31 de dez de 2025 às 09:42
Ontem (30), na véspera do terceiro aniversário da morte de Bento XVI, o cardeal Gerhard Müller celebrou uma missa na basílica de São Pedro, durante a qual falou da grande obra teológica do papa alemão, "que sempre se considerou um colaborador da verdade".
Nascido em 16 de abril de 1927, na Alemanha, Joseph Ratzinger, o futuro papa teve um papel significativo na Igreja em seu sacerdócio, episcopado e cardinalato. Foi consultor teológico no Concílio Vaticano II e principal colaborador do papa são João Paulo II como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, atual Dicastério para a Doutrina da Fé.
Depois da morte do papa polonês, o cardeal Ratzinger foi eleito sucessor de Pedro em 19 de abril de 2005, adotou o nome de Bento XVI e liderou a Igreja até sua renúncia em fevereiro de 2013. Desde então até sua morte, em 31 de dezembro de 2022, aos 95 anos de idade, ele dedicou-se à oração e ao estudo no mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano.
Cardeais, bispos, padres e fiéis participaram da missa na basílica de São Pedro para oferecer orações a Deus pelo repouso do papa alemão que "completou sua peregrinação terrena e nos precedeu na pátria celeste", disse o cardeal Müller.
Sobre isso, ele disse que, chegando à Casa do Pai, “veremos Deus face a face e O louvaremos e amaremos na comunhão de todos os Seus santos eleitos”.
“O conhecimento de Deus é o objetivo final de todo o esforço espiritual humano”, disse o cardeal. “Pois o próprio Jesus, o Verbo que se fez carne, diz: Essa é a vida eterna: que te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste”.
O cardeal destacou a fidelidade do papa alemão ao Evangelho, visto que "como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ele estabeleceu padrões de máxima diligência, precisão intelectual e incorruptibilidade para o Magistério Romano", tarefa que continuou em seu pontificado.
“Até mesmo Jürgen Habermas, o representante mais proeminente da Escola de Frankfurt neomarxista, que personifica o mundo intelectual de uma modernidade ateia, buscou o diálogo com ele para que crentes e não-crentes pudessem trabalhar juntos para salvar o mundo moderno da morte fria do anti-humanismo, do transhumanismo e do niilismo”, disse Müller.
Para mostrar a humildade e a magnitude da obra de Bento XVI, o cardeal Müller disse que, quando lhe apresentou "o primeiro volume da Opera Omnia", informou-o de que o plano era publicar 16 volumes que "totalizariam cerca de 25 mil ou 30 mil páginas".
“Em vez de expressar orgulho por uma obra intelectual tão monumental, ele me perguntou, chamando-me de Gerhard: Quem vai ler tudo isso? Um tanto constrangido, respondi: Santo Padre, não sei, mas sei quem escreveu tudo isso”, disse ele.
O cardeal Müller disse que a teologia de Bento XVI “é uma dádiva para toda a Igreja, inclusive as gerações futuras” e incentivou seu estudo, sem se intimidar com sua extensão. No entanto, disse: “Se um cristão inquieto, com dúvidas sobre sua fé, me perguntasse o que deveria ler acima de tudo, eu recomendaria os três volumes sobre Jesus de Nazaré”.
“O fato de ter publicado essa obra sob o seu nome pessoal, para distinguir a sua autoridade teológica da papal expressa também o significado mais profundo da primazia papal”, disse Müller. “Pois cada papa, como sucessor de são Pedro, deve compreender que a sua tarefa mais sagrada é unir toda a Igreja com todos os seus bispos, sacerdotes e fiéis na confissão do Príncipe dos Apóstolos, que disse a Jesus: Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.
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Fé e razão
Em sua homilia, o cardeal Müller disse que, desde o Iluminismo, surgiu um conflito entre fé e razão, como se as descobertas científicas e as ideias filosóficas contradissessem "a crença em Deus Criador e em Jesus Cristo, o único Salvador".
“Contudo, não há contradição com a verdade revelada sobre o mundo e a humanidade, embora a fé não precise ser validada pelas conclusões sempre falíveis da ciência empírica”, disse ele. “A fé se baseia na Palavra de Deus, por meio de Quem tudo o que existe veio à existência, porque Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, é a própria verdade em Sua Pessoa Divina”.
Ele exortou os teólogos a “demonstrar a profunda unidade entre a fé revelada e o conhecimento secular mais recente, expresso em teorias, pois devemos estar sempre prontos para dar uma resposta lógica, no Logos, a qualquer pessoa que nos pergunte sobre a esperança que há em nós”.
“Joseph Ratzinger nos lembrou repetidamente que o cristianismo, com todas as suas grandes conquistas culturais em doutrina social, música e arte, literatura e filosofia, não é uma teoria ou uma visão de mundo, mas um encontro com uma pessoa”, disse o cardeal.
Por fim, ele disse que a Igreja de Cristo “não é uma organização criada pelo homem com um grande programa ético ou social, nem uma ONG”, mas “uma comunidade de seus discípulos que dizem de si mesmos e professam diante do mundo: Vimos a sua glória, glória como a do Filho Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”.
“Joseph Ratzinger, o teólogo, bispo, cardeal e papa, não está longe de nós”, disse o cardeal Müller. “Pois a nossa liturgia terrena corresponde à liturgia celeste, na qual ele se une a nós para adorar e glorificar a Deus, amando-O e louvando-O por toda a eternidade”.






