O padre Alberto Reyes Pías pediu a conversão dos civis que integram as “Brigadas de Resposta Rápida” de Cuba e que fazem o “trabalho sujo” contra os opositores da ditadura comunista que está no poder desde 1959.

As “Brigadas de Resposta Rápida” são grupos de civis que se colocam a serviço da ditadura cubana para atuar de forma violenta contra os dissidentes e os que criticam o regime. As brigadas foram especialmente violentas nas manifestações de 11 de julho deste ano, as maiores da história do regime comunista cubano.

Num artigo intitulado “Brigadas de violência rápida”, o padre Reyes Pías, da arquidiocese de Camagüey, escreveu que “tudo na vida tem um preço. Ser livre tem um preço, e ser escravo também. Servir ao poder e fazer o 'trabalho sujo' tem um preço, assim como ficar de pé e não permitir que outros usem você para agredir".

“Desde que faço uso da razão escutei que vivo em um sistema social desenhado não só para servir o povo, mas para dar a esse povo o melhor dos presentes e o melhor dos futuros”, escreveu Reyas Pías. “Durante anos acreditamos, ou fingimos acreditar, enquanto víamos como melhorava o presente de muitos povos, vizinhos e não vizinhos, e nós parecíamos retroceder no tempo, enquanto entendíamos que 'o povo' não se referia a toda a população, mas àquela parte que continuou aplaudindo e aguentando. A outra parte, a que protestava, a que reclamava, a que emigrava, sempre foi sistematicamente ignorada, desprestigiada, excluída, reprimida”.

Para o padre, “foi nesta vasta metodologia destinada a privar muitos de sua pertença ao ‘povo’, que surgiu a ideia diabólica das chamadas ‘Brigadas de Resposta Rápida’.

“Apresentadas com a mítica e falsa propaganda do ‘povo inflamado que defende a sua Revolução’, cruzou um limite que nunca deveria ser cruzado e que não deve ser cruzado por nenhuma sociedade: enfrentar irmãos contra irmãos, atacar os vizinhos, os seus, o seu próprio povo”.

“Hoje, quando muita gente nascida nesta terra e parte deste povo levanta a voz para pedir mudanças através do diálogo e da compreensão pacífica, eles voltam ao pior do ser humano: a violência contra o seu próprio irmão”.

 “Mas quem convoca à violência?”, perguntou o padre. “Rostos conhecidos, mas anônimos, pessoas que nunca aparecerão em uma tela dizendo nem mesmo frases tão ambíguas como: ‘Defenda a Revolução!’”.

“Quando termos como bater, agredir, reprimir são subentendidos, podemos recorrer aos eufemismos da linguagem. Mas, nada disso será dito por quem tem autoridade para dizê-lo, porque isso se chama 'trabalho sujo', e o poder real toma muito cuidado para não deixar rastros”.

Padre Reyes Pías disse que "no final" aqueles que colocam seus rostos como repressores e vendem "sua alma ao diabo afundando-se no mal impensado" são "os de baixo, a massa descartável, os idiotas úteis, os dispensáveis, aqueles para os quais, se a tortilha virar, ninguém vai levantar um dedo para defendê-los”.

“Ou talvez, pessoas que não querem fazer isso, mas que sentem um medo atroz de se levantar e dizer: 'Eu não vou fazer isso!', ou pessoas que estão tão comprometidas com o 'sistema' que se debatem no que a psicologia chamou de 'conflito de lealdade'”, disse.

“Eu entendo, entendo os medos, entendo os conflitos de lealdades, entendo a força da pressão exercida a partir das posições de poder”, continuou o padre cubano. “Mas acredito firmemente na liberdade intrínseca do ser humano, acredito na capacidade humana de escolher a luz, acredito na força do bem na consciência que permite lançar o bastão ao chão e dizer: 'Eu' não vou fazer isso!'”.

"E a hora de tomar essa decisão é agora, não na frente de um povo gritando 'liberdade!'".

O padre disse que “quando se está diante de um povo que se levantou para reivindicar seus direitos, os medos despertam e os alarmes disparam, alimentados pelo próprio instinto inato de sobrevivência. E quando isso acontece, a alma é absorvida pelo túnel escuro da violência”.

“Sair para bater em seus irmãos tem um preço; dizer 'não' ou, pelo menos, ficar em casa também o tem”.

“Todos teremos que pagar pelo que escolhermos, mas isso não se pensa nem se decide no meio de uma multidão. Este é o momento, o hoje, o agora, o presente ainda sereno é o momento de reconhecer que a sua opção política, seja ela qual for, é válida e tem o direito de a defender”, afirmou.

Para o padre Reyes Pías “o que não é válido, o que é inadmissível, o que não é um direito, é que para defender suas opções você escolha a violência e levante a mão armada contra o seu irmão”.

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