Nos últimos três anos, mais de dois milhões de venezuelanos abandonaram o país, segundo dados de ACNUR e outras organizações internacionais, devido à grave crise econômica, política e social que atravessa.

O Bispo de Trujillo (Venezuela), Dom Oswaldo Azuaje, foi entrevistado no programa ‘Perseguidos Pero No olvidados’ (Perseguidos mas não esquecidos), que a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre tem na rede televisiva ‘Trece’, na Espanha.

Dom Azuaje está na Espanha depois de participar da visita ad limina que os bispos da Venezuela fizeram ao Papa Francisco recentemente, quando o Santo Padre os incentivou a “manter-se firmes e próximos” ao povo.

“Também nos convidou a colocar em prática uma realidade: a resistência. Nunca tinha ouvido assim este conceito que não tem nada a ver com uma linguagem política, nem populista, nem militar. Convidou-nos a resistir firmes na fé, na esperança e na caridade”, assegurou o Prelado.

A Diocese de Trujillo é uma das “circunscrições mais pobres, economicamente falando. Encontra-se na região andina, é uma área de montanha, predominantemente rural”, mas conta com uma “riqueza humana e cultural muito grande”.

“Sofremos, como no resto do país, a falta de alimentos e medicamentos. Muitas pessoas foram embora para outros países e a economia está muito ressentida. Nos povoados, nota-se mais a falta de acesso a alimentos do que na capital ou nas cidades importantes do país”, assegurou Dom Azuaje.

O Prelado explicou que, recentemente, visitou a fronteira entre Venezuela e Colômbia, no estado de Táchira. “Da Diocese de San Cristóbal, no lado venezuelano, e na Diocese de Cúcuta, no lado colombiano, estão fazendo um trabalho enorme. Eu me coloquei entre as pessoas que cruzam para a Colômbia e é impressionante, milhares fogem por dia”, assegurou.

Também indicou que, atualmente, “a Igreja alimenta diariamente entre 5 mil e 8 mil pessoas, isso não são cifras exatas e são apenas os atendidos pela Igreja”.

Também há quem cruze a fronteira somente para comprar produtos que não há na Venezuela e que podem encontrar na Colômbia.

Entre as principais consequências do êxodo venezuelano, o Bispo destaca “a falta de jovens e pessoas de meia idade”.

“O êxodo é forçoso, porque há uma grande falta de alimentos e medicamentos, as pessoas precisam e não os encontram no país nem têm como poder compra-los devido à grande desvalorização da moeda”, sublinha.

Diante da grave situação que o país enfrenta, a Igreja Católica se organizou no que chamam “panelas comunitárias”, onde, graças à caridade e á generosidade dos fiéis, cozinham diariamente para alimentar os que necessitam.

“Há desnutrição nas crianças e também nos idosos. Há alguns dias, minha irmã, que cuida da minha mãe, me telefonou para dizer que não encontrava frango, nem ovos, nem carne, que não sabia aonde ir, porque não encontrava nenhuma loja onde pudesse comprar. As pessoas gastam muito tempo para encher a cesta, se é que conseguem. Vivem em uma via sacra diária em busca de comida”, assegurou Dom Azuaje.

Por isso, o Prelado agradeceu “a ajuda do povo venezuelano”, daqueles “que compartilharam conosco e seguem compartilhando o pouco que têm”.

Apesar disso, sublinhou que, devido à escassez atual, devem recorrer à ajuda de fora, “porque se não seria impossível”.

Por isso, agradeceu “à Igreja na Europa, sobretudo na Alemanha, Itália e Espanha, que está nos sustentando para apoiar nossos sacerdotes. Com os estipêndios da Missa, eles podem se manter de forma mais ou menos digna. Mas, além disso, essa ajuda nos mantém unidos em oração, para não perder a esperança”.

“Peço ao Senhor santos sacerdotes, mas também que esses sacerdotes possam ter um sustento digno para servir ao povo de Deus e responder à sua vocação com mais força”, apontou Dom Azuaje.

Também agradeceu pela colaboração de Ajuda à Igreja que Sofre, porque, segundo pontuou, por sua ajuda, “nossas comunidades não vão declinar em sua missão de consolar e ser luz em meio a tanta escuridão na Venezuela. A falta de alimentos, medicamentos, água, luz, produz muito estresse, contra o que temos que lutar”.

Além disso, pediu orações pelos bispos venezuelanos, para que não caiam na tentação “de jogar a toalha”.

“Nossa missão é sustentar o povo, através dos sacerdotes, por isso, continuem nos apoiando para proporcionar um digno sustento a eles, para que, assim, possamos manter as panelas solidárias, a distribuição de medicamentos e distribuir o restante da ajuda social”, assegurou Dom Azuaje.

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