O papa Francisco se pronunciou sobre a crise na diocese argentina de San Rafael, Argentina, cujo seminário de Santa María Madre de Dios foi fechado em novembro de 2020.

Em 5 de fevereiro de 2022, o papa Francisco aceitou a renúncia do bispo de San Rafael, Dom Eduardo María Taussig, depois de um ano e meio da polêmica causada pelo fechamento do seminário diocesano.

Em junho de 2020, anunciando o reinício do culto público suspenso por causa das medidas impostas por medo da pandemia de covid-19, dom Taussig determinou que a comunhão só poderia ser recebida em pé e na mão, e não na boca e de joelhos.

Além do incômodo causado entre leigos e sacerdotes da diocese de San Rafael, a disposição de Dom Taussig também teria causado tensões dentro do seminário.

Em 27 de julho daquele ano, o bispo de San Rafael anunciou que, por ordem da Santa Sé, o seminário Santa María Madre de Dios seria fechado até o final de 2020 e os seminaristas seriam transferidos para outras dioceses argentinas.

Nem o bispo nem a Santa Sé explicaram os motivos do fechamento, que ocorreu em 27 de novembro de 2020.

O seminário foi fundado em 25 de março de 1984 pelo bispo León Kruk. Desde a sua criação, destacou-se pela fidelidade à Igreja e pela correta formação que os futuros sacerdotes ali recebiam.

Dado o sucesso do seminário e a suspeita de outros bispos, houve pressão para enviar um visitante da Santa Sé que chegou de 11 a 14 de junho de 1986. O resultado foi a confirmação da obra pelo papa são João Paulo II.

Fiéis da diocese de San Rafael fizeram vários atos de protesto, contra o fechamento do seminário.

Agora, o papa Francisco respondeu a uma carta enviada a ele em 17 de abril de 2022 pelo padre Ramiro Sáenz, da paróquia Nossa Senhora do Rosário da Diocese de San Rafael, à qual a ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, teve acesso.

“Vivemos tempos muito difíceis e com muitos mal-entendidos. Somos um setor da Igreja de Cristo que lhe foi confiada. Amamos a Cristo, amamos a Santíssima Virgem, amamos a Igreja que o sr. preside”, diz o padre.

“Confessamos, fazemos missões, pregamos retiros, temos várias capelas para adoração perpétua, rezamos o Ofício Divino e o Rosário diariamente, meditamos, lemos o grandes mestres da vida espiritual, cuidamos dos doentes e dos mais necessitados, quase todos nós arriscamos nossas vidas cuidando de pacientes com covid”, continua a carta do padre Sáenz. “Não somos perfeitos, mas queremos trabalhar para Cristo e sua Igreja. Criar Santidade em nossa boa vontade”.

“Quase todos nós fomos formados sem fraturas com o Vaticano II. Tomamos Optatam totius e Presbyterorum ordinis literalmente. Essa rigidez é ruim? É ideologia? Não temos um lugar na Igreja hoje? Não há uma facezinha para nós no poliedro?”, pergunta o padre argentino ao papa Francisco.

Os documentos do Concílio Vaticano II que o padre cita têm a ver com a formação sacerdotal.

“Tínhamos uma diocese fértil em sacerdotes e obras apostólicas. Não a deixe estagnar. Hoje o mundo precisa de nós mais do que nunca”, conclui o sacerdote.

 

Resposta do Papa Francisco

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A ACI Prensa também teve acesso à resposta do papa Francisco, em carta datada de 9 de julho de 2022.

“Eu aprecio sua confiança e sua sinceridade”, escreveu o papa. “Eu sei que você está passando por um momento difícil, acredite, é difícil para mim também. Estou certo de que são muitos os que não param de trabalhar desinteressadamente pelo Povo de Deus, levando consolação e paz através dos sacramentos e da Palavra”.

“Na sua carta você me indica que eles interpretaram o Concílio Vaticano II literalmente e logo depois você me pergunta se a rigidez é ruim. Devo dizer-vos que uma coisa é andar na lei do Senhor, como o salmo nos convida a rezar (“Feliz o homem que anda na lei do Senhor”) e outra é a rigidez”, continua o papa.

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“Querido filho, a rigidez não é um dom de Deus, a mansidão sim, a bondade sim, a benevolência sim, o perdão sim, mas a rigidez, não! Porque, como você mesmo intui, a rigidez é o prelúdio da ideologia que tanto faz mal e que levou os rígidos do tempo de Jesus a condená-lo por colocar a misericórdia acima da lei”, escreve o papa Francisco.

O papa diz mais tarde: “claro que na Igreja de Jesus, que é a mesma ontem, hoje e sempre, todos temos um lugar, TODOS! Por isso a rigidez não é possível, porque ela fecha as portas para 'todos' e só as mantém entreabertas para os 'perfeitos'”.

“Tenho certeza de que em seu coração de bom pastor também há espaço para todos. Tomo suas palavras: 'Hoje o mundo precisa de nós mais do que nunca'. Conto com vocês”, conclui o Papa Francisco pedindo, como é costume em seus escritos e discursos, que rezem por ele.

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