Há 11 anos, a Missão Belém realiza um trabalho que atende 2,2 mil crianças no Haiti. Mesmo com o aumento da violência e da instabilidade política por causa do assassinato do presidente Jovenel Moïse na quarta-feira, o fundador do projeto, padre Gianpietro Carraro, disse à ACI Digital que não pretendem deixar o país.

A Missão Belém nasceu em 2005 e foi aprovada na arquidiocese de São Paulo, em 2010, e realiza um trabalho voltado aos mais pobres. Após o terremoto que atingiu o Haiti em 2010, a missão abriu uma casa em Porto Príncipe, na favela Warf Jeremie. Trata-se, segundo a instituição, de uma “área de extrema miséria que surge à beira do oceano, em cima de um enorme lixão”.

Na sua unidade no Haiti, a Missão Belém atende atualmente cerca de 2,2 crianças e adolescentes de 3 meses a 18 anos. “Além da escola, das missas dominicais, estamos construindo um hospital, mas tivemos que parar esta obra por falta de matéria-prima”, disse o padre Gianpietro e afirmou que pretendem retomar logo esta obra.

Crianças atendidas pela Missão Belém no Haiti. Foto: Captura de vídeo / Missão Belém

“Ao lançar um olhar histórico sobre o Haiti, vemos que o país vive anos de instabilidade política, de pobreza e com a atuação de bandidos, que se consideram a lei”, disse o padre. Nos últimos anos, o Haiti viu aumentar a violência, com a luta de gangues contra a polícia por controle das ruas, e uma onda de sequestros. “Ainda não existe uma grande força capaz de garantir a paz no país”, disse.

O presidente Jovenel Moïse, de 53 anos, foi morto na madrugada de 7 de julho, em sua casa, em Porto Príncipe. Ao informar sobre o assassinato, o primeiro-ministro interino, Claude Joseph, disse que “estrangeiros que falavam inglês e espanhol” atacaram a residência presidencial.

Na noite de quarta-feira, o porta-voz da polícia do Haiti, Léon Charles, disse que quatro suspeitos de participar do assassinato do presidente foram mortos e outro dois foram presos.

O Haiti enfrenta uma crise política. Moïse tinha dissolvido o Parlamento e governava por decreto desde janeiro de 2020, já que não houve eleições nos últimos anos. Ele também queria promover uma reforma constitucional.

“Diante dessa situação, a posição da Igreja é sempre ao lado dos mais pobres e sofredores, com desaprovação da violência. A conferência episcopal e os bispos já fizeram fortes pronunciamentos condenando essa situação”, disse. Por isso, “nós da Missão Belém vamos continuar empenhando o melhor de nossas forças para atender a população no Haiti”, mesmo que a situação piore após o assassinato de Moïse.

Segundo ele, ontem, após a notícia do assassinato de Jovenel Moïse, “vivemos na Missão Belém do Haiti um dia de oração” e não foi possível abrir a unidade, porque “não estava circulando nada em Porto Príncipe”.

Neste momento, declarou, “a oração é a força mais poderosa, porque o que se vê no país é que tudo é possível. Então, precisamos rezar para que as forças políticas entrem em um acordo para evitar uma matança”.

O padre Gianpietro afirmou que as pessoas podem ajudar os haitianos através dos diferentes grupos que atuam no país, seja por meio do voluntariado ou pela ajuda econômica. No caso da Missão Belém, promovem uma adoção à distância, em que cada criança é apadrinhada por duas pessoas.

Pêsames do papa Francisco

O papa Francisco expressou seus pêsames pelo assassinato de Jovenel Moïse. Em uma carta assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, afirmou que se tratou de um “terrível assassinato” e transmitiu “suas condolências ao povo haitiano” e à esposa de Moïse, Martine, “gravemente ferida”, cuja vida “recomenda a Deus”.

Francisco também “expressa sua tristeza e condena todas as formas de violência como meio de resolver crises e conflitos”. Além disso, “deseja ao querido povo haitiano um futuro de harmonia fraterna, solidariedade e prosperidade" e "invoca abundância de bênçãos divinas sobre o Haiti e todos os seus habitantes”.

Por sua vez, a Conferência Episcopal do Haiti (CEH) afirmou que o assassinato do presidente é “inaceitável e repugnante”. “Este triste acontecimento marca um lamentável ponto de inflexão na nossa história como povo, infelizmente ditada pela escolha deliberada da violência feita há algum tempo por muitos setores da população como método de sobrevivência e resolução de disputas”, disse em uma nota.

“A violência só pode gerar violência e levar ao ódio. Nunca ajudará o nosso país a sair deste impasse político que só pode ser resolvido através do diálogo, do consenso, do espírito de compromisso pelos melhores interesses da nação, pelo bem comum do país”, afirmou a CEH.

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