Os relatórios dos círculos menores do Sínodo da Sinodalidade não serão divulgados, embora estes documentos já tenham sido vistos por alguns jornalistas após um controle de segurança da informação.

A decisão foi anunciada no sábado (14) pelo presidente da comissão de informação do Sínodo, Paolo Ruffini, durante coletiva de imprensa.

O Sínodo da Sinodalidade foi convocado no mês de outubro de 2021 sob o lema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Para a sessão que acontece neste mês de outubro em Roma foram convocadas 365 pessoas, entre bispos, religiosos, sacerdotes, diáconos e leigos. Pela primeira vez, os não-bispos – incluindo 54 mulheres – têm o direito de voto.

Na manhã de sexta-feira (13), o site The Pillar informou que havia acessado as deliberações do círculo menor através de um servidor não seguro gerenciado pela secretaria geral do sínodo. O blog católico disse que era possível acessar o servidor sem a necessidade de digitação de senha. The Pillar disse que notificou imediatamente as autoridades do Vaticano. O acesso através desse servidor foi fechado mais tarde naquele dia.

Comentando o contratempo, Ruffini disse que os organizadores do sínodo decidiram disponibilizar os documentos em um servidor não seguro depois que alguns membros tiveram problemas para acessar o servidor seguro que exigia uma senha.

“O objetivo era permitir que todos os membros tivessem acesso à informação” necessária para participar plenamente, disse.

Depois do relatório do The Pillar, os organizadores restabeleceram os requisitos de senha e oferecerão suporte técnico aos membros que tenham problemas de acesso.

Citando o pedido do papa para um “jejum” midiático na cobertura do sínodo, The Pillar não publicou os documentos que obteve, mas não se sabe se outros meios de comunicação poderiam ter tido acesso aos mesmos e agora os têm em seu poder.

Especificando que não há nada de “secreto” nos relatórios dos círculos menores – os pequenos grupos de discussão –, Ruffini os descreveu como “confidenciais” e disse que torná-los públicos ameaçaria o espírito orante de discernimento desejado pelos organizadores do sínodo.

“Isso transformaria a nosso encontro de oração e discernimento” numa espécie de “conferência pública” ou “parlamento”, disse Ruffini, referindo-se à caracterização do sínodo que o papa Francisco criticou.

Ruffini respondeu assim a uma pergunta sobre se era injusto que alguns meios de comunicação tivessem acesso aos relatórios, enquanto outros permanecessem no escuro.

Os relatórios dos círculos menores foram objeto de intenso interesse na semana passada. Este é o primeiro sínodo dos bispos em que só alguns membros se concentraram em alguns temas, levantando preocupações sobre se os relatórios dos círculos sobre um determinado tema – como aqueles controversos sobre a inclusão LGBTQ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e queer), ou a possibilidade de admitir mulheres ao diaconato – pode não refletir toda a assembleia.

Os relatórios dos círculos servirão de base para uma síntese dos processos do sínodo no final do mês. Este documento servirá então de ponto de partida para uma segunda assembleia sinodal em 2024, que apresentará as suas recomendações finais ao papa.

Embora os relatórios dos círculos menores dos sínodos anteriores tenham estado disponíveis, os de agora devem ser mantidos em segredo no Sínodo da Sinodalidade, como parte do “apagão midiático” pedido pelo papa Francisco.

Perguntas sobre o processo das votações

O porta-voz evitou responder diretamente a uma pergunta sobre se os membros do sínodo poderão votar em propostas individuais que serão incluídas no documento síntese no final do mês ou se simplesmente votarão no documento como um todo, considerando que refletiria nas discussões.

No entanto, ele disse que os relatórios sobre as votações no sínodo não incluiriam a diferenciação entre bispos e não-bispos.

“Fazemos parte da mesma comunhão e da mesma assembleia sinodal”, disse Ruffini ao falar sobre o motivo de não se fazer a distinção. “O sacerdócio comum dos batizados é a base para a participação no sínodo (…) que nos une a todos”.

Dos 365 votos do Sínodo da Sinodalidade, 27% serão de não-bispos, um fato que levantou questionamentos sobre a legitimidade das recomendações que surjam no final.