Dois padres da arquidiocese de Arequipa mediaram no fim de semana o resgate de um policial que tinha sido sequestrado em meio a violentos protestos no Peru.

No fim de semana, o Governo Regional de Arequipa entrou em contato com a arquidiocese local para solicitar a ajuda de um padre mediador, em meio a violentos protestos na cidade de La Joya.

O arcebispo de Arequipa, dom Javier del Río, que sempre esteve a par das negociações, propôs como mediadores o pároco de San José de la Joya, padre Andrés Márquez, e seu vigário paroquial, padre José Caselli.

O diretor de comunicações da arquidiocese de Arequipa, Sarko Medina, disse ontem (24) à ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI, que padre Caselli já tinha mediado um protesto anterior em 2015, quando opositores de um projeto de mineração enfrentaram a polícia local.

O resgate

Medina explicou que no domingo (22), os padres conseguiram que os manifestantes libertassem o policial que mantinham sob custódia e as autoridades libertaram cinco detidos.

Em declarações a Exitosa, padre Caselli, de 50 anos, disse que o seu trabalho de mediação consistia em “incentivar a confiança, porque ninguém confiava em ninguém”.

“Naquele momento, o que estava em jogo era a liberdade das pessoas”, disse o padre. "A Igreja reconhece o direito ao protesto justo, mas deve ser pacífico", acrescentou.

“Gostaria de pedir a todos que tenham muito cuidado com as informações nas redes sociais. De fato, há falsas acusações contra a Igreja, sem o aval de ninguém, mas o povo acredita”, disse o sacerdote.

"Na histeria e no desespero, as pessoas fazem e dizem coisas que no fundo não querem", alertou.

O resgate dos padres ocorreu poucos dias depois que uma multidão de manifestantes queimou vivo o policial José Luis Soncco Quispe, de 29 anos, assassinado em 10 de janeiro em Puno.

Protestos no Peru

Os protestos violentos no Peru começaram após a prisão do ex-presidente Pedro Castillo, que fracassou em sua tentativa de golpe de Estados, dissolvendo o Congresso, em 7 de dezembro de 2022.

Os protestos, que deixaram pelo menos 54 mortos, incluíram bloqueios de estradas, tentativas de tomar pelo menos três aeroportos, ataques a instalações policiais e do governo e a invasão de manifestantes na Universidad Nacional Mayor de San Marcos, que foram posteriormente retirados pelas autoridades.

A violência se intensificou nos últimos dias, no marco da chamada “tomada de Lima” em 19 de janeiro, que mobilizou milhares de manifestantes de várias regiões do país para a capital peruana.

Não há um grupo específico que afirma estar organizando os protestos, mas entre os manifestantes há grupos estudantis, comunidades indígenas e organizações radicais de esquerda de várias partes do país.

Segundo a agência oficial de notícias ANDINA, em 13 de janeiro, o porta-voz oficial da Polícia Nacional do Peru (PNP) e chefe da Direção de Investigação Criminal, general Óscar Arriola, disse que membros do grupo terrorista Sendero Luminoso também estavam entre os manifestantes.

As demandas dos manifestantes são diversas, mas podem ser agrupadas em três: o fechamento do Congresso, a convocação de uma Assembleia Constituinte para mudar a Constituição Política do Peru que data de 1993 e é rejeitada por setores da esquerda radical, e a renúncia de Dina Boluarte, que muitos dos manifestantes consideram uma " golpista" por agir constitucionalmente para substituir Pedro Castillo.

Entre outros graves problemas, os protestos geraram prejuízos econômicos milionários em diversos setores como o turismo e a agricultura, com toneladas de alimentos apodrecendo devido aos bloqueios.

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