À medida que o Sínodo da Sinodalidade atinge a metade de sua programação para este ano, a experiência dos dois bispos chineses no cenário religioso internacional está chegando ao fim.

A Santa Sé confirmou que os bispos da República Popular da China estão de partida antes da conclusão do evento, planejando voltar à sua terra natal no início desta semana.

Em resposta a uma pergunta da CNA, agência em inglês do grupo EWTN, do qual ACI Digital faz parte, em coletiva de imprensa hoje (16), Paolo Ruffini, prefeito do dicastério para a Comunicação, disse que isso se devia às “necessidades pastorais de sua diocese que exigem sua presença”.

A presença dos dois bispos no sínodo levantou uma série de questões importantes.

Ao entrar agora na sua terceira e penúltima semana, o sínodo terá um resumo do relator geral – o cardeal jesuíta Jean-Claude Hollerich, de Luxemburgo – na quarta-feira (18), que provavelmente será transmitido ao vivo. Isto será seguido pela primeira reunião da comissão para a elaboração do relatório resumido no próximo domingo (22) enquanto o sínodo sobre “Comunhão, Missão, Participação” se prepara para a sua semana final e decisiva.

A jornada sinodal dos bispos chineses

A participação de bispos da China continental não é inédita. Após o acordo de 2018 entre a Santa Sé e Pequim sobre as nomeações de bispos, dois prelados chineses foram recebidos no sínodo.

No sínodo deste ano, os bispos selecionados pelo governo Joseph Yang Yongqiang, de Zhoucun (província de Shandong), e Anthony Yao Shun, de 58 anos, de Jining (província da Mongólia Interior), representaram a China. Notavelmente, Yao foi um dos primeiros bispos ordenados após o acordo provisório de 2018.

Ambos os bispos são membros da Associação Patriótica Católica, a organização nacionalista do catolicismo gerida pelo Estado na República Popular da China, tendo Yao servido como diretor espiritual do Seminário Nacional da Igreja Católica Patriótica e como membro proeminente da comissão litúrgica da Igreja Patriótica. Por outro lado, na época do acordo entre a China e a Santa Sé de 2018, o bispo Yang ocupava o cargo de vice-presidente da Associação Patriótica.

Notavelmente, a consagração episcopal de ambos os bispos recebeu aprovação clandestina de Bento XVI em Roma, em 2010.

Ao lado deles estiveram presentes o cardeal Stephen Chow, bispo de Hong Kong, e Norbert Pu, bispo de Kiayi (Taiwan). Estes quatro constituíram a “patrulha chinesa” no sínodo, com o cardeal Luis Antonio Tagle, pró-prefeito do dicastério para a Evangelização, também supostamente envolvido com eles. A mãe do cardeal Tagle é descendente de chineses.

Interações mais amplas com a Santa Sé

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O envolvimento da China é fundamental para o papa Francisco. Espera-se que o cardeal Chow receba um grupo de Pequim após a sua recente visita sem precedentes à área da capital, a primeira de um bispo de Hong Kong em mais de três décadas.

O sínodo viu a representação de dois bispos chineses como um aquecimento sutil nas relações entre a Santa Sé e a China.

Durante a pandemia de covid-19, a representação da China continental em várias iniciativas da Igreja na Ásia permaneceu ausente. No ano passado, a comemoração do 50º aniversário da Federação das Conferências Episcopais Asiáticas, em Bangkok, na Tailândia, não contou com nenhum delegado da China continental.

Na próxima semana, o sínodo será preparado para o domingo (23), quando a comissão para a elaboração do resumo final vai se reunir pela primeira vez. A comissão pretende elaborar um texto abrangente que reflita as discussões, englobando contribuições de círculos menores e intervenções independentes.

Amanhã (17) serão finalizados os relatórios dos “círculos menores” ou pequenos grupos de discussão, com discussões sobre o módulo B3 do Instrumentum Laboris sobre “Participação, tarefas de responsabilidade e autoridade em uma Igreja missionária sinodal” prevista para quarta-feira (18).

Um evento de oração pelos migrantes e refugiados está agendado para quintafeira (19) na praça de São Pedro, com círculos menores revisitando os relatórios B3 na sexta-feira (21).

A comissão responsável pela elaboração do relatório de síntese se reúne novamente no domingo (22), com uma reunião de acompanhamento em 25 de outubro.

Oração terá foco na migração

O evento de oração dos migrantes na quinta-feira (19) destaca o tema recorrente da migração. Sviatoslav Shevchuk, arcebispo maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana, expressou a situação de milhões de pessoas que fugiram da Ucrânia.

A sinodalidade é outro ponto focal, com muitos bispos valorizando as percepções dos bispos de rito oriental. O sínodo incentiva o diálogo pessoal e o discernimento espiritual, estimulando debates sobre a conduta da assembleia.

A anedota de um bispo comparou a adaptação a novos métodos a “usar calças novas” – é inicialmente desconfortável em comparação com o velho par familiar.

Apesar de um contratempo na semana passada, quando um erro na nuvem expôs on-line os relatórios dos círculos menores, o apelo do papa Francisco à prudência e à confidencialidade continua a ser fundamental, garantindo que a essência das discussões permaneça dentro dos limites sagrados.