24 de dez de 2025 às 11:48
Padres e fiéis leigos fazem críticas devido ao bispo de Charlotte, Carolina do Norte, EUA, Michael Martin, ter emitido uma carta pastoral na semana passada proibindo o uso de mesas de comunhão e genuflexórios no altar na hora da comunhão em toda a diocese.
Mesas de comunhão são as pequenas balaustradas que separam o presbitério da nave da igreja e ainda podem ser encontradas em muitas igrejas. Até a aprovação do novo missal, em 1970, pelo papa são Paulo VI, que substitui a liturgia anterior à reforma do Concílio Vaticano II, ajoelhar-se diante da mesa de comunhão era a única forma de comungar.
Na carta, de 17 de dezembro, Martin disse que, até 16 de janeiro do ano que vem, o uso das mesas de comunhão, genuflexórios fixos ou móveis não será mais permitido na diocese, e quaisquer "acessórios temporários ou móveis usados para ajoelhar-se para receber a Comunhão" deverão ser removidos.
Na carta, Martin disse que, embora um "fiel individual" seja livre para se ajoelhar para receber a comunhão e não deva ser impedido de recebê-la, a "postura normativa para todos os fiéis nos EUA é de pé", conforme as diretrizes da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês).
Em maio, um rascunho vazado de uma carta falou sobre as reformas pretendidas por Martin em relação às práticas tradicionais na diocese. Na carta, o bispo disse que, como “não há menção nos documentos conciliares, na reforma da liturgia ou nos documentos litúrgicos atuais sobre o uso de balaustradas ou genuflexórios para a distribuição da Sagrada Comunhão, eles não devem ser usados na diocese de Charlotte”.
Na carta de maio, Martin disse que é "simplesmente absurdo" sugerir que "ajoelhar-se é mais reverente do que ficar de pé".
Martin disse em sua carta de 17 de dezembro que sua “intenção é continuar promovendo a paz e a unidade em nossas liturgias”.
Um padre de Charlotte, que falou com a CNA, agência em inglês da EWTN, sob condição de anonimato, falou sobre a abordagem "autoritária" de Martin em relação à reforma: "Já deu".
“Se os padres da diocese respondessem sobre um voto de desconfiança, a grande maioria votaria a favor”, disse ele.
“Infelizmente, o estilo de liderança do bispo Martin tem sido uma fonte de divisão para a diocese desde a sua chegada e não parece haver qualquer mudança de rumo depois de vários apelos”, disse o padre. “Tem sido doloroso para muitos em toda a diocese”.
“Por que ajoelhar-se é um problema? Por que se esforçar tanto para forçar essas mudanças?”, perguntou ele. Receber a comunhão é “o momento mais íntimo da semana para as pessoas, que estão recebendo seu Deus. Por que passar por toda essa má publicidade? Eu não entendo”.
“Vai ser um desastre”, disse o padre, falando sobre a crescente oposição às reformas do bispo.
Ele disse à CNA que espera que o assunto seja abordado no próximo consistório de cardeais em Roma.
Uma carta de um advogado canônico anônimo também começou a circular na semana passada pela diocese de Charlotte em resposta à carta de Martin de 17 de dezembro.
Na carta anônima, Martin é acusado de ignorar o papel da sinodalidade em seu processo decisório. Ele também é acusado de ignorar as opiniões de seu conselho presbiteral.
Em carta a Martin, o remetente disse-lhe que "a decisão de proibir mesas de comunhão e genuflexórios baseia-se na sua própria preferência, e não na lei ou na tradição da Igreja".
Matthew Hazell, estudioso britânico de liturgia, disse ao jornal National Catholic Register, da EWTN, em maio, que a perspectiva de Martin pode ser caracterizado como o que o papa Bento XVI descreveu como uma "hermenêutica da descontinuidade e da ruptura".
Antes de ser o papa Bento XVI, o cardeal Joseph Ratzinger propôs o que chamou da hermenêutica da continuidade, segundo a qual as decisões do Concílio Vaticano II devem ser interpretadas em continuidade com todos os 22 concílios da Igreja anteriores. Há grupos progressistas para os quais o Vaticano II representa uma ruptura com o passado da Igreja.
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
“Em vez de permitir que a missa novus ordo seja celebrada de uma maneira que esteja conforme suas próprias rubricas e com a tradição da Igreja, o bispo Martin parece vê-la como uma criação inteiramente nova que não pode sequer ser vista como tendo algo em comum com o que veio antes”, disse Hazell ao Register.
Paróquias que praticam o culto de joelhos são responsáveis pela maior parte das vocações
Segundo Brian Williams, defensor da comunidade ligada à missa tridentina ou tradicional anterior à reforma do Concílio Vaticano II, dos 44 seminaristas de Charlotte, “pelo menos 75% são de paróquias onde ajoelhar-se é a prática comum para receber a Sagrada Comunhão”.
Williams disse que sua pequena paróquia, onde ajoelhar-se é a norma, formou sete seminaristas recentemente.
Ele disse à CNA que as "megaparóquias que adotaram essas mudanças litúrgicas" forneceram "talvez dois dos 44 seminaristas, embora tenham dezenas de milhares de famílias".
Uma das maiores paróquias católicas dos EUA, a igreja católica de São Mateus, não tem balaustrada no altar. Williams disse que "atualmente há só um seminarista formado lá, e não mais do que seis homens ordenados em toda a sua história".
“Eles fazem muitas coisas boas, mas não estão gerando vocações”, disse Williams.
Em setembro, apesar de muita resistência, Martin cancelou a missa tridentina, exceto em uma pequena capela que não é grande o suficiente para abrigar a crescente comunidade da missa tridentina da diocese.
Inicialmente, ele tentou cancelar a missa vários meses antes do prazo estabelecido por seu antecessor, o bispo Peter Jugis, mas decidiu no verão permitir que a missa continuasse.
“Cabe a cada membro do Corpo de Cristo facilitar a unidade em nossas celebrações”, escreveu Martin na carta de dezembro. “Essas normas para nossa diocese nos conduzem juntos à visão da Igreja de uma participação mais plena e ativa dos fiéis, especialmente enfatizada por nosso santo padre, o papa Leão XIV, no início de seu ministério petrino”.
Na carta de maio, Martin descreveu como as vestes sacerdotais com muita renda ou decoração seriam proibidas na diocese. Essa carta também condenou o uso do latim em missas que não fossem aquelas em que a maioria dos participantes entendesse latim, como "uma reunião específica de estudiosos, clérigos ou pessoas com formação em música clássica".
Martin disse que os pastores que incorporam o latim em suas missas não estão sendo “pastoralmente sensíveis”, escrevendo que “a participação plena, consciente e ativa dos fiéis é prejudicada sempre que o latim é empregado”.
“A maioria dos nossos fiéis não entende e nunca entenderá a língua latina, especialmente aqueles que vivem nas regiões periféricas”, disse o bispo. “É uma falácia pensar que, se usarmos o latim com mais frequência, os fiéis se acostumarão com ele e finalmente o entenderão”.
Quando Martin concelebrou a missa com vários outros bispos neste verão numa paróquia onde tradicionalmente os fiéis se ajoelham no altar para receber a comunhão, seguindo sua orientação, a comunhão foi distribuída em frente ao altar para desencorajar os paroquianos de se ajoelhar.
Um vídeo mostrou fiéis ajoelhados mesmo assim, muitos deles mulheres idosas que precisaram de ajuda para se levantar depois de receber a Sagrada Comunhão.
A diocese de Charlotte recusou vários pedidos de comentários.





