A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu uma nota por ocasião do segundo turno das eleições 2018, na qual afirma que “cabe à população julgar, na liberdade de sua consciência, o projeto que melhor responda aos princípios do bem comum”.

“A CNBB reafirma seu compromisso, sobretudo através do diálogo, de colaborar na busca do bem comum com as instituições sociais e aqueles que, respaldados pelo voto popular, forem eleitos para governar o País”, afirma o texto assinado pelos bispos que integram o Conselho Episcopal Pastoral (CONSEP) da entidade.

O texto foi publicado após acusações semelhantes terem sido feitas nas redes sociais por ocasião do lançamento de uma nota assinada por pastorais da CNBB no último dia 15, com o título: “Democracia: mudança com justiça e paz”.  

Nesta nota, disponível no site oficial do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), afirma-se que no processo eleitoral em curso, “um movimento antidemocrático” fere valores supremos assegurados pela Constituição e “apela ao ódio e à violência, colocando o povo contra o povo" e ainda: “o candidato deste movimento quer se valer de eleições democráticas em sentido contrário para dar legalidade e legitimidade a um governo que pretende militarizar as instituições, garantir impunidade aos abusos policiais, armar a população civil e reduzir ou cortar programas de direitos humanos e sociais".

Nas redes sociais Facebook e Twitter a nota foi criticada por alguns católicos afirmando que este documento (que leva a assinatura de pastorais da Conferência Episcopal, mas de nenhum bispo brasileiro), estaria revelando que a CNBB é contra a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) e a favor da campanha de Fernando Haddad (PT). As pastorais que assinaram o documento foram: Cáritas Brasileira; CBJP – Comissão Brasileira Justiça e Paz; CCB – Centro Cultural de Brasília; CIMI – Conselho Indigenista Missionário; CJP-DF – Comissão Justiça e Paz de Brasília; CNLB – Conselho Nacional do Laicato do Brasil; CPT – Comissão Pastoral da Terra; CRB – Conferência dos Religiosos do Brasil; FMCJS – Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social; OLMA – Observatório De Justiça Socioambiental Luciano Mendes De Almeida; Pastoral Carcerária Nacional; Pastoral da Mulher Marginalizada; Pastoral Operária; SPM – Serviço Pastoral do Migrante.

Diante destas recentes repercussões, ACI Digital entrou em contato com a conferência episcopal brasileira, que esclareceu através de um e-mail enviado à nossa redação que “não apoia nenhuma candidatura ou partido político”.

A CNBB “reitera que conforme nota divulgada hoje, 24/10, ‘cabe à população julgar, na liberdade de sua consciência, o projeto que melhor responda aos princípios do bem comum, da dignidade da pessoa humana, do combate à sonegação e à corrupção, do respeito às instituições do Estado democrático de direito e da observância da Constituição Federal’”.

A entidade reforçou ainda que “a CNBB só se manifesta por meio de sua presidência, que é constituída pelo presidente, vice-presidente e o secretário-geral. As Pastorais podem agir e pronunciar-se publicamente, em nome próprio”.

A seguir, confira a íntegra da nota publicada nesta quarta-feira, 24, pela CNBB:

NOTA DA CNBB

Por ocasião do segundo turno das eleições de 2018

Jesus Cristo é a nossa paz! (cf. Ef 2,14)

O Brasil volta às urnas para eleger seu novo presidente e, em alguns Estados e no Distrito Federal, seu governador. Fiel à sua missão evangelizadora, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de seu Conselho Episcopal Pastoral (Consep), reunido em Brasília-DF, nos dias 23 e 24 de outubro, vem ratificar sua posição e orientações a respeito deste importante momento para o País.

Eleições são ocasião de exercício da democracia que requer dos candidatos propostas e projetos que apontem para a construção de uma sociedade em que reinem a justiça e a paz social. Cabe à população julgar, na liberdade de sua consciência, o projeto que melhor responda aos princípios do bem comum, da dignidade da pessoa humana, do combate à sonegação e à corrupção, do respeito às instituições do Estado democrático de direito e da observância da Constituição Federal.

Na missão de pastores e profetas, nós, bispos católicos, ao assumirmos posicionamentos pastorais em questões sociais, econômicas e políticas, o fazemos, não por ideologia, mas por exigência do Evangelho que nos manda amar e servir a todos, preferencialmente aos pobres. Por isso, “a Igreja reivindica sempre a liberdade, a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76). Não podemos nos calar quando a vida é ameaçada, os direitos desrespeitados, a justiça corrompida e a violência instaurada” (CNBB – Mensagem ao Povo de Deus – 19 de abril de 2018). Inúmeros são os testemunhos de bispos que, na história do país, se doaram e se doam no serviço da Igreja em favor de uma sociedade democrática, justa e fraterna.

A CNBB reafirma seu compromisso, sobretudo através do diálogo, de colaborar na busca do bem comum com as instituições sociais e aqueles que, respaldados pelo voto popular, forem eleitos para governar o País.

Exortamos a que se deponham armas de ódio e de vingança que têm gerado um clima de violência, estimulado por notícias falsas, discursos e posturas radicais, que colocam em risco as bases democráticas da sociedade brasileira. Toda atitude que incita à divisão, à discriminação, à intolerância e à violência, deve ser superada. Revistamo-nos, portanto, do amor e da reconciliação, e trilhemos o caminho da paz!

Por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, invocamos a bênção de Deus para o povo brasileiro.

Brasília-DF, 24 de outubro de 2018

Dom Murilo S. R. Krieger
Arcebispo de São Salvador
Presidente da CNBB em exercício

Mais em

Dom Guilherme Antônio Werlang
Bispo de Lajes
Vice-Presidente da CNBB em exercício

Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB

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