"A vida nos premiou com um anjo", é parte da comovente carta que o irmão de uma jovem com paralisia cerebral dirigiu à atriz Catherine Fulop, a qual disse em um programa de televisão que não teria um bebê diagnosticado com algum tipo de deficiência.

Quando explicava a sua posição a favor do aborto no programa "Debo decir" (Devo dizer), de América TV, a atriz contou que quando tinha 40 anos decidiu ter um terceiro filho com o seu esposo, mas o médico advertiu que o bebê poderia ter alguma "doença", o que os fez mudar sua decisão imediatamente.

Se tivesse engravidado e o bebê “viesse com problemas, eu não o teria. Quem assume esse problema? Por uns anos eu até poderia contar com minha família, porque o Estado não te dá nada. Si eu vivesse na Suíça, teria todas as criancinhas com problemas que você quiser, mas eu não moro na Suíça, moro neste país”, expressou a venezuelana residente na Argentina.

No programa de domingo, 12 de agosto, também estava o ex-senador Luis Juez, cuja filha de 17 anos, Milagros, nasceu com hipoxia cerebral. Depois das palavras de Fulop, Juez respondeu comovido que "nós acreditamos que tínhamos um problema, mas temos um anjo".

A isso se somou a longa carta pública que Martín Juez, um dos filhos do ex-senador Juez, dirigiu à atriz em nome da sua irmã "Mily", e que se tornou viral nas redes sociais.

"Estimada Sra. Fulop, com certeza pessoalmente eu não poderia dizer-te, porque minhas habilidades não me permitem, mas o meu irmão me ajuda a transmitir as minhas emoções e sentimentos a respeito do que ontem você disse e eu fiquei pensando... Eu realmente sou um problema para a minha família? As milhares e milhares de crianças que nascem com algum tipo de deficiência são um problema?", começa a carta.

"Eu não acredito nisso e a minha família me expressa, sempre que chegam em casa e olham para mim com um sorriso, me dão um beijo, me abraçam e, até mesmo quando estão com pressa, têm tempo para brincar comigo, além disso, sempre quando eles têm um problema, me chamam, me abraçam e me procuram", sublinha.

Para esta família, a atriz se equivocou ao “cometer o terrível erro do fanatismo, esse erro que não lhe deixa ver além do que pensa, porque está claro aqui que a discussão não é a interrupção voluntária da gravidez, a questão problemática é o que a senhora disse das crianças com capacidades diferentes, que por ser ‘um problema’ são motivo suficiente para abortar e deixa de lado”

“Também a escutei dizer que o Estado não oferece recursos necessários para ter um filho com deficiência e nisso tem razão, precisamos de certos medicamentos, tratamentos, fisioterapia etc, que demandam um alto valor, mas sabe de uma coisa: estou seguro de que nenhum Estado nem dinheiro no mundo pode te dar o recurso mais importante, que é o amor de uma família, esse recurso que vem carregado de solidariedade, respeito, cuidados, desinteresse, fraternidade e tudo o que isso implica. Ou se não pensa como vivem aquelas famílias humildes com crianças deficientes... A senhora pensa que para esses pais elas são um problema? Não senhora, equivocou-se ou ao menos é o que penso”, expressa na missiva.

Na carta, o irmão de “Mily” também aproveitou para compartilhar a experiência de viver com sua irmã com deficiência.

“É tudo tão bonito, é saber que sempre vai haver alguém mais importante, é saber que essa pessoa luta todos os dias com algo que não escolheu, mas que coube a ela, e ainda assim tem um sorriso no rosto, é saber valorizar as coisas importantes que a vida realmente tem, é saber perceber que a vida nos premiou com um anjo, que nos ensina todos os dias algo novo”.

Martín Juez disse que escreveu a carta “com uma mistura de indignação e impotência, porque pedi ao meu pai que a fizesse, porque a ele, com certeza, escutariam, e tive que me conformar com um: ‘fique tranquilo filho, não posso fazer nada, se não, depois dizem que exponho a Mily’, e a verdade é ele que tem razão. Mas, sabe que me dei conta de que minha irmãzinha não é um problema, o problema é como a senhora pensa”.

“Eu fico com a bênção de ter nosso Anjo chamado Mily conosco”, conclui a carta.

Um dia após ser publicada, a carta foi compartilhada 54 mil vezes, obteve quase 40 mil “likes”, além de cerca de 11 mil comentários, após o que o jovem publicou uma foto de sua irmã sorridente na qual agradeceu o apoio recebido.

Por sua parte, Catherine Fulop pediu desculpas através de sua conta de Facebook e afirmou que o que disse não representava seus pensamentos. “Sou a favor da legalização do aborto, mas o que disse não é o que minhas ações de toda a vida representam. Peço sinceras desculpas à audiência e às pessoas que machuquei com minhas palavras”, publicou.

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