A Pontifícia Academia para a Vida nomeou como membro pleno uma economista ateia muito influente que apoia o aborto legal e cuja visão sobre economia foi elogiada pelo papa Francisco. Mariana Mazzucato, que leciona economia de inovação e valor público na University College, de Londres, foi nomeada no sábado pelo arcebispo Vincenzo Paglia, presidente da academia, e por monsenhor Renzo Pegoraro, chanceler.

Nascida em Roma e com cidadania americana, mãe de quatro filhos, Mazzucato é uma de 14 pessoas recém-nomeadas para a academia. Os outros incluem o congolês Jean Marie Okwo-Bele, ex-diretor do departamento de imunização, vacinas e biológicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e agora diretor e membro do conselho do Instituto Internacional de Vacinas, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU); e o muçulmano Mosaad Helaly Saad Al-Din, professor de jurisprudência islâmica na universidade Al-Azhar, no Cairo, Egito.

Desde 2017, sob o comando do arcebispo Paglia, a academia, fundada por são João Paulo II para a defesa da vida da concepção até o fim natural, já escolheu teólogos pró-aborto e não católicos como membros.

Conhecida em seu campo pela defesa de maior participação do Estado na economia para impulsionar a inovação, Mazzucato é admirada por Bill Gates, consultada por governos de várias parte do mundo e tenta “salvar o capitalismo” tornando-o mais inclusivo.

Ela nunca escondeu sua simpatia pelo direito ao aborto. Em junho, quando a Suprema Corte dos EUA anulou Roe x Wade, decisão que havia liberado o aborto nos EUA, Mazzucato tuitou “Tão bom” apoiando uma diatribe da comentarista progressista Ana Kasparian que atacou os cristãos por “ditar” como ela deveria viver a vida dela no que se refere a aborto e contracepção.

Já em 2016 Mazzucato havia tuitado, “como ateia, nunca pensei que fosse amar tanto um papa. Que astro!” em referência a dois comentários que o papa Francisco havia feito, um sugerindo que o ex-presidente americano Donald Trump não era cristão, e o outro, no discurso, feito um ano antes na ONU, criticando o sistema bancário internacional, alertando sobre mudanças climáticas e defendendo um “direito ao meio ambiente”.

Mazzucato esteve no Brasil em 2015 para participar do 6º Congresso Brasileiro de Inovação, iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE).

No congresso, a economista disse que o Brasil precisava traçar uma estratégia para que o Estado interaja de forma mais dinâmica com o setor privado, segundo a Agência Brasil. Ela esteve à época com a então presidente Dilma Rousseff (PT), a quem classificou de “excepcional” pelo “incrível” conhecimento sobre indústria e inovação.

Nos EUA, Mazzucato foi consultora da deputada Alexandria Ocasio-Cortez e da senadora Elizabeth Warren, ambas da ala mais à esquerda do Partido Democrata.

De 2015 a 2016, Mazzucato integrou a comissão de assessores de economia do Partido Trabalhista, montado pelo então líder do partido, o ultra esquerdista Jeremy Corbin.

Em 2013, a economista escreveu seu primeiro livro: O Estado Empreendedor: Desmascarando o Mito do Setor Público x Setor Privado (Portfolio-Penguin). Nele, Ela defende financiamento do Estado em biotecnologia, indústria farmacêutica e tecnologia limpa.

Em março de 2020, o papa elogiou Mazzucato por ter dito em um livro que os criadores de riqueza deveriam priorizar o “valor” mais do que o preço. Francisco disse acreditar que a visão dela para a economia “pode ajudar a pensar sobre o futuro”.

Em resposta, Mazzucato tuitou que estava “profundamente honrada” que o papa tivesse lido o livro dela e por “ele concordar” que o futuro “tem que ver essa re-priorização”.

Não é a primeira vez que a Santa Sé promove Mazzucato. No ano passado ela foi palestrante em uma conferência da Pontifícia Academia para Ciências Sociais que propôs renda mínima universal, economia verde e covid-zero. Muitos dos palestrantes defenderam posições diametralmente opostas à doutrina católica.

Mazzucato é diretora do Conselho de Economia de Saúde para Todos, da OMS, e ex-integrante do Conselho da Agenda Global de Inovação Econômica do Fórum Econômico Mundial, organização não-governamental financiada por algumas das empresas mais ricas do mundo. A reunião anual do Fórum em Davos, Suíça, atrai políticos, investidores, empresários, e leva palestrantes como o romancista brasileiro Paulo Coelho e o Dalai Lama.

A nomeação de Mazzucato antecede a próxima assembleia da Academia Pontifícia para a Vida, marcada para 20 a 22 de fevereiro do ano que vem com o tema “Convergindo na Pessoa: Tecnologias Emergentes para o Bem Comum”.

Segundo a academia, o tema é de “grande relevância” dado o modo como o mundo está “mudando profundamente diante de nossos olhos, um mundo em que a reflexão ética que fale às mulheres e homens em busca de sentido e esperança para sua vida é mais necessário do que nunca”.

“Nesse sentido, é importante que a academia Pontifícia para a Vida inclua mulheres e homens de várias disciplinas e com diferentes backgrounds para um diálogo interdisciplinar, intercultural e interreligioso constante e frutífero”, disse o arcebispo Paglia ao nomear os novos membros.

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