O papa Francisco recebeu 15 cartas de jovens infratores do Maranhão ao final da audiência geral de quarta-feira (15). O responsável por entregá-las foi o missionário da Imaculada Padre Kolbe, padre Hernanni Pereira. Segundo ele, ao receber as cartas o papa bateu “no coração dizendo: ‘estão aqui no meu coração, todas as realidades tocam meu coração’”.

As cartas foram escritas por jovens internos do Centro Socioeducativo de Internação Provisória Canaã, da Fundação da Criança e do Adolescente (Funac), em São Luís (MA).

Padre Hernanni Pereira contou a ACI Digital que a ideia dos jovens internos escreverem cartas ao papa Francisco surgiu na semana do Natal, nos dias 23 e 24 de dezembro de 2022, quando ele e alguns leigos foram passar o Natal “com as famílias dos internos e os internos”. Ele disse que antes de ir visitá-los, pensou: “o que esses jovens vão levar, o que poderemos levar à manjedoura de Jesus?”.

“E veio ao meu coração, em um momento de oração, [a ideia] de pedir a eles que pudessem escrever uma carta para levar para a manjedoura, para levar a Jesus. E eu vinha para Roma, para uns compromissos. Então, pensei: ‘escrevam para Jesus, escrevam ao papa’. Mas, eu não tinha nenhuma audiência com o papa, nenhum encontro. Foi aí que eles escreveram a próprio punho as cartas. E eu escrevi ao papa através da Prefeitura da Casa Pontifícia, contando e dizendo dessas cartas”, contou padre Hernanni a ACI Digital.

Segundo o padre, as cartas dos jovens ao papa Francisco “dizem muito do momento que eles estão vivendo, do arrependimento, pedido de uma nova chance, pedido de perdão a Deus e de uma nova chance para serem melhores, para continuar a vida”.

“E vamos lutar juntos para conquistar e acreditar que eles podem mudar, pedirem perdão. Se eles tiverem oportunidade, eles mudarão. Esse é o meu desejo, o meu sonho e é a minha oração”, disse.

Padre Hernanni também contou que foram entregues mais duas cartas ao papa de duas mães, “uma que perdeu o filho pelas drogas e a outra que tem o filho preso”.

“Entregar para o papa essas cartas desses jovens e dessas mães é poder dizer: ‘Aqui, Santo Padre, aqui estão aqueles que muitas vezes são marginalizados, que estão na periferia existencial, mas estão aqui, estamos fazendo algo por eles”.

O Centro Socioeducativo Canaã fica no território da paróquia são Maximiliano Kolbe, em São Luís (MA). Padre Hernanni foi pároco dessa paróquia “por seis anos”. Recentemente, ele foi transferido para uma nova missão na diocese de Uberlândia (MG).

“Uma vez por mês”, o sacerdote assistia espiritual e socialmente “aos jovens infratores do local” e “suas respectivas famílias”. Ele contou que “levava a imagem de Nossa Senhora” e várias vezes foi “com o Santíssimo Sacramento”, “tocava na cabeça deles, rezava por eles, chorava com eles”. Junto com o padre, “uma violonista” tocava e cantava para os adolescentes.

Padre Hernanni enfatizou que esse trabalho “não é fácil” e que “os presos estão invisíveis”.

O sacerdote disse entender porque “muitas pessoas não queiram nem chegar perto”, pois ele passou por uma experiência de dor e perda quando seu sobrinho de 19 anos foi assassinado. “Quando você sente, experimenta na sua família a violência, quando tiram de você um ente querido, uma pessoa que você ama, em um primeiro momento é de revolta mesmo, de crise. Mas nós precisamos ir além como Jesus fez”, declarou.

“Eu ressignifiquei a minha dor de perder um sobrinho de 19 anos. E pedi a Jesus que eu pudesse ajudar. Ao menos um que for salvo, que pudesse fazer festa no céu. E toda vez que eu vou ao presídio dois sentimentos me acompanham. Um é como se Jesus dissesse para mim: ‘Se você tivesse chegado antes na vida desses jovens, desses adolescentes, eles não estariam aqui’. E o outro sentimento é o de consolo: ‘Ainda bem que você veio. Ainda bem que você Me trouxe’”.

O padre também disse que “nunca” perguntou “qual foi o delito que eles fizeram, nunca quis olhar na lista dos delitos”. Percebia que “cada um deles tem uma história, tem uma mãe, tem um pai, tem uma família”. Segundo ele, quando os jovens “choravam e queriam voltar para a mãe, que queriam um abraço da mãe”, isso o “comovia muito”.

Padre Hernanni contou que, muitas vezes, as mães dos jovens infratores lhes diziam: “Padre, eu gerei um filho bom, eu não gerei um monstro, eu não gerei um assassino, eu gerei um filho bom. Eu tenho esperança que ele vai mudar”.

“Aquilo me comovia muito. A mãe que estava ali com o filho, que acredita na mudança dele, porque ela gerou. Eram crianças boas, por que elas foram para a criminalidade? Porque nós não chegamos antes, porque nós não colocamos a catequese, porque nós não levamos para Deus. Nós levamos para tantos lugares, mas quando é para as coisas de Deus, nós sempre deixamos para depois”, disse.

Para o missionário, “as visitas” aos menores infratores o ajudaram em seu “processo de conversão”. “Eu saia de lá diferente, eu saia de lá com vontade de ser melhor e de poder levar Jesus, levar o Evangelho, a espiritualidade com suavidade, não pode ser uma coisa pesada”, contou.

Disse ainda destacou que fará de tudo “para ajudar, desde as crianças, a conhecer Jesus, para que o mundo não chegue com os atrativos e as leve embora”. 

Por fim, padre Hernanni disse que, “com certeza”, irá “trabalhar nos presídios e hospitais” em sua nova missão em Uberlândia (MG).

 

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