O papa Francisco recebeu ontem (27) no Vaticano um grupo de seminaristas da Calábria, Itália, a quem encorajou a não perder o sentido sacerdotal e a ser “pastores com o mesmo coração compassivo e misericordioso de Cristo”.

Em seu discurso, o papa disse que o fundamento de seu ministério é "permanecer com o Senhor", pois, do contrário, "buscaremos a nós mesmos acima de tudo e, mesmo que nos dediquemos a coisas aparentemente boas, será para preencher o vazio em nós”.

Francisco condenou o "carreirismo", que definiu como uma praga, "é uma das formas mais feias de mundanismo que nós clérigos podemos ter".

Diante da tentação de buscar a “receita fácil”, o papa Francisco disse que “Jesus começa com uma pergunta que nos convida a olhar para dentro, para verificar as razões do nosso caminho”.

“O que vocês estão procurando?”, perguntou o papa aos seminaristas italianos. “Qual é o desejo que os levou a sair ao encontro do Senhor e a segui-lo no caminho do sacerdócio? O que vocês procuram no seminário? E o que procuram no sacerdócio?”

“Devemos nos perguntar, porque às vezes acontece que por trás das aparências de religiosidade e até de amor à Igreja, na verdade, buscamos a glória humana e o bem-estar pessoal”, disse o papa. “É ruim quando se perde o sentido sacerdotal. Talvez busquemos o ministério sacerdotal como um refúgio atrás do qual nos esconder ou um papel com o qual ganhar prestígio, em vez de querer ser pastores com o mesmo coração compassivo e misericordioso de Cristo”.

Uma verdade sem “máscaras nem maquiagem”

Francisco disse que a etapa da formação no seminário “é o tempo de ser verdadeiros conosco, deixando cair as máscaras, artimanhas e aparências”.

“Neste processo de discernimento, deixem que o Senhor trabalhe em vocês, que os fará pastores segundo o seu coração porque o contrário é usar máscara, maquiar-se, aparecer é coisa de funcionários, não de pastores do povo, mas de clérigos de Estado”, disse o papa Francisco.

Em seguida, o papa dirigiu-se aos bispos e perguntou-lhes o que desejam para o futuro de sua terra e que tipo de Igreja sonham.

“Esse discernimento é mais necessário hoje do que nunca, porque no tempo em que um certo cristianismo do passado se desvaneceu, abriu-se diante de nós um novo tempo eclesial, que exigiu e ainda exige uma reflexão também sobre a figura e o ministério do sacerdote”, disse.

Para o papa, o padre não pode mais ser pensado “como um pastor solitário, fechado no recinto paroquial”.

“É preciso unir forças e partilhar ideias, para enfrentar alguns desafios pastorais que já são transversais a todas as Igrejas diocesanas de uma região”, disse.

Francisco exortou os bispos a “canalizar todas as energias humanas, espirituais e teológicas num único seminário. Digo único. Podem ser dois, mas somados: orientar para a unidade, com todas as variáveis ​​que possam existir”.

Neste sentido, disse que “não se trata de uma escolha logística ou meramente numérica, mas destinada a amadurecer juntos uma visão eclesial e um horizonte de vida sacerdotal, em vez de dispersar forças multiplicando os lugares de formação e mantendo pequenas realidades com apenas alguns seminaristas”.

Segundo o papa, não é fácil fazer este discernimento, “mas deve ser feito e decisões têm que ser tomadas sobre isso”.

“Este processo está começando em muitas partes do mundo e é natural que haja alguma resistência e algum esforço em dar este passo. Mas recordemos que o apego à nossa história e aos lugares significativos da nossa tradição não deve impedir a novidade do Espírito de traçar caminhos a seguir, sobretudo quando o caminho da Igreja o exige”, disse ele

“Olhos abertos e corações atentos”

Durante o encontro com os seminaristas da Calábria, o papa Francisco disse que “precisamos de olhos abertos e coração atento para captar os sinais dos tempos e olhar adiante”.

Para isso, recomendou aos seminaristas e bispos discernir “o que o Espírito Santo quer para suas Igrejas”.

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O papa Francisco falou sobre o papel dos bispos eméritos e disse que eles são chamados a servir “com gratidão à Igreja de maneira compatível com sua condição”. “Não é fácil pedir a renúncia; todos devem fazer um esforço para pedi-la”, disse o papa Francisco, e disse que “é uma graça do Espírito aprender a se despedir”.

Por fim, convidou os seminaristas a seguirem um estilo de formação “sempre vivo e que não dependa do exterior, mas da força do Espírito Santo”. “E sobre isso tomem decisões com coragem, com coragem. O Senhor sempre estará com você. Juntos, em fraternidade. E sigam em frente com confiança e alegria!” concluiu o papa Francisco.

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