Antes da reunião final do Caminho Sinodal Alemão no próximo mês, quatro participantes proeminentes – todas mulheres – anunciaram oficialmente que estavam deixando o controverso processo hoje (22).

 

As professoras de teologia Katharina Westhorstmann e Marianne Schlosser, a filósofa Hanna-Barbara Gerl-Falkovitz e a jornalista Dorothea Schmidt levantaram questões fundamentais sobre a direção e a condução do evento alemão hoje, informou a CNA Deutsch, agência em alemão do Grupo ACI.

 

O Caminho Sinodal estava “lançando dúvidas sobre as doutrinas e crenças católicas centrais”, disseram as mulheres em um comunicado publicado pelo jornal alemão Welt. Elas também acusaram os organizadores de ignorar as repetidas advertências e intervenções da Santa Sé.

 

Além disso, as delegadas que deixaram o caminho sinodal– três das quais são professoras universitárias e duas vencedoras do Prêmio Ratzinger– acusaram os organizadores do processo de usar táticas de pressão não compatíveis com a sinodalidade.

 

Em resposta a um pedido da CNA Deutsch por comentários, os diretores de comunicação do Caminho Sinodal, Britta Baas e Matthias Kopp, ofereceram uma breve declaração hoje: “O presidium do Caminho Sinodal lamentou a decisão”.

 

No entanto, em dezembro de 2022, um dos principais arquitetos do processo alemão admitiu abertamente que o Caminho Sinodal foi projetado para criar “pressão” na Igreja para mudar o ensinamento católico.

 

Thomas Sternberg, ex-presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK), disse que o controverso processo queria desde o início alcançar mudanças nos ensinamentos da Igreja sobre homossexualidade, ordenação de mulheres e outros tópicos.

 

O Caminho Sinodal Alemão está programado para terminar com uma reunião final em Frankfurt, de 9 a 11 de março.

 

Emboraosdelegados tenham votado a favor de várias demandas controversas – incluindo a ordenação de sacerdotisas–, reuniões anteriores também levaram a cenas tumultuadas, deixando claro que nem todos os participantes concordam com a agenda dos organizadores.

 

No entanto, as quatro mulheres disseram hoje que não podiam mais, em sã consciência, participar de um processo que “cada vez mais” separava a Igreja na Alemanha da Igreja universal.

 

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“As resoluções dos últimos três anos não apenas questionaram os fundamentos essenciais da teologia católica, da antropologia e da prática da Igreja, mas também os reformularam e, em alguns casos, os redefiniram completamente. Não podemos e não iremos compartilhar a responsabilidade por isso”, disseram.

 

Fixação por ordenação de mulheres?

 

A vencedora do Prêmio Ratzinger de 2018, Marianne Schlosser, já havia levantado preocupações, identificando uma "fixação por ordenação” de mulheres no processo.

 

Professora de teologia na Universidade de Viena, o papa Francisco nomeou Schlosser como membro da Comissão Teológica Internacional em 2014. Ela também foi nomeada membro da comissão de estudo que investiga o diaconato feminino em 2016.

 

Em entrevista à CNA Deutsch no ano passado, Schlosser apontou vários problemas com o processo, em particular as demandas pela ordenação de mulheres ao sacerdócio.

 

Ela alertou que o sacramento da ordenação não pode apenas ser confundido com posições hierárquicas de poder.

 

As preocupações da Santa Sé não foram levadas adiante

 

Em sua “nota de partida”, Westerhorstmann, Gerl-Falkovitz, Schmidt e Schlosser também disseram que as preocupações da Santa Sé sobre a introdução de um conselho sinodal permanentena Alemanha “não foram encaminhadas aos membros da assembleia sinodal nem levadas diretamente ao seu conhecimento”.

 

O papa Francisco e outros líderes da Igreja expressaram sérias preocupações sobre a ideia. Tal órgão funcionaria “como um órgão consultivo e de tomada de decisões sobre desenvolvimentos essenciais na Igreja e na sociedade”, segundo uma proposta do Caminho Sinodal.

 

Mais importante ainda, “tomaria decisões fundamentais de importância supradiocesana sobre planejamento pastoral, questões futuras e questões orçamentárias da Igreja que não são decididas em nível diocesano”.

 

No mês passado, em resposta aos alertas da Santa Sé sobre tal medida, o presidente da Conferência dos Bispos Alemães sugeriu que ele buscaria uma “opção alternativa”.

 

Em sua declaração, as quatro signatárias disseram ver “a necessidade de uma profunda renovação da Igreja, que também tem relevância estrutural”.

 

“Ao mesmo tempo, estamos convencidas de que apenas há uma renovação digna de ser chamada assim ao se preservar a comunhão eclesial no espaço e no tempo – e não ao romper com ela”.

 

Até o momento, nenhum bispo optou por sair do controverso processo. Em 2020, o bispo auxiliar de Colônia, Dominikus Schwaderlapp, renunciou à sua participação no fórum sinodal sobre moralidade sexual.

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