Em sua nomeação episcopal mais significativa até o momento nos EUA, o papa Leão XIV está voltando às suas raízes em Chicago, escolhendo um jovem bispo com uma trajetória notavelmente semelhante à sua para ser o próximo arcebispo de Nova York.

O escolhido do papa para Nova Iorque é o bispo Ronald Hicks, de 58 anos de idade, bispo da Diocese de Joliet, Illinois, e também natural dos subúrbios do sul de Chicago. A nomeação do bispo Hicks foi antecipada pelo veículo em espanhol Religión Digital em 15 de dezembro.

Nascido em 1967, 12 anos depois do papa Leão XIV, o bispo Hicks cresceu em South Holland, Illinois, cidade vizinha à cidade natal do papa, Dolton.

“Reconheço muitas semelhanças entre ele e eu”, disse o bispo Hicks a veículos midiáticos de Chicago sobre o papa Leão XIV depois da eleição do americano ao papado em 8 de maio. “Crescemos literalmente no mesmo raio de influência, no mesmo bairro. Brincávamos nos mesmos parques, nadávamos nas mesmas piscinas, gostávamos das mesmas pizzarias”.

O bispo Hicks também estudou no Quigley Preparatory Seminary South, que mais tarde se tornou a escola de ensino médio St. Rita of Cascia, onde o papa Leão XIV deu aulas na década de 1980. Talvez a diferença mais gritante entre os dois seja que o bispo Hicks torce para o time de beisebol Chicago Cubs, e o papa, para o Chicago White Sox.

Os dois já se encontraram pelo menos uma vez, quando o então cardeal Robert Prevost discursou numa paróquia da diocese de Joliet em 7 de agosto do ano passado, numa viagem à região de Chicago. Depois, o bispo Hicks disse que conversaram por cerca de 15 minutos, e o futuro papa demonstrou interesse no ministério do jovem bispo, entregando-lhe seu cartão.

Cerca de um ano depois, Leão XIV escolheu o bispo Hicks para um dos cargos mais importantes na terra natal do papa. Hicks sucederá o cardeal Timothy Dolan, uma personalidade marcante que liderou a arquidiocese de Nova York desde 2009.

A nomeação põe fim às especulações sobre quem sucederia o cardeal Dolan, já que o arcebispo completou 75 anos de idade em fevereiro, e sinaliza as qualidades que o papa Leão XIV provavelmente buscará em futuras nomeações episcopais.

Experiência latino-americana

O bispo Hicks divide com o papa Leão XIV a experiência ministerial na América Latina. Onze anos depois de sua ordenação como sacerdote da arquidiocese de Chicago, em 1994, o arcebispo eleito passou cinco anos em El Salvador como diretor regional da Nuestros Pequeños Hermanos, organização beneficente que presta assistência a órfãos na América Latina. O arcebispo eleito é fluente em espanhol.

O bispo Hicks graduou-se em filosofia pela Universidade Loyola de Chicago em 1989. Obteve o título de mestre em Divindade pela Universidade Saint Mary of the Lake/Seminário de Mundelein em 1994 e o título de doutor em Ministério pela mesma instituição em 2003.

A irmã Sara Butler, que foi professora do bispo Hicks quando ele era aluno do seminário de Mundelein e depois trabalhou ao lado dele quando ele se uniu à equipe de formação do seminário, disse que ele “demonstrou um notável espírito missionário”.

Jonathan Blevins,ex-líder leigo de uma paróquia de Chicago que trabalhou com o Bispo Hicks em várias ocasiões, disse que o arcebispo eleito é “tradicional e ama os perdidos e os pobres”, com um “grande carinho pelos hispânicos”.

“Sempre que ele falava, dava para perceber que seu coração estava com os pobres, especialmente por causa do tempo em que trabalhou no orfanato”, disse o padre Kevin Gregus, sacerdote da arquidiocese de Chicago, que cruzou o caminho do bispo Hicks quando era seminarista. “Acho que ele teria se mudado para lá permanentemente se o [ex-arcebispo de Chicago] cardeal Francis George tivesse permitido”.

Administração e Evangelização

Em vez disso, o padre Hicks ascendeu na hierarquia do clero de Chicago, ocupando cargos como decano de formação em Mundelein e vigário-geral da arquidiocese. O clérigo de Chicago foi nomeado bispo-auxiliar pelo papa Francisco em 2018 e bispo de Joliet dois anos depois.

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Chegando em Joliet, diocese com cerca de 500 mil fiéis que abrange o sul e o oeste da região metropolitana de Chicago, o bispo Hicks falou sobre seu desejo de colocar “Cristo no centro de nossas vidas”.

“O motivo de eu ser padre, bispo e católico é porque amo Jesus”, disse o bispo Hicks à mídia diocesana. “Fui batizado e, como católico batizado, quero continuar evangelizando e garantir que a fé cresça, não só para um determinado grupo, mas para todos — para os jovens, para os idosos e para aqueles que estão em uma faixa etária intermediária”.

O bispo Hicks também enfrentou desafios administrativos em Joliet. Em 2022, ele iniciou um plano de reestruturação diocesana que resultou no fechamento e fusão de várias paróquias. Ele também se manifestou em maio de 2023, devido à divulgação de um relatório do procurador-geral de Illinois sobre abuso sexual por membros do clero, dizendo que a diocese “continuará dedicando recursos significativos à proteção de crianças, à prevenção de abusos e à promoção da cura”.

“Nenhum pecado de tamanha magnitude como o abuso sexual de menores deve jamais ser esquecido”, disse o bispo Hicks. “Lembrar o mal causado nos obriga a permanecer vigilantes em nossos esforços para garantir que isso nunca mais aconteça”.

Em seu tempo em Joliet, Hicks fez do discipulado missionário uma prioridade máxima. Em setembro, ele lançou MAKE, carta pastoral que convida os fiéis de Joliet a seguir o mandamento de Cristo de “fazer outros discípulos” por meio da “conversão, confissão, comunhão e missão”.

“Com ousadia, quero que nossa diocese seja a mais evangelizadora do país, não por competição, mas porque amo Jesus e quero que vocês O amem e sejam salvos por meio Dele também”, escreveu o bispo Hicks numa coluna complementar.

A conexão Cupich

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Além do papa Leão XIV, o bispo Hicks tem ligações com outro membro da Igreja em Chicago: o cardeal Blase Cupich.

O arcebispo eleito é o terceiro ex-bispo auxiliar do Cardeal Cupich a ser nomeado para uma arquidiocese dos EUA no último ano e meio, depois do arcebispo de Milwaukee, Jeffrey Grob, e do arcebispo de Cincinnati, Robert Casey.

O cardeal Cupich, de 76 anos de idade, exerce há muito tempo uma influência considerável sobre as principais nomeações episcopais nos EUA e continua sendo membro do Dicastério para os Bispos.

O bispo Hicks elogiou o cardeal de Chicago como um mentor e apareceu num vídeo de homenagem que marcou o 50º aniversário da ordenação do cardeal ao sacerdócio.

“Cardeal Cupich, agradeço sua extraordinária liderança na Igreja”, disse o bispo Hicks em sua missa de posse como bispo de Joliet em 2020. “Agradeço a confiança que depositou em mim. E quero que saiba o quanto aprendi diretamente com o senhor”.

Pró-vida, amigável com a missa tradicional em latim

Várias fontes em Chicago e Joliet disseram que o bispo Hicks é decididamente independente — e tem opiniões e prioridades que claramente divergem das do cardeal Cupich.

Por exemplo, embora o cardeal Cupich seja conhecido como um dos oponentes mais ferrenhos da missa tridentina no episcopado dos EUA, os frequentadores da Missa Tridentina na diocese de Joliet dizem que o bispo Hicks não tem sido hostil.

“Tenho e continuo tendo um profundo sentimento de gratidão ao bispo Hicks por sua sabedoria pastoral em proteger seu rebanho das medidas draconianas promulgadas na Traditionis custodes”, disse Trevor Alcorn, que frequenta a missa tridentina na igreja de são João Paulo II em Kankakee, Illinois. “Ele sabia que as comunidades da missa Tridentina tinham dado e continuariam a dar frutos em sua diocese, e fez tudo o que estava ao seu alcance para preservá-las”.

Alcorn descreveu a proteção da missa tridentina em Joliet pelo bispo Hicks como "silenciosamente eficaz", pois evitou alarde desnecessário. Ele disse que foi um exemplo de liderança sinodal que envolveu o bispo Hicks "ouvindo os fiéis e levando em consideração suas necessidades".

O estilo litúrgico do bispo Hicks demonstra uma reverência simples e amor pela Eucaristia. Por exemplo, um vídeo que acompanha sua carta pastoral mostra o bispo distribuindo a Comunhão na língua. O bispo Hicks também promoveu intensamente o Movimento Nacional de Renascimento Eucarístico em Joliet, inclusive sendo a primeira diocese a acolher a procissão do ano passado, que partiu de Indianápolis rumo a Los Angeles.

Fontes também descreveram o bispo Hicks como um bispo teologicamente sólido que abraça a totalidade da doutrina social da Igreja. Ele considera são Óscar Romero, o mártir salvadorenho e defensor dos pobres, um herói pessoal, e escreveu sobre a necessidade de os fiéis serem “contraculturais” em relação ao aborto. John Breen, professor de direito da Universidade Loyola de Chicago, que criticou abertamente a intenção do cardeal Cupich de homenagear o senador pró-aborto Dick Durbin no último outono, descreveu o bispo Hicks como “fortemente favorável à causa pró-vida”.

“Embora essa mensagem seja em grande parte contrária à cultura dominante em Nova York, tenho plena confiança de que ele testemunhará a causa dos nascituros e todo o evangelho da vida, em todos os momentos”, disse Breen, que é o representante leigo da diocese de Joliet no conselho de diretores da Conferência Católica de Illinois.

O arcebispo eleito pode preferir uma abordagem menos conflituosa, visto que foi um dos 47 bispos diocesanos a assinar uma carta em 2021 opondo- se a um documento da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB) sobre "coerência eucarística", que deveria abordar a proibição da comunhão a políticos católicos favoráveis ​​ao direito ao aborto.

O bispo Hicks também parece ter estima de outros bispos. Em novembro do ano passado, ele foi eleito presidente do Comitê de Clero, Vida Consagrada e Vocações da USCCB, obtendo cerca de 63% dos votos.

Conjunto de habilidades de Nova York?

O bispo Hicks tem um conjunto de habilidades diversificado e impressionante. Mas como sua sensibilidade típica do meio-oeste dos EUA será recebida na Big Apple?

Com 2,5 milhões de fiéis, a arquidiocese de Nova York é a segunda maior diocese dos EUA, depois de Los Angeles. O arcebispo de Nova York também é uma das figuras católicas mais visíveis do país, dada a posição de Nova York como a capital da mídia americana.

Seguindo os passos do cardeal Dolan, natural de St. Louis, e do cardeal Edward Egan, natural de Chicago, o bispo Hicks será o terceiro arcebispo consecutivo do Meio-Oeste a ocupar o cargo em Nova York. Em contraste com o extrovertido e afável cardeal Dolan, o bispo Hicks diz ser uma pessoa de espírito mais gentil. Ao mesmo tempo, acredita ser capaz de ser firme, estabelecer uma visão e definir planos, garantindo que avancem.

O bispo Hicks dividirá os holofotes da cidade de Nova York com o prefeito eleito Zohran Mandami, o primeiro prefeito muçulmano da cidade e socialista. A notícia de sua iminente mudança para o Estado de Nova York também surge em meio ao anúncio, ontem (17), de que a governadora Kathy Hochul, católica, vai promulgar uma lei que permite o suicídio assistido.

A chegada do bispo Hicks poderá ajudar a impulsionar o número de vocações em Nova York, onde atualmente só existem 23 seminaristas em formação na arquidiocese. Além de suas experiências anteriores nos seminários da arquidiocese de Chicago e do seu trabalho atual na USCCB na área de vocações, ele é bispo conselheiro do Instituto para a Formação Sacerdotal, ministério popular que forma seminaristas na espiritualidade inaciana.

As habilidades de Hicks em espanhol e sua experiência na América Latina serão uma grande vantagem em uma arquidiocese com cerca de 1 milhão de fiéis hispânicos. Do mesmo modo, sua capacidade administrativa certamente será útil enquanto a arquidiocese tenta lidar com as consequências dos processos judiciais por abuso sexual clerical. Os orçamentos foram cortados, funcionários foram demitidos e a arquidiocese vendeu US$ 490 milhões (cerca de 2,7 bilhões) em imóveis na semana passada para indenizar as vítimas.