Comentando os protestos contra as regras de vacinação da italia, o Secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, disse que a mensagem da Igreja é clara e que a vacinação é um “ato de amor”.

O comentário foi feito em entrevista a Vatican News, o serviço de comunicação da Santa Sé. O cardeal falou sobre as demonstrações “No Vax”, dos que se opõem às vacinas contra covid-19, e “No Pass”, dos que se opõem à exigência do governo italiano de que todos os trabalhadores tenham o passaporte verde provando que o portador foi vacinado, obtido um resultado negativo em um teste nas últimas 48 horas, ou ter tido covid-19 recentemente.

Uma pergunta a Parolin tratou especificamente do padre Floriano Pellegrini, que abençoou uma multidão de mais de mil pessoas antes de uma marcha “No Vax” em Verona no sábado, 27 de novembro.

“Parece-me que a mensagem é clara e bem conhecida, não há necessidade de repeti-la, é o que o santo padre sempre disse”, disse Parolin, que participava de um evento sobre doutrina social da Igreja na mesma cidade em que a marcha ocorreu.

“Refiro-me a suas declarações, suas admoestações, para experimentar a realidade e o tema da vacina com um sentido de responsabilidade.”

Ele continuou: “Eu acredito que é o seguinte: uma liberdade responsável. Porque muitos pedem liberdade, mas liberdade sem responsabilidade é vazia, de fato ela se torna escravidão”.

“Portanto, responsabilidade em relação a si mesmo, porque vemos como os No Vax são afetados pela doença, e responsabilidade, acima de tudo, em relação aos outros, que o papa resumiu nessa bela expressão de que eu gosto tanto, no final, que tem este sentido, de um ato de amor.”

O papa Francisco disse que vacinar-se é um “ato de amor” numa mensagem publicitária sobre vacinação produzida pela organização Ad Council em agosto. “Rezo a Deus para que cada um de nós possa fazer seu pequeno gesto de amor. Não importa quão pequeno, o amor é sempre grandioso”, disse o papa.

A Itália foi um dos países mais atingidos pela primeira onda da pandemia de covid-19. O país de quase 60 milhões de habitantes registrou mais de 5 milhões de casos da doença e 133 mortes até 30 de novembro, segundo o Centro de Recursos de Coronavirus da Universidade Johns Hopkins, dos EUA. Cerca de 73% da população foi vacinada.

O governo italiano anunciou planos de um “super passaporte verde”, para vigorar a partir de 6 de dezembro. A medida proibirá pessoas não-vacinadas de entrar em restaurantes, ir a academias, visitar museus e outras atrações turísticas, e participar de casamentos e outras cerimônias públicas no minimo até 15 de janeiro.

O padre Pellegrini, de Coi, uma aldeia na província de Belluno no norte da Itália, chamou a atenção da mídia por sua oposição ao passaporte verde.

Pellegrini tem apoiado uma greve de estivadores de Trieste contra as regras do governo sobre covid-19. Ele escreveu uma carta aberta aos bispos italianos pondo em questão a disposição deles de defender a liberdade religiosa diante do poder do Estado.

“Por um ano e meio, já, a grande maioria dos fiéis católicos italianos está desconcertada e escandalizada pelo seu silêncio incompreensível, por sua falta de habilidade para indicar o caminho da fé”, escreveu Pellegrini aos bispos em setembro.

“Vocês parecem, para todos os efeitos, sal que perdeu o sabor e, como diz o Cristo, ‘só é bom para ser jogado fora e pisado pelos homens.’ Vocês cederam a quase tudo que o governo italiano pediu de vocês e continua a sugerir e vocês transformaram a Igreja, de uma realidade divina, em uma sociedade manipulada pelo governo.”

A Conferência Episcopal Italiana, em sua mensagem para o Dia da Vida, da Itália, em 27 de novembro, criticou os protestos No Vax.

Depois de elogiar a reação dos italianos à pandemia, a mensagem dizia que “há também manifestações de egoísmo, indiferença e irresponsabilidade, frequentemente caracterizada por uma afirmação mal compreendida da liberdade e uma concepção distorcida de direitos.”

“Muitas vezes, são pessoas compreensivelmente assustadas e confusas que também são essencialmente vítimas da pandemia”, diz o documento.

“Em outros casos, no entanto, esses comportamentos e discursos expressam uma visão da pessoa humana e das relações sociais muito distante do Evangelho e do espírito da constituição” da Itália.  

Respondendo a uma pergunta sobre as diferentes opiniões sobre as vacinas entre os cristãos em sua viagem de volta da Eslováquia a Roma em setembro, o papa disse não saber como explicar a oposição às vacinas de covid-19.

“No Vaticano, todo mundo está vacinado, exceto um pequeno grupo que nós estamos estudando como ajudar”, disse o papa.

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A Guarda Suíça, encarregada da proteção do papa, exigiu que seus 135 membros fossem vacinados. Em outubro, três guardas tiveram que se demitir por se recusar a cumprir a exigência.

A Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), órgão da Santa Sé responsável pela manutenção da doutrina católica, disse, em dezembro de 2020, que as vacinas de covid-19 que usam linhagens de células provenientes de bebês abortados são aceitáveis quando não há alternativa disponível. Todas as vacinas de covid-19 foram produzidas ou testados usando alguma dessas linhagens.

A CDF disse, na mesma mensagem, que a vacinação tem que ser voluntária.

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