Estudantes de medicina da Universidade de Michigan, EUA, boicotaram uma cerimônia na universidade por causa da oradora principal, uma médica pró-vida.

Dezenas de estudantes usando avental branco se levantaram e saíram do salão em que se realizava a cerimônia quando Kristin Collier, professora-assistente de clínica da universidade com sede em Ann Arbor, subiu ao pódio.

A universidade havia escolhido Collier para fazer o discurso de recepção aos estudantes que ingressam na área médica.

Antes da cerimônia, alunos e ex-alunos fizeram um abaixo-assinado pedindo que a escola escolhesse um orador diferente. Em entrevistas e em suas redes sociais Collier afirma constantemente a dignidade da vida.

“Esses comentários são antitéticos aos princípios da justiça reprodutiva, pois as restrições ao aborto afetam desproporcionalmente mulheres negras, outras mulheres marginalizadas e pessoas trans”, diz o abaixo-assinado contra a médica.

A escola se recusou a cancelar o discurso de Collier.

Um post de 13 de julho do blog “Mirror of Justice” da Universidade de Notre Dame publicou uma cópia da carta de Marschall Runge, diretor da faculdade de medicina da Universidade de Michigan. Na carta, Runge diz que houve “feedback positivo e negativo” sobre a escolha da oradora principal. No entanto, disse ele, Collier não planeja falar sobre “um tópico controverso” em seus comentários.

“Nós não revogaríamos um orador porque ele pessoalmente tem ideias diferentes dos outros”, escreveu Runge.

Em seu discurso, Collier disse: “Quero reconhecer as feridas profundas que nossa comunidade sofreu nas últimas semanas. Temos muito trabalho a fazer para que a cura ocorra. E espero que hoje, neste momento, possamos nos concentrar no que mais importa, nos unir para apoiar nossos alunos recém-admitidos e suas famílias com o objetivo de recebê-los em uma das maiores vocações que existem nesta terra: a vocação da medicina”.

Collier deu três conselhos para ajudara os alunos em suas carreiras. Primeiro, disse ela, “você não é uma máquina e nem seu paciente. Máquinas e robôs não podem cuidar de ninguém. Completar tarefas não é cuidar”.

O segundo conselho foi fazer “grandes perguntas”, como “o que significa ser humano?”, “por que os seres humanos são importantes?”, “o que é saúde?” e “o que que é remédio e para que serve?”

Segundo Collier, as questões filosóficas “estão muito ausentes na prática da medicina” . A medicina, disse ela, “precisa de uma lente filosófica para poder ver por que a medicina sabe o que sabe e faz o que faz”.

O terceiro conselho foi praticar a gratidão. A professora disse que a profissão médica dará aos alunos muitas oportunidades de “conhecer a dor”.

 

“Mas, ao se familiarizar com o luto, você desenvolverá uma apreciação pelo que realmente importa e pelo que não importa”, disse ela.

“Não raramente, neste hospital, há carros em nossos estacionamentos deixados para trás quando alguém entrou neste lugar e nunca mais saiu”, disse ela.

Ela contou uma história de quando fazia residência médica. Um de seus colegas ficou doente e morreu. “Coletivamente, perdemos a crença profundamente arraigada de que a medicina poderia ser nossa salvadora”, disse ela. “O que aconteceu, em parte, é que muitos de nós transformamos a medicina no que os teólogos chamam de ídolo. Tínhamos colocado uma esperança irreal em algo que a medicina não merecia e não podia cumprir. Quando nossos ídolos desmoronam, a dor segue.”

“O sofrimento pode endurecer”, disse ela, “mas você pode permitir que a vocação o amoleça, cultive compaixão, amor, justiça e misericórdia. Que a medicina faça a segunda possibilidade.”

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