A nomeação do bispo de Hildesheim, Alemanha, dom Heiner Wilmer, como prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé teria sido bloqueada por alguns cardeais há algumas semanas. Cardeais teriam advertido o papa Francisco e evitado a nomeação. Agora, Wilmer é mais uma vez cotado pelo papa para chefiar o escritório responsável pela correção doutrinal da Igreja.

 

Wilmer apoiou todos os textos propostos do Caminho Sinodal Alemão na assembleia de setembro de 2022, pedindo a ordenação de mulheres, a tolerância das relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, e o estabelecimento de um conselho sinodal permanente. O Caminho Sinodal Alemão é um processo de discussão entre bispos e alguns leigos sobre o exercício do poder na Igreja, o papel das mulheres, e a moral sexual.

 

Wilmer estava sendo considerado pelo papa para suceder o cardeal Luis Ladaria como o prefeito do Dicastério da Doutrina da Fé em dezembro. Um grupo que incluía o cardeal George Pell, morto em 10 de janeiro, pôs em dúvida a solidez doutrinária dele e teria conseguido dissuadir o papa de nomeá-lo.

Agora, segundo o site italiano Messa In Latino, a nomeação do bispo Wilmer é “provável”.

“Votei a favor do documento de política sobre a reforma do ensino católico sobre sexualidade e estou muito chateado porque a maioria de dois terços dos bispos não foi alcançada. Isso é realmente desanimador para todos que trabalham pela renovação de nossa igreja pela fé. Entendo e compartilho a decepção de muitos católicos sobre o fracasso do texto na votação”, disse dom Wilmer em setembro.

“A reforma do ensino sexual da Igreja é e continua a ser um tópico muito importante. A rejeição do documento por uma minoria de bispos não muda isso. Apoio o texto de todo o coração e tenho certeza de que, apesar da rejeição, ele será amplamente recebido e discutido intensamente. Asseguro aos fiéis da diocese de Hildesheim que continuarei a trabalhar pela renovação da moral sexual católica. É inaceitável que as pessoas sejam feridas ou discriminadas pelo ensino da igreja. Isso não está no espírito de Jesus Cristo”. A diocese de Hildesheim, no norte da Alemanha, tem uma taxa de frequência semanal à missa de 2,8%, segundo a Conferência Episcopal Alemã.

O apoio de Wilmer às propostas mais radicais do Caminho Sinodal Alemão não foi a primeira vez que ele apoiou ideias teológicas heterodoxas.

Em entrevista ao jornal alemão Kölner Stadt-Anzeiger em 2018, Wilmer afirmou que “o abuso de poder está no DNA da Igreja”, não podendo mais ser descartado como algo “periférico”, mas que deve levar a um “repensar radical” da eclesiologia.

Na mesma entrevista, ele descreveu o padre Eugen Drewermann como “um profeta de nosso tempo”. O padre Drewermann foi impedido de exercer suas funções sacerdotais na década de 1990. E foi corrigido pelo então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Joseph Ratzinger, por ter posto em dúvida o nascimento virginal de Cristo e a ressurreição física de Jesus, dois pilares do catolicismo.

Na mesma entrevista, o bispo Wilmer também pôs em dúvida a autoridade de ensino do Magistério da Igreja. “Às vezes penso: quem realmente determina o que é católico? Ainda agimos como se fosse a hierarquia; como se nós, bispos, tivéssemos direito ao rótulo de católicos. Errado! ... Devemos ser receptores, ouvintes, aprendizes, em conversa com católicos, mas também com cristãos de outras confissões e não-crentes”.

Em abril de 2020, durante a pandemia de covid-19, o bispo Wilmer criticou a transmissão online de missas como exemplo de “fixação excessiva” na Eucaristia.

Em 2022, no início do processo sinodal global em sua diocese, ele disse em homilia que a Igreja precisa de um “novo pensamento” em relação à sexualidade e ao ministério sacerdotal.

“Precisamos de um novo olhar sobre gênero: que apenas haja a participação de todos na Igreja, homens e mulheres”, disse em missa celebrada na catedral de Hildesheim.

Wilmer implementou “linguagem sensível ao gênero” em sua diocese em 2021. Por exemplo, em vez de dizer “Deus, nosso Pai”, diz-se: “Bom Deus, que és mãe e pai para nós”.

Comparado a seus antecessores alemães imediatos, os cardeais Joseph Ratzinger e Gerhard Mueller, Wilmer tem poucas credenciais teológicas. Ele só se tornou bispo em 2018. Tem um doutorado sobre misticismo e Maurice Blondel, mas só foi professor do ensino médio na Alemanha e de história e alemão na Fordham Preparatory School no Bronx de 1997 a 1998.

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