, a Argentina. Embora tenha visitado a Colômbia, o Equador, o Peru e os países vizinhos do Brasil, Paraguai, Bolívia e Chile, voltar à sua terra natal é uma das tarefas que ainda estão pendentes nestes 10 anos.

E, embora os argentinos estejam pedindo uma visita do papa Francisco há algum tempo, nos últimos meses isso ganhou mais força, depois de algumas entrevistas em que ele deu a entender que esse desejo poderia se tornar realidade em 2024.

"Quero ir a Argentina no próximo ano", disse ele em uma entrevista ao jornal La Nación em abril. "Sempre quis voltar ao país", acrescentou.

Em maio, durante um encontro com os jovens da Scholas Occurrentes pelo décimo aniversário da fundação, ele respondeu novamente à pergunta: "O senhor planeja visitar a Argentina em um futuro próximo? "A ideia é ir no próximo ano", respondeu papa Francisco.

A esperança tem crescido nos últimos meses, a ponto da organização Hogares de Cristo, uma organização eclesiástica dedicada à prevenção e ao tratamento de vícios, organizar uma campanha chamada "Venha, Francisco, seu povo te espera".

Nos últimos dias, um vídeo circulou no WhatsApp e foi publicado na rede social X, no qual várias pessoas declararam que "se Massa ganhar, o papa virá". E outro no qual o padre Francisco Olveira aparece, ressaltando que, "se o papa vier, a justiça social virá", depois de dizer a um jovem morador do bairro Esperanza, na região metropolitana de Buenos Aires, que tiraria uma foto com ele com a condição de que "não votasse em Milei".

Entretanto, na última assembleia geral da Conferência Episcopal Argentina, os bispos enviaram uma carta ao papa, na qual se uniram "aos sentimentos" do povo argentino "que deseja conhecer seu pastor", convidando-o a visitar o país.

"Sua proximidade e bênção farão muito bem a todos nós nestes tempos difíceis", disseram eles.

"Acreditando na possibilidade de que considere tornar realidade esta visita ao país, nós o confiamos a Nossa Senhora de Luján, padroeira da Argentina", conclui o documento.

Os dois candidatos e o papa Francisco

Contudo, o cenário eleitoral começou a colocar em dúvida uma possível visita do papa, uma vez que um dos candidatos, Javier Milei, usou insultos contra ele.

Em 2020, Milei chamou o papa Francisco de "o representante do maligno na Terra" e também o descreveu como um "jesuíta que promove o comunismo".

Em uma entrevista recente com o jornalista norte-americano Tucker Carlson, Milei disse que o papa "patrocina a esquerda" e não segue os dez mandamentos ao defender a "justiça social", que " é um roubo".

O presidente da Conferência Episcopal Argentina, dom Oscar Ojea disse: "Um dos candidatos expressou-se com insultos e falsidades irreproduzíveis. Como disse o bispo Gustavo Carrara, o papa é para nós um profeta da dignidade humana em uma época de violência e exclusão. Mas, por outro lado, ele também é um chefe de Estado a quem se deve um respeito especial".

No debate presidencial que antecedeu as eleições de outubro, o candidato Sergio Massa se posicionou contra Milei por suas observações contra o papa Francisco: "Javier, mais do que uma pergunta, quero lhe fazer um pedido. A Argentina tem milhões de católicos fiéis e você ofendeu o chefe da igreja. Quero que você aproveite esses 45 segundos para pedir desculpas ao papa que é o argentino mais importante da história", disse Massa.

"Parece que você está mal informado, porque eu já havia me desculpado por isso, e eu o faria novamente, porque não tenho nenhum problema com isso, porque se eu estiver errado, não tenho nenhum problema em repetir que sinto muito por isso", respondeu o candidato do partido A Liberdade Avança.

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"Além disso, uma das coisas que eu disse é que se o papa quisesse vir à Argentina, ele seria respeitado não só como chefe de Estado, mas também como líder da igreja católica, então, vamos lá, pare de brincar e se dedique a baixar a inflação e a terminar o governo de forma decente, vamos lá", concluiu naquela ocasião.

Dias depois, na cerimônia de encerramento da campanha do bloco A Liberdade Avança, o assessor econômico do partido, Alberto Benegas Lynch, disse: "Por consideração à minha religião católica, por respeito a essa religião, acho que deveríamos imitar o que o presidente (Julio Argentino) Roca (ndr: no final do século XIX) fez, ou seja, suspender as relações diplomáticas com o Vaticano enquanto o espírito totalitário prevalecer lá".

O próprio Milei explicou essas declarações, garantindo que " foi parte do discurso de Alberto Benegas Lynch Filho, foi uma declaração pessoal".

"Entendemos que a Argentina é um país católico, com fortes laços com a igreja. Seria irresponsável de minha parte fazer algo assim", acrescentou.

O último debate presidencial, no dia 12 de novembro, foi outra ocasião em que os candidatos presidenciais se referiram ao papa Francisco.

Sergio Massa interrogou Javier Milei novamente no bloco temático sobre "as relações da Argentina com o mundo", lembrando-o dos insultos que ele havia lançado contra o papa e perguntou-lhe mais uma vez se ele pediria perdão.

O libertário garantiu que "ele fez isso em particular" e que suas desculpas "chegaram até ele", e continuou: "Estamos prontos para recebê-lo na Argentina, para lhe dar as honras de um chefe de Estado, e não apenas isso, para lhe dar as honras próprias do chefe espiritual da igreja, dado o credo católico dos argentinos".

Milei aproveitou a oportunidade para se distanciar mais uma vez dos comentários de Benegas Lynch sobre o rompimento de relações com o Vaticano. "O que um membro ou um seguidor diz não significa que seja a posição do A Liberdade Avança", esclareceu.

De sua parte, Massa prometeu: "Vamos trabalhar para que o papa venha em 2024".

Uma visita do papa Francisco após a Páscoa?

Nas últimas semanas, começaram a circular rumores em diferentes meios católicos de que a visita seria agendada para depois da Páscoa e incluiria a visita do papa ao Uruguai.

Em 10 de dezembro, Javier Milei tomará posse como presidente da Argentina, o que representa um novo cenário político no país e, embora algumas versões tenham indicado que a visita do papa Francisco não está condicionada "ao triunfo ou à derrota de qualquer partido", até que a Santa Sé anuncie sua viagem, a última palavra não foi dita.