O Superior da Companhia de Jesus, padre Arturo Sosa, confirmou que o padre jesuíta esloveno e artista Marko Rupnik, acusado de abusar sexualmente de ao menos nove religiosas, foi excomungado por confessar uma das mulheres. Confessar e absolver um cúmplice acarreta excomunhão automática. A sentença foi revertida mais tarde com a confissão e arrependimento de Rupnik.

Por ter confessado uma mulher com quem teve relações sexuais, padre Rupnik incorreu em excomunhão automática, conhecida no direito da Igreja Católica como latae sententiae.

Uma excomunhão latae sententieae não prescreve até que o papa ou alguém nomeado diretamente por ele emita um decreto de absolvição, geralmente por meio da Penitenciária Apostólica.

O padre Sosa disse à agência de notícias Associated Press (AP) que Rupnik “foi excomungado. Como uma excomunhão é levantada? A pessoa tem que reconhecê-lo e tem que se arrepender, e isso aconteceu".

Sosa disse que o Dicastério para a Doutrina da Fé, que investigou as denúncias contra o padre Rupnik, “disse que aconteceu, houve a absolvição de uma cúmplice”. A declaração da Santa Sé, segundo a AP, ocorreu em 2019.

Mesmo esse caso de Rupnik tendo envolvido uma mulher adulta, a Igreja considera abuso sexual uma relação sexual em que haja diferença de poder e autoridade, como entre um fiel católico e um padre, um diretor espiritual ou um superior. Rupnik era o capelão da Comunidade Loyola, instituo de vida religiosa para mulheres co-fundado por ele na Eslovênia.

Ao responder sobre se o papa Francisco sabia ou interveio no caso do padre Marko Rupnik, o superior da Companhia de Jesus disse que "poderia imaginar" que o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Luis Ladaria, também jesuíta, teria comunicado a decisão.

Rupnik é famoso por suas obras de arte espalhadas pelo mundo, que incluem os mosaicos das fachadas da basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), cuja primeira parte foi inaugurada em março último. Rupnik recebeu o título de doutor honoris causa da Pontifícia Universidade Católica do Paraná em cerimônia do dia 30 de novembro último. Também foi encarregado de criar a imagem oficial do X Encontro Mundial das Famílias (EMF) que aconteceu em Roma de 22 a 26 de junho de 2022.

No início de dezembro, a mídia cobriu denúncias de abusos sexuais cometidos por Rupnik no início dos anos 1990.

Em 2 de dezembro deste ano, a Companhia de Jesus informou em comunicado que “o Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF) recebeu uma denúncia em 2021 contra o padre Marko Ivan Rupnik S.J. pela forma como desempenhou o seu ministério” e acrescentou que “não houve menores envolvidos”.

Após uma investigação preliminar confiada à Companhia de Jesus, o DDF “considerou que os fatos em questão prescreveram, por isso arquivou o processo no início de outubro deste ano de 2022”, diz o comunicado dos jesuítas.

Desde aquela investigação, a Companhia de Jesus diz ter tomado medidas cautelares contra o padre Rupnik como a “proibição de exercer o sacramento da confissão, a direção espiritual e o acompanhamento dos Exercícios Espirituais”. Rupnik também “foi proibido de se envolver em atividades públicas sem a permissão de seu superior local."

“Estas medidas continuam vigentes hoje, como medidas administrativas, mesmo depois da resposta do Dicastério para a Doutrina da Fé”, diz o comunicado.

Segundo a Associated Press, o padre Sosa "contradisse a declaração anterior dos jesuítas e disse que as restrições ao ministério de Rupnik na realidade datam dessa condenação (NdR: de 2019) e não das acusações de 2021".

O padre jesuíta Hans Zollner, membro da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores, pensa que os abusos do padre Marko Rupnik poderiam ser conhecidos dentro da Companhia de Jesus desde muito antes. Entrevistado pela agência Reuters, o padre Zollner disse que os jesuítas receberam uma denúncia de uma religiosa em 1998.

“Por uma questão de transparência, precisamos saber quem sabia algo, o que e quando, e o que aconteceu depois disso”, disse Zollner. “Poderíamos saber dos diferentes níveis de responsabilidade, o que poderia ter evitado tudo isso. Eu me pergunto, e pergunto à minha comunidade, os jesuítas: quem poderia saber? Quem soube? Quem percebeu que algo estava errado e não foi além?”

Para Zollner, "provavelmente nunca saberemos". Na maioria dos casos não há documentos".

O padre John Dardis, porta-voz da Companhia de Jesus, disse à Reuters que não encontrou "nada nos arquivos" sobre a denúncia de 1998.

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