O bispo de Limburg, Alemanha, dom Georg Bätzing, criticou o papa Francisco e rebateu a opinião do papa de que o Caminho Sinodal Alemão é inútil, prejudicial e ideologicamente envenenado, dizendo que os alemães tinham “visões fundamentalmente diferentes da sinodalidade” de Roma.

O Caminho Sinodal Alemão é um processo de debates entre bispos e determinados leigos na Alemanha que discute o exercício do poder na Igreja, o papel das mulheres, o celibato sacerdotal e a doutrina sexual da Igreja. Foram feitas propostas de acabar com o celibato, ordenar mulheres e aceitar a homossexualidade.

 

Em entrevista publicada na última sexta-feira (27), Bätzing, que é presidente da Conferência Episcopal Alemã, disse achar “extremamente questionável” a “maneira do papa de liderar a Igreja por meio de entrevistas”. Bätzing se referia a comentários que o papa Francisco fez sobre o Caminho Sinodal Alemão em uma entrevista à agência de notícias Associated Press na semana passada.

 

Os bispos alemães fizeram sua visita ad limina ao papa Francisco em novembro passado. “Por que o papa não falou conosco sobre isso quando estivemos com ele em novembro?”, disse Bätzing. “Teria tido a oportunidade, mas ele não aproveitou a oportunidade para uma reunião na época.”

 

Na entrevista publicada na sexta-feira (27), Bätzing disse que o papa Francisco entende a sinodalidade como “uma ampla coleta de contribuições de todos os cantos da Igreja, depois os bispos discutem de forma mais concreta e, no final, há um homem no topo que toma uma decisão.” Para o bispo alemão, “esse não é o tipo de sinodalidade viável no século 21”.

 

O papa Francisco se opôs ao plano do Caminho Sinodal Alemão de criar um conselho sinodal permanente para a Igreja na Alemanha, que funcionaria “como um órgão consultivo e de tomada de decisões sobre desenvolvimentos essenciais na Igreja e na sociedade”.

O conselho “tomaria decisões fundamentais de importância supradiocesana sobre planejamento pastoral, questões futuras e questões orçamentárias da Igreja que não são decididas em nível diocesano”.

 

“Nós, na Alemanha, estamos procurando uma maneira de deliberar e decidir juntos, sem anular os regulamentos canônicos que concernem à autoridade do bispo”, disse Bätzing na entrevista. “Na Alemanha, já temos a chamada Conferência Conjunta desde os anos 1970, na qual a conferência episcopal e o Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK) se consultam, ou seja, leigos e bispos. Esta Conferência Conjunta recebeu certas tarefas. Portanto, a opção alternativa é mantermos esse modelo e apenas adicionamos tarefas importantes a ele que são viáveis ​​de acordo com a lei da Igreja”.

 

Quanto às objeções levantadas durante a visita ad limina com os membros da Cúria Romana, reiteradas em carta do papa Francisco aos bispos alemães, Bätzing repeliu de novo essas objeções e prometeu que o Caminho Sinodal continuaria seguindo sua própria agenda.

 

O então prefeito do Dicastério para os Bispos, cardeal Marc Ouellet, disse que a pressão alemã por um conselho sinodal permanente é inaceitável. “Se esta for a forma como a Igreja na Alemanha será governada no futuro, eu já disse aos bispos muito claramente [durante a visita ad limina em novembro]: isso não é católico”, afirmou o cardeal.

 

Um conselho “não corresponderia à eclesiologia católica e ao único papel dos bispos, que deriva do carisma da consagração e que implica que eles devem ter a liberdade de ensinar e decidir”.

 

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Os bispos alemães teriam que renunciar a parte de seu poder em favor de um novo conselho ou outro órgão de supervisão. Para Ouellet, “isso não é possível; seria uma renúncia ao ofício episcopal”.

 

O cardeal Walter Kasper também alertou os bispos alemães de que eles não poderiam contornar “a autoridade do papa e, em última análise, do Concílio Vaticano II” ou ser prejudicados por “reinterpretações complicadas”.

 

Um bispo não pode “subsequentemente renunciar, no todo ou em parte, à autoridade conferida sacramentalmente na sucessão dos apóstolos” vinculando-se a um conselho sinodal “sem violar a responsabilidade que lhe é conferida estritamente”, disse Kasper.

 

“A resistência à carta de Roma, ou as tentativas de reinterpretá-la e evitá-la astutamente, apesar de todos os protestos bem-intencionados, inevitavelmente levam à beira do cisma e, assim, mergulham o povo de Deus na Alemanha em uma crise ainda mais profunda”, disse Kasper.

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