O governo da Nicarágua condenou nesta sexta-feira (10) o bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez Lagos, a 26 anos e 4 meses de prisão, acusado de ser um "traidor da pátria".

A sentença contra Rolando Álvarez foi dada apenas um dia depois que o governo deportou 222 presos políticos para os EUA.

Dom Álvarez se recusou a embarcar no avião com os deportados, segundo informou na quinta-feira (9) o presidente Daniel Ortega, ex-guerrilheiro de esquerda que soma mais de 29 anos no poder.

"O acusado Rolando José Álvarez Lagos é considerado um traidor à pátria", diz a sentença lida na sexta-feira pelo juiz Héctor Ernesto Ochoa Andino.

"Rolando José Álvarez Lagos é declarado culpado por ser autor dos crimes de conspiração para minar a integridade nacional, propagação de notícias falsas através das tecnologias de informação, obstrução de funções, desobediência agravada ou desacato à autoridade, todos cometidos em concorrência real e em detrimento da sociedade e do Estado da República da Nicarágua”, continua a sentença.

Detalhando cada uma das acusações e suas respectivas penas, o texto acrescenta: “O acusado Rolando José Álvarez Lagos é condenado a 15 anos de prisão e inabilitação perpétua para o exercício de cargos públicos em nome ou a serviço do Estado da Nicarágua”.

“Declara-se a perda dos direitos de cidadão do condenado, que será perpétuo, tudo isto por ser o autor do crime de conspiração para minar a integridade nacional”, continua.

A sentença também estabelece "a perda da nacionalidade nicaraguense ao sancionado José Álvarez Lagos, em estrito cumprimento da Lei 1.145".

A mencionada Lei 1.145, bem como uma reforma constitucional que permite a perda da nacionalidade dos condenados por "traição", foi aprovada pela Assembleia Nacional da Nicarágua na quinta-feira (9).

A sentença diz ainda que “o acusado Rolando José Álvarez Lagos é condenado a 5 anos de prisão e 800 dias de multa por ser o autor da propagação de notícias falsas através das tecnologias de informação e comunicação”.

"A multa em dias equivale ao valor de 56 mil 461 córdobas com 15 centavos (cerca de 1.550 dólares)."

A sentença condena o "réu Rolando José Álvarez Lagos a 5 anos e 4 meses de prisão por ser autor de obstrução de funções agravada em detrimento do Estado e da República da Nicarágua" e também "1 ano de prisão por ser o autor do crime de desacato à autoridade”.

“As penas de prisão serão cumpridas sucessivamente, por isso o condenado Rolando José Álvarez Lagos deverá cumprir 26 anos de prisão e 4 meses de prisão”, diz o texto da condenação.

Segundo a sentença, Rolando Álvarez deve permanecer preso até 13 de abril de 2049.

Dom Rolando Álvarez se recusou a embarcar na tarde de quinta-feira com outros 222 deportados, entre eles quatro padres, e decidiu ficar para acompanhar os católicos que sofrem a repressão do governo na Nicarágua.

Em comunicado divulgado nesta sexta-feira, após a deportação dos 222 presos políticos da Nicarágua, Chris Smith, chefe do Subcomitê de saúde global, direitos humanos globais e organizações internacionais da Câmara dos Deputados EUA, disse que "temos de continuar trabalhando para combater o brutal regime de Ortega e libertar os prisioneiros restantes”.

Smith citou o exemplo do “corajoso dom Rolando Álvarez, que se recusa a deixar seu rebanho”.

“Ele é verdadeiramente uma figura semelhante a Cristo, com um coração de servo, e continuamos a pedir ao papa Francisco que fale inequivocamente por ele para pedir a sua libertação”.

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