A artesã Teresinha de Jesus de Paula Giarolla, 61 anos, de Volta Redonda (RJ), é devota de santa Teresinha do Menino Jesus, de quem herdou o nome como muitas brasileiras desde as primeiras décadas do século passado. Da santa carmelita doutora da Igreja, ela busca carregar não só o nome, mas seguir o exemplo na busca da santidade no dia a dia, “principalmente na virtude da paciência”.

“Ela tem caminhado comigo. Sou bastante devota dela, gosto muito”, disse Teresinha de Jesus à ACI Digital.

“Eu aprendi com ela a virtude da paciência, uma virtude que tenho buscado muito, pois sei que sou impaciente”, disse Teresinha de Jesus, que ficou viúva há cerca de um ano. “Às vezes, vejo o olhar daquela foto dela antiga e a sinto falando comigo: tenha paciência. É a santidade, a conversão do dia a dia”, acrescentou.

Ela recordou que a santa de Lisieux também “sofreu muito por causa da tuberculose”, doença que a levou à morte em 1897, aos 24 anos. “E eu tenho asma. Então, quando me dá uma crise, logo me lembro dela”.

Teresinha de Jesus contou que quem escolheu o seu nome foi sua madrinha, que era católica e devota da santa carmelita.

Assim como ela, muitas mulheres no Brasil têm o mesmo nome da santa de Lisieux. Segundo o site do IBGE ‘Nomes no Brasil’, com base no censo de 2010, no país há 92.667 pessoas chamadas ‘Teresinha’, outras 299.037 com o nome ‘Terezinha’. Há ainda 1.554 pessoas chamadas ‘Theresinha’ e 9.516 ‘Therezinha’. A maior frequência desses nomes está entre pessoas nascidas entre as décadas de 1930 e 1950.

A devoção a santa Teresinha no Brasil

No Brasil, são inúmeros os devotos de santa Teresinha e esta devoção começou antes mesmo de ela se tornar santa. A história da jovem carmelita de Lisieux, França, chegou ao país por meio do jesuíta francês padre Henri Rubillon.

O padre Rubillon era sete anos mais velho que Teresa. Ele ingressou no noviciado da Companhia de Jesus no mesmo ano em que ela entrou para o Carmelo e ambos fizeram suas profissões em 1890.

O jesuíta veio para o Brasil e foi professor no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (RJ). Ele difundiu pelo país, em missões e retiros, a espiritualidade de Teresinha e a devoção a ela. Divulgou a leitura da autobiografia da carmelita, ‘História de uma Alma’, publicada em 1898, um ano após a morte dela.

Nas cartas enviadas entre o padre Rubillon e as carmelitas de Lisieux, ele é chamado de “arauto no Brasil”, “incansável apóstolo da irmã Teresa no Brasil”. “Que alegria é para nós ver a devoção à irmã Teresa desenvolver-se no Brasil, e quanto graças a vós”, diz uma das cartas enviadas em 1918 ao padre Rubillon pela irmã Marie-Emmanuel do Carmelo de Lisieux.

O crescimento da devoção a Teresa de Lisieux no Brasil levou também a gestos concretos. Assim como outros países, o padre Rubillon arrecadou fundos para enviar para o carmelo de Lisieux uma bandeira do Brasil, em 1919. A bandeira foi enviada em um estojo de madeira gravado com o brasão de Teresa.

No ano seguinte, as carmelitas de Lisieux pediram ao padre se os brasileiros poderiam doar a urna para receber os ossos de Teresinha.  Assim foi feito e, pela generosidade dos brasileiros, foi possível enviar para Lisieux um baú de jacarandá, conhecido como “urna do Brasil”, para guardar as relíquias de Teresinha.

A “urna do Brasil” foi usada durante as primeiras peregrinações das relíquias de santa Teresinha pela França, de 1945 a 1947 e, de 1995 e 1996. Também esteve no Vaticano, em 1997, na proclamação de santa Teresinha como doutora da Igreja. Atualmente, esta urna está conservada em Lisieux e uma cópia viaja o mundo com as relíquias da santa, considerada padroeira das missões.

A ligação de Lisieux com o Brasil também se deu pela construção, em Taubaté, do “primeiro” santuário “erguido no mundo em homenagem à santa Teresinha”, segundo o site da diocese de Taubaté. Trata-se do Santuário Diocesano de Santa Teresinha, que este ano comemorou 100 anos de existência. O templo começou a ser construído em 1923 e foi inaugurado em 1929.  

O reitor do santuário, padre Silvio José Dias, contou à ACI Digital que o livro ‘História de uma Alma’ “caiu na graça do povo e foi bastante difundido por muitos bispos, padres, leigos, e chegou a Taubaté antes da beatificação” de Teresa de Lisieux. Segundo ele, o primeiro bispo de Taubaté, dom Epaminondas Nunes D'Ávilla conheceu a autobiografia da carmelita “e ficou muito encantado”. Depois, ele “descobriu que havia pessoas que já tinham lido e estavam rezando pela canonização dela, em meados de 1921, 1922”, disse. Santa Teresinha foi beatificada em 1923 e canonizada em 1925.

“Dom Epaminondas descobriu que já havia uma intenção de um grupo de pessoas de construir um oratório – porque ela não era nem beata, então, não podia ter um templo público; e um santuário, uma paróquia, só depois da canonização”, disse o padre Dias.

Então, o bispo “começou a entrar em contato com esse povo e já havia uma coleta de doações para uma pequena capela particular. Pensou-se em uma capela. Mas, quando ela foi beatificada em 1923, começaram a construir uma igreja e, quando veio a canonização dois anos depois, já se pensou em uma igreja maior, no santuário. Assim, nasceu o primeiro santuário em honra a ela no mundo inteiro”, disse o reitor.

O padre Dias disse que o próprio carmelo de Lisieux reconheceu o templo como o primeiro dedicado a Teresinha. De Lisieux foram enviadas ao santuário de Taubaté três relíquias da santa: “um pedaço da falange do dedinho, uma mecha de cabelo e um pedaço do hábito. Estão os três no mesmo relicário”, disse o reitor.

Segundo o padre Dias, ainda hoje a devoção a santa Teresinha na cidade é “intensa”. “Percebemos ao longo de todo o ano, pelas visitas, pessoas que passam pelo santuário, fazem orações, deixam rosas”, disse. Além disso, “há um carinho da cidade toda e um orgulho de dizerem que têm o primeiro santuário dedicada a santa Teresinha e que foi erguido por eles, por doações dos cidadãos daqui. E a cidade tem o santuário como seu cartão postal mais importante”, acrescentou.

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No Rio de Janeiro (RJ), a Basílica Matriz Santa Teresinha do Menino Jesus ostenta o título de “primeiro templo dedicado à Santinha de Lisieux após a sua canonização”, conforme o site da Comissão do Patrimônio Histórico e Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

Os padres carmelitas lançaram os alicerces do templo em janeiro de 1924, “e as paredes foram subindo com rapidez extraordinária”. Em 1926, o arcebispo coadjutor do Rio, dom Sebastião Leme, “fervoroso devoto dela, presidiu a inauguração do primeiro santuário de santa Teresinha do Menino Jesus no Rio de Janeiro e no Brasil”, diz o site. Em 1927, o templo “foi elevado pelo Papa Pio XI à dignidade de basílica. Essa foi a primeira igreja do Estado do Rio de Janeiro a ser elevada a tal condição”.

A basílica também tem uma relíquia de primeiro grau de santa Teresinha de Lisieux, um dente da santa carmelita.

Tanto o santuário de Taubaté quanto a basílica do Rio de Janeiro possui uma longa programação para celebrar sua padroeira, santa Teresinha do Menino Jesus. A programação de Taubaté pode ser acessada AQUI e a do Rio de Janeiro, AQUI.