A Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, cujo objetivo desde a sua fundação em 2014 é “promover a responsabilidade das Igrejas particulares na proteção de todos os menores e adultos vulneráveis”, pediu aos membros do Sínodo da Sinodalidade que a proteção dos menores e a solidariedade para com as vítimas sejam uma prioridade durante as assembleias.

O Sínodo da Sinodalidade foi convocado no mês de outubro de 2021 sob o lema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. 365 pessoas participam da sessão que acontece de 4 a 29 de outubro em Roma, entre bispos, religiosos, sacerdotes, diáconos e leigos. Pela primeira vez, os não-bispos – incluindo 54 mulheres – têm o direito de voto.

Em um comunicado assinado em 27 de setembro e divulgado ontem (9), a comissão pede a solidariedade para com as vítimas e sobreviventes “à luz das contínuas revelações de abusos”.

A comissão exorta os líderes da Igreja (especialmente os cardeais) “a aumentar o compromisso e os recursos para promover a proteção contra os abusos em todos os lugares”. Também expressa a sua “profunda dor” e a “solidariedade incondicional” para com as vítimas e sobreviventes de tantos “crimes desprezíveis cometidos na Igreja”.

“Todos os dias surgem novas evidências de abusos, bem como de encobrimentos e má gestão por parte de líderes eclesiásticos em todo o mundo”, continua o comunicado.

“Enquanto alguns casos recebam muita atenção dos meios de comunicação, outros são pouco conhecidos – se é que o são – o que deixa muitas pessoas sofrendo em silêncio. Cada abuso implica a angústia e a dor de uma terrível traição, não só por parte do abusador, mas também por parte de uma Igreja incapaz ou mesmo sem vontade de aceitar a realidade das suas ações”, diz.

“Só pode haver mudança efetiva com a conversão pastoral dos líderes da Igreja”, acrescenta o comunicado.

A comissão também exorta os novos cardeais, criados no último consistório, “a que se lembrem das vítimas e de suas famílias e que incluam, como parte do seu juramento de fidelidade, o compromisso de continuar firmes na honra das pessoas afetadas pelos abusos sexuais, unindo-se a elas na sua busca comum pela verdade e pela justiça”.

Segundo a comissão, o Sínodo da Sinodalidade é “um momento importante para promover estes esforços”. “A realidade do abuso sexual na nossa Igreja ocupa um lugar central na agenda do sínodo”.

A comissão se dirige aos participantes dessa assembleia para pedir "que o abuso sexual na Igreja permeie suas discussões quando abordem o ensinamento, o ministério, a formação e o governo”.

“Pedimos que se unam para enfrentar o desafio, para que possamos enfrentar a ameaça que os abusos sexuais representam para a credibilidade da Igreja na proclamação do Evangelho”.

A comissão pede dedicar “tempo e espaço significativos para integrar o testemunho de vítimas e sobreviventes em seu trabalho”.

“Muitos, senão todos os participantes do sínodo têm as suas próprias experiências de enfrentar ou lidar com o abuso sexual na Igreja, o que poderia tornar-se uma parte explícita das suas deliberações”, acrescenta.

“Nós os exortamos a trabalhar para que todos os ministérios da Igreja se tornem locais de acolhimento, empatia e reconciliação para as pessoas afetadas por abusos”, pede a comissão.

Também pede “trabalhar para construir o momento em que a nossa Igreja reconheça plenamente e assuma toda a responsabilidade pelos males cometidos contra tantas pessoas sob os seus cuidados”.

Por fim, o comunicado pede a construção de “sistemas transparentes e acessíveis de reparação pelas faltas dos ministros da Igreja” e “caminhar para o dia em que todos na nossa Igreja sejam capazes de compreender e assumir a responsabilidade de uma proteção sólida em todas as dioceses e paróquias e escolas”.