Com uma caminhada entre o Convento de São Francisco e o Mosteiro da Luz, em São Paulo (SP), na segunda-feira (30), franciscanos deram início às celebrações pelos 200 anos da morte de santo Antônio de Sant’Anna Galvão, o frei Galvão. O primeiro santo brasileiro foi o fundador do Mosteiro da Luz, das Irmãs Concepcionistas, onde está sepultado. Ele morreu em 23 de dezembro de 1822.

“Iniciar as celebrações do bicentenário de morte de frei Galvão no Convento São Francisco, com todos os frades reunidos e refazendo os passos que, por longos anos, frei Galvão fez até o Mosteiro da Luz, sem dúvida é voltar no passado e beber dessa fonte de santidade e, ao mesmo tempo, perceber que é possível abraçar esse caminho de santidade nos dias de hoje”, disse frei Diego Melo, reitor do santuário frei Galvão, em Guaratinguetá (SP).

A caminhada começou às 16h30 e contou com a presença de frades, peregrinos e devotos de frei Galvão de Guaratinguetá, Guarulhos e São Paulo. Ao chegar ao Mosteiro da Luz, foi celebrada a missa pelo ministro provincial frei Paulo Roberto Pereira, o definidor provincial frei Fidêncio Vanboemmel, o coordenador do Regional de São Paulo, frei Vitorio Mazzuco, e frei Diego Melo.

O Regional de São Paulo é o maior da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Na missa, o ministro provincial, frei Paulo Roberto Pereira, afirmou que, ao refazer os passos de frei Galvão, “que saía do Convento de São Francisco e vinha trabalhar na construção desse mosteiro [da Luz]”, foi possível ver “a importância de cultivar a santidade nos nossos dias”. “Passamos por ruas carregadas de muitas culturas, e tristemente carregadas da cultura do acúmulo. São Paulo é a metrópole latino-americana, certamente a mais rica e tristemente a mais geradora de pobreza. É aqui, exatamente neste chão, que nós fomos convidados a cultivar a santidade. Nós, os freis franciscanos, as irmãs, o povo que ama Jesus Cristo e que quer conhecer ainda mais o exemplo de frei Galvão. Todos nós somos chamados a ser santos”, disse.

Na homilia, o coordenador do Regional, frei Vitorio Mazzuco, classificou a caminhada como “uma forte experiência”, destacando que “a espiritualidade, a mística, qualquer experiência, tudo começa por um passo”. “E São Francisco, que andou pelas estradas da Úmbria, e frei Galvão que andou de Guaratinguetá a São Luiz de Paraitinga e por todo o Vale do Paraíba, chegando a São Paulo e em toda parte”, afirmou.

Frei Mazzuco afirmou ainda que, ao caminhar pelas ruas de São Paulo, viram “todas as experiências que marcam a vida de uma metrópole”.

Ao final da celebração, as irmãs concepcionistas quebraram uma tradição secular, saíram da clausura e foram para o altar principal. Na ocasião, entregaram aos franciscanos uma relíquia de primeiro grau do santo, “como gesto de amizade fraterna, pedindo para que seja entronizada no santuário de frei Galvão de Guaratinguetá”.

Foto: Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

Frei Diego Melo, que assumiu como primeiro reitor franciscano do santuário de frei Galvão no aso passado disse que “essa presença franciscana no santuário frei Galvão, em Guaratinguetá, precisava ser completada com essa proximidade com o Mosteiro da Luz”. Para ele, não dá para falar de frei Galvão sem falar de seu local de nascimento, Guaratinguetá, e sem falar da grande obra dele, o Mosteiro da Luz.

Mosteiro da Luz

O Mosteiro da Luz foi fundado por frei Galvão em 1774. É administrado pelas monjas concepcionistas franciscanas da ordem da Imaculada Conceição. Sua origem remonta a uma igreja em honra a Nossa Senhora da Luz, localizada na Região Piranga (hoje, bairro do Ipiranga). Os primeiros registros dessa igreja datam de 1579.

Por volta de 1600, a sede da igreja e a imagem de Nossa Senhora da Luz foram transferidas para a região norte do Anhangabaú, conhecida como Guaré. Mais tarde, passou por um longo período de abandono.

Em 1772, uma religiosa chamada Helena Maria do Sacramento teria tido visões de Jesus Cristo para a construção de um convento. Ao ter conhecimento dessas visões e averiguá-las, frei Galvão decidiu construir o convento, para o qual recebeu autorização do governo em 1774. Inicialmente, foi chamado recolhimento, isto é, era habitado por freiras recolhidas, mas ainda não tinha reconhecimento canônico para ser um mosteiro.

O próprio frei Galvão projetou e trabalhou na construção do recolhimento, incluindo a capela. Após a morte de frei Galvão, em 1822, as obras passaram a ser comandadas por frei Lucs da Purificação, que dirigiu os detalhes finais. Em 1902, o recolhimento teve o reconhecimento canônico para receber o título de mosteiro.

O Mosteiro da Luz é considerado a construção arquitetônica colonial mais importante do século XVIII, em São Paulo. É também uma das poucas construções coloniais que mantém seu uso original.

Em 1943, o Mosteiro da Luz foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em 1977, foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), da secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Por causa de sua importância, o mosteiro foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

Atualmente, o complexo do Mosteiro da Luz abriga o convento das irmãs concepcionistas, o túmulo de frei Galvão, o memorial frei Galvão, a sala de distribuição das pílulas de frei Galvão, a distribuição das pílulas na tradicional roda, o Museu de Arte Sacra de São Paulo, a exposição permanente de presépios, loja de artigos religiosos e barra das irmãs onde são vendidos produtos confeccionados pelas freiras.

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