Pe. Gabriel Romanelli é o pároco da única igreja católica na Faixa de Gaza, território palestino controlado pelo movimento islâmico do Hamas e onde o coronavírus COVID-19 não se espalhou muito, afirmou o sacerdote, graças ao bloqueio exercido pelo governo de Israel.

O bloqueio israelense "permitiu 'maior controle' sobre as entradas e favoreceu a 'contenção' da epidemia na Faixa de Gaza", disse Pe. Gabriel Romanelli, sacerdote argentino do Verbo Encarnado em Gaza, a Asia News, em 31 de março.

O bloqueio israelense existe há 13 anos na Faixa de Gaza, uma situação que afetou a vida de muitos refugiados palestinos, incluindo a minoria cristã, que enfrenta diariamente conflitos armados, violência e pobreza.

No entanto, por causa da pandemia mundial de COVID-19, o bloqueio teve “pela primeira vez um efeito positivo”, porque “permitiu maior controle sobre as entradas” das pessoas e, com isso, conseguiu conter a pandemia, afirmou Pe. Romanelli a Asia News.

"Aqui, a liberdade é limitada e pouco mudou", disse o sacerdote a Asia News. "Essa quarentena não nos pegou de surpresa, nem afetou o ânimo dos cidadãos, porque vivem com as restrições há anos", acrescentou.

Do mesmo modo, Pe. Romanelli disse que, embora a Igreja sempre aconselhe as autoridades, a respeito das normas “devemos admitir que as pessoas estão acostumadas a ficar em casa, de modo que não há casos particulares de depressão ou de vidas que foram alteradas” pelo isolamento social decretado por causa do coronavírus.

Por isso, informou que "a população 'não vive essa situação com ansiedade', pois está acostumada 'às restrições'" que hoje Israel estendeu a todos os países de fronteira, mas está "‘tomando consciência’ da gravidade da situação em outras partes, como na Itália ou na Espanha", sobretudo porque o vírus chegou a Gaza, apesar de "'não ter um porto ou um aeroporto', nem fronteiras com livre acesso, ou turismo e peregrinações religiosas".

O coronavírus "causou verdadeiros estragos" em outras partes do mundo, disse Pe. Romanelli, e em Gaza "novos casos também estão surgindo todos os dias. Há uma semana, eram dois; agora são 12”. Além disso, "as aulas foram suspensas, os horários de trabalho foram reduzidos e inclusive nossa paróquia", na medida do possível, favorece "a modalidade de trabalho remoto".

Segundo informa Asia News, as autoridades muçulmanas do Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007, proibiram encontros públicos, por isso fecharam as escolas, universidades, parques públicos e locais de culto, incluindo mesquitas.

Segundo o Hamas, os "dois milhões de habitantes" estão "estáveis" e "seguros" por estarem em quarentena.

No entanto, a situação precária do sistema de saúde "desperta temor" diante de uma possível crise, uma vez que só existem 70 leitos de terapia intensiva disponíveis e 62 respiradores. Por isso, "as ONGs e ativistas pelos direitos humanos exigem o fim das restrições que impedem a entrada de ajuda humanitária e de médicos", assinalou Asia News.

Neste tempo de crise em Gaza, também há notícias positivas: “dois jovens palestinos de Beit Lahia, no norte da Faixa, reconstruíram uma antiga fábrica e converteram a produção para fabricar materiais de proteção e, assim, conter a propagação do novo coronavírus”, assinalou Asia News. Isso também favoreceu "os funcionários que trabalham no local", pois "eles estavam desempregados há anos", acrescentou.

Por sua parte, Pe. Romanelli declarou que o administrador apostólico do Patriarcado Latino de Jerusalém, Dom Pierbattista Pizzaballa, e as autoridades religiosas na região "tomaram as medidas necessárias a tempo". Por exemplo, "há um mês, as atividades dos grupos paroquiais foram suspensas e, para as Missas, também há restrições", assinalou Asia News.

“Quem quiser ir à igreja pode rezar, mas é aconselhável ficar em casa. Visitamos doentes e idosos, e também começamos a visitar famílias e levar a Eucaristia. As celebrações são transmitidas online e no próximo domingo, Domingo de Ramos, depois da Missa, iremos pelas casas para distribuir os ramos de oliveira", disse Pe. Romanelli.

"Embora a situação seja difícil, tentamos manter o espírito", disse o pároco. "A providência não nos abandona, sabemos bem, muitas vezes temos que enfrentar a falta de comida, água potável ou eletricidade, mas ainda tentamos levar a vida", acrescentou.

Pe. Romanelli também disse que “o fato de não podermos frequentar a igreja não nos impede de rezar, mas acontece o contrário” e incentivou os afetados. "Isso é uma provação e vai passar, não devemos nos deixar vencer pelas circunstâncias e temos que manter a rotina ", concluiu.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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