O Papa Francisco enviou uma mensagem em vídeo aos participantes da V Conferência Internacional do Vaticano “Unindo para curar”, organizada pelo Pontifício Conselho para a Cultura e pela Fundação Cura sobre a relação da mente, do corpo e da alma para a promoção da saúde, ocasião em que convidou os participantes à atitude de “assombro diante do ser humano, a quem não deixamos de descobrir".

Neste sentido, ele lembrou as palavras de Santo Agostinho em suas Confissões nas quais ele define o homem como um "abismo profundo": "Que abismo profundo é o homem".

Como este é um congresso que ocorre na área médica, em sua mensagem o Pontífice começa por expressar gratidão "àqueles que escolheram como compromisso pessoal e profissional o cuidado dos doentes e a ajuda dos mais necessitados".

"Neste momento, estamos todos gratos àqueles que trabalham incansavelmente para combater a pandemia, que não cessa de reclamar vítimas e, ao mesmo tempo, testa nosso senso de solidariedade e fraternidade", disse ele.

O programa da conferência é baseado em três conceitos: corpo, mente, alma. O Papa lembrou que "estas três categorias não correspondem à visão cristã 'clássica', cujo modelo mais conhecido é o da pessoa, entendida como uma unidade inseparável de corpo e alma, que, por sua vez, é dotada de compreensão e vontade".

No entanto, "esta visão não é exclusiva". São Paulo, por exemplo, fala de todo o seu ser, espírito, alma e corpo": é uma concepção tripartite adotada posteriormente por muitos Padres da Igreja e também por vários pensadores modernos".

Corpo

Sobre o primeiro conceito, "corpo", o Papa afirmou que "a camada biológica de nossa existência, que se expressa através de nossa corporeidade, constitui a dimensão mais imediata, mas não por essa razão a mais fácil de entender".

"Não somos apenas espírito; para cada um de nós, tudo começa com nosso corpo, mas não só: desde a concepção até a morte não temos simplesmente um corpo, mas somos um corpo, e a fé cristã nos diz que o seremos também na ressurreição", explicou ele.

Mente

Com relação ao termo "mente", ele observou que "hoje, há uma tendência a identificar este componente essencial com o cérebro e seus processos neurológicos".

Entretanto, "embora sublinhando a relevância vital do componente biológico e funcional do cérebro, este não é, entretanto, o elemento capaz de explicar todos os fenômenos que nos definem como humanos, muitos dos quais não são 'mensuráveis' e, portanto, vão além da materialidade corporal".

O Papa continuou: "De fato, o ser humano não pode possuir uma mente sem matéria cerebral; mas, ao mesmo tempo, sua mente não pode ser reduzida à mera materialidade de seu cérebro".

Neste sentido, ele destacou que "a questão da origem das faculdades humanas, tais como a sensibilidade moral da pessoa, a compaixão, a empatia, o amor à solidariedade que se traduz em gestos filantrópicos e dedicação abnegada aos outros, ou o senso estético, para não mencionar a busca do infinito e do transcendente, permanece sempre relevante".

Alma

O último conceito, "alma". O Papa afirmou que "na tradição judaico-cristã, assim como nas tradições greco-clássica e helenística, estas expressões humanas se referem à dimensão transcendente, identificada com o princípio imaterial de nosso ser, ou seja, com a alma".

"Mesmo que, com o passar do tempo, este termo tenha adotado significados diferentes em diferentes culturas e religiões, a idéia que herdamos da filosofia clássica atribui à alma o papel de princípio constitutivo que organiza todo o corpo e do qual se originam as qualidades intelectuais, afetivas e volitivas, incluindo a consciência moral".

De fato, "a Bíblia e, sobretudo, a reflexão filosófico-teológica com o conceito de 'alma' definiram a singularidade humana, a especificidade da pessoa irredutível a qualquer outra forma de ser vivo, incluindo sua abertura a uma dimensão sobrenatural e, portanto, a Deus".

"Esta abertura ao transcendente, a algo maior que a si mesmo, é constitutiva e atesta o valor infinito de cada pessoa humana. Podemos dizer, em linguagem comum, que é como uma janela aberta e orientada para um horizonte", enfatizou o Papa Francisco.

Participantes controversos

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A celebração desta Quinta Conferência Internacional do Vaticano não é isenta de controvérsia por causa de seus participantes.

Os nomes dos proeminentes, não remetem à esfera de líderes e intelectuais da Igreja Católica, ao contrário, assim como em edições anteriores a Conferência dá espaço para influenciadores cujo pensamento dista do catolicismo e da doutrina da Igreja

Entre os participantes controversos do Congresso que terminou neste sábado, 8, estiveram Anthony Fauci, o guru das medidas de combate à pandemia nos EUA; Deepak Chopra, emblemático propagador da corrente da nova-era e autor de livros de autoajuda e meditação; a ex-modelo Cindy Crawford, empresária do ramo da beleza; e alguns representantes de empresas farmacêuticas, incluindo Pfizer e Moderna, que fabricam vacinas contra a covid-19 testadas em linhagens celulares obtidas a partir de fetos humanos.

Foram oferecidas também palestras de Davide Feinberg, chefe do Google Health, um departamento da companhia norte-americana que está trabalhando no tema da introdução da inteligência artificial na área da saúde; Amy Abernethy, comissária adjunta da U.S. Food and Drug Administration, o FDA; e Chelsea Clinton, filha do ex-presidente dos EUA Bill Clinton e da ex-vice-presidente Hillary. Chelsea é uma defensora do direito ao aborto e afirmou em entrevista no dia 13 de setembro de 2018 à rádio SiriusXM que “não seria cristão” voltar a tornar ilegal esta prática nos Estados Unidos.

Além de Cindy Crawfort, algumas celebridades do mundo do entretenimento também falarão sobre temas do congresso.  Entre eles está Joe Perry, guitarrista da Aerosmith, o cantor Reneé Fleming e o bilionário Ray Dalio, que tem uma fundação para apoiar pesquisas sobre temas de saúde mental.

Vale destacar que Pontifício Conselho para a cultura foi instituído por João Paulo II em 1982 com o objetivo de “de promover os grandes objetivos que o Concílio Ecumênico Vaticano II propôs sobre as relações entre a Igreja e a cultura”.

João Paulo II, na carta que estabelece a criação do pontifício conselho, entretanto alertava: “Onde ideologias agnósticas, hostis à tradição cristã, ou mesmo declaradas ateístas, inspiram certos mestres do pensamento, é ainda maior a urgência que impele a Igreja a dialogar com as culturas, para que o homem de hoje descubra que Deus, longe de ser rival do homem, permite-lhe realizar-se plenamente, à sua imagem e semelhança”.

Por esta razão, o Papa polonês decidiu “criar e instituir um Conselho para a Cultura, capaz de dar a toda a Igreja um impulso comum no encontro sempre renovado da mensagem salvífica do Evangelho com a pluralidade das culturas”.

A única palestra que traz uma passagem do Evangelho, ou a temática cristã no V Congresso Internacioal “Unindo para curar” é a do Cardeal Ravasi, sobre o tema: “Construindo pontes entre Fé e Razão”.

A Dra. Robin Smith, Presidente das Fundações Cura e Stem for Life que organizam as conferências, não tem vínculo institucional com o Vaticano nem é membro ou consultora do Pontifício Conselho para a Cultura.

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