O governo da Nicarágua confiscou um mosteiro de freiras de clausura e prendeu 20 pessoas por atividades relacionadas à Semana Santa na Nicarágua.

As irmãs trapistas da Nicarágua, que deixaram o país em fevereiro de 2023, após 22 anos no país, disseram na terça-feira (11) que o governo informou verbalmente ao bispo de Juigalpa que o mosteiro passaria para as mãos do regime.

“Tínhamos deixado o mosteiro sob a administração da diocese enquanto o fechamento voluntário da associação estava sendo processado perante o MIGOB (Ministério do Interior)”, disseram as irmãs em sua página no Facebook. “No dia 1º de março foi apresentada ao MIGOB a escritura de encerramento voluntário e no dia 3 de março as autoridades governamentais apareceram para informar verbalmente ao nosso bispo que não podiam mais ir ao mosteiro e que o INTA (Instituto Nicaraguense de Tecnologia Agropecuária) funcionaria lá”, dizem as irmãs.

O mosteiro fica na cidade de San Pedro de Lóvago, na diocese de Juigalpa.

As monjas, que agora vivem no Panamá, onde foram “acolhidas com muito carinho e generosidade” após sua partida da Nicarágua, também pediram ajuda financeira para poderem se sustentar.

Vinte prisões relacionadas com a Semana Santa

Félix Maradiaga, ex-preso político, presidente e fundador da Fundação para a Liberdade da Nicarágua, enviou à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, uma mensagem que dirigiu na terça-feira (11) a um grupo de leigos comprometidos de diferentes partes do mundo.

Nela, denunciou que o governo de Daniel Ortega, ex-líder guerrilheiro de esquerda “continua sua feroz perseguição contra a Igreja Católica na Nicarágua”.

“A Semana Santa, tradição da mais alta estima para os fiéis da Nicarágua, ocorreu sob uma onda de repressão nunca vista antes. Segundo o Mecanismo para o reconhecimento de presos políticos, em 31 de março de 2023, o número de presos políticos na Nicarágua é de 36”, disse Maradiaga.

O ex-candidato presidencial disse que ocorreram vinte prisões “ligadas a procissões ou atividades públicas da Igreja Católica” nesta última Semana Santa.

Uma dessas prisões foi a do jornalista Víctor Ticay, preso pela polícia na Quinta-feira Santa depois de transmitir uma celebração da Semana Santa nas redes sociais no dia anterior.

Para Maradiaga, a situação para a Igreja no país é "extremamente preocupante". "A Nicarágua se tornou um dos países mais hostis ao clero católico", disse. O regime procura "silenciar a Igreja, cuja voz pastoral é adversa aos planos do casal Ortega-Murillo de estabelecer uma tirania dinástica”. Murillo é Rosario Murillo, mulher de Ortega e vice-presidente do país.

Daniel Ortega está no poder ininterruptamente desde 2007, graças a eleições consecutivas. Com alguns intervalos, Ortega governa o país desde a derrubada do ditador Anastasio Somoza pela Frente Sandinista de Libertação, chefiada por Ortega, em 1979. Ao todo ele soma quase 30 anos no poder.

Para Maradiaga, não é exagero definir o regime "como satânico".

“Refiro-me aos fundamentos perversos sobre os quais assenta a ditadura e ao mal que inspira as suas ações. É um regime sedento de poder e de sangue de inocentes", denunciou.

Na sua opinião, a proibição da via-sacra e de várias devoções populares de Semana Santa, como a dos “Cirineus”, para tentar controlar a população “é como a reclamação do peixe podre que quer ocupar um bom lugar à mesa”.

Depois de agradecer as intervenções do papa Francisco em defesa da Nicarágua, Maradiaga alertou que é possível que continuem expulsões, como a do padre panamenho Donaciano Alarcón, por isso "é fundamental aumentar a ação internacional de denúncia, e isso é no que estamos nos concentrando."

Apelo pela liberdade de dom Rolando Álvarez

Depois de lembrar que o governo emprega cerca de 20 mil policiais para reprimir um país com 6,6 milhões de habitantes, e que 9% da população deixou o país nos últimos quatro anos, Maradiaga pediu a liberdade de dom Rolando Álvarez.

“Como católico, mas sobretudo como nicaraguense, sinto-me pessoalmente grato pela coragem e dignidade de dom Rolando Álvarez. Suas palavras ao rejeitar o exílio "Deixe-os ser livres, eu pago suas sentenças" significaram uma sentença de 26 anos nas terríveis prisões do regime", disse ele.

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“Seu sacrifício, inspirado pelo Espírito de Deus, mantém viva nossa luta por sua liberdade e das outras 36 pessoas ainda sequestradas pela ditadura”, acrescentou.

Dom Rolando Álvarez, bispo de Matagalpa, foi condenado injustamente, acusado de ser um "traidor da pátria", em 10 de fevereiro de 2023. No dia anterior, ele se recusou a ser deportado para os EUA e preferiu permanecer na prisão “La Modelo" na Nicarágua.

Para concluir, Maradiaga fez “um apelo aos católicos do mundo para que expressem sua solidariedade à Igreja perseguida na Nicarágua”.

Neste fim de semana e nos dias seguintes, marchas e eventos foram programados em várias cidades dos EUA para exigir a liberdade da Nicarágua e de dom Álvarez.

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