"Se uma sociedade quer mudar, deve se mobilizar”, disse o padre Alberto Reyes Pías, da arquidiocese de Camagüey, diante das manifestações pacíficas convocadas para 15 de novembro em Cuba.

Plataformas cívicas cubanas convocaram a nova manifestação, que visa repetir os protestos que ocorreram em todo o país em 11 de julho, exigindo o fim da ditadura comunista instaurada por Fidel Castro há 62 anos.

As manifestações foram reprimidas com violência pelo regime atualmente liderado por Miguel Díaz-Canel.

Em artigo publicado em seu perfil no Facebook, o padre cubano, crítico ferrenho do regime, disse que "as ditaduras sabem que uma sociedade que quer mudar é perigosa”. 

“Por isso fazem o possível para manter a população fragmentada, dividida e focada em questões triviais, além de dificultar a sua sobrevivência, pois isso sempre ajuda o povo a se distrair”, escreveu.

O padre Alberto Reyes Pías refletiu em seu artigo sobre as palavras “ditadura” e “liberdade”.

“Como estou na fase filosófica, me pergunto como é possível que os povos que sofrem ditaduras continuem subjugados, incapazes de fazer valer seus direitos e de mudar o rumo para a liberdade”, disse.

"Outros que entraram no modo filosófico antes de mim, falaram da ‘dependência do caminho’. Segundo este critério, as decisões que temos de tomar são condicionadas pelas decisões que tomamos no passado, ou pelos acontecimentos que vivemos, mesmo quando as circunstâncias do passado mudaram e já não são relevantes”, continuou.

O padre Reyes Pías sugeriu pensar “em um cenário imaginário e fictício de um povo que, por ter sido submetido a um grupo ditatorial, nunca foi convocado para uma manifestação para exigir seus direitos. É normal que essas pessoas tenham medo de fazer algo que nunca fizeram? Eu não diria que é normal, mas que é o normal, o esperado, o lógico”.

“Além do mais, vamos imaginar que essas pessoas já começaram a se manifestar aqui ou ali e foram agredidas, reprimidas e sistematicamente punidas. O que essas pessoas terão em mente quando forem convocadas a sair às ruas? Ora, as imagens do que já aconteceu”, destacou.

“Por isso que o nome de um furacão que foi devastador nunca volta a ser colocado em outro furacão. A mente não pode renunciar a esse vício que tem de imaginar sempre o pior cenário”, disse.

No entanto, destacou o padre, "a história não é o destino, dizem também os filósofos anteriores a mim".

“A história é o resultado de nossas ações e a 'dependência do caminho' não impede que as sociedades mudem de atitude e façam a transição de um caminho para outro”.

“Isso sim, se uma sociedade quer fazer uma mudança, ela tem que se mobilizar. Ninguém nunca se embriagou lendo sobre vinho, e uma sociedade não muda, por mais que falemos sobre isso após o jantar”, disse.

O padre cubano destacou que “a boa notícia é que as sociedades podem se organizar e passar da ditadura à liberdade”.

Isso, disse, "não garante que depois sejam tomadas as melhores decisões ou que não haja erros nem equívocos, mas sim nos garante que ninguém decidirá por nós”.

“E que as pessoas vão aprendendo aos poucos a caminhar juntas na direção que decidiram como povo”, disse. “E nesse caminho diferente, será sempre mais fácil ensinar às novas gerações o que para outros foi uma descoberta lenta: que a liberdade emana de nós”.

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