“Dom Odilo me pediu para dar um tempo. Ele acha que é uma forma de recolhimento e de proteção”, disse o padre Júlio Lancellotti à Folha de S. Paulo, ao revelar que o arcebispo de São Paulo (SP), cardeal Odilo Pedro Scherer, determinou que ele pare de transmitir missas ao vivo e suspensa suas atividades nas redes sociais.

A informação foi publicada hoje (16) pela coluna de Mônica Bergamo na Folha. Segundo a colunista, o padre também pode ser retirado da paróquia São Miguel Arcanjo, onde atua há mais de 40 anos.

No domingo (14), padre Júlio anunciou na missa das 10h, transmitida ao vivo, que aquela era a última transmissão. “Hoje é a última vez que esta missa está sendo transmitida. Até que haja ordem em contrário, a partir do domingo que vem, a missa será só presencial, não terá mais transmissão”, disse no início da celebração. “Essa missa chega a ter em alguns domingos, ao fim do dia, 15 mil, 10 mil visualizações, tanto aqui no Brasil quanto fora”, declarou, ao agradecer a todos que acompanham a transmissão e à equipe técnica.

As missas eram transmitidas ao vivo pela Rede TVT (TV dos Trabalhadores), mantida por sindicatos, pelo portal Instituto Conhecimento Liberta (ICL) e pelo YouTube.

A TVT se define como “emissora educativa outorgada à Fundação Sociedade Comunicação Cultura e Trabalho, entidade cultural sem fins lucrativos, mantida pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e pelo Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região.

O ICL é uma plataforma de cursos online de professores como o ex-franciscano Leonardo Boff e João Pedro Stédile, fundador do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST).

Redes sociais

Ao final da missa, o padre Lancellotti acrescentou: “Também não estarei manejando as redes digitais, como Instagram, Facebook e outros. Também não terão comunicações pelas redes digitais. Mas, quem vier aqui vai nos encontrar, enquanto eu estiver por aqui, vamos rezar juntos”.

Segundo Mônica Bergamo, o padre Júlio Lancellotti poderia ser retirado da paróquia São Miguel Arcanjo ainda este ano conforme informações que teriam começado a circular em grupos de WhatsApp. “Ainda não aconteceu”, disse o padre à colunista.

Na manhã de hoje, o padre Lancellotti publicou nas redes sociais da paróquia São Miguel Arcanjo uma nota pública em que confirma que “as transmissões estão temporariamente suspensas” e que “as redes sociais não estão sendo movimentadas por um período de recolhimento temporário”.

O padre, porém, disse que “não procede a informação sobre transferência da paróquia São Miguel Arcanjo”.

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“Reafirmo minha pertença e obediência à arquidiocese de São Paulo”, concluiu.

ACI Digital entrou em contato com a arquidiocese de São Paulo. Por meio da assessoria de imprensa, a arquidiocese disse que “eventuais questões tratadas entre o arcebispo e um padre dizem respeito ao âmbito interno da Igreja e são conduzidas diretamente entre eles”. “O padre se pronunciou a respeito”, completou.

Denúncias contra o padre Júlio Lancellotti

Em novembro o deputado federal Junio Amaral (PL-MG) e sua mulher Marília Amaral anunciaram no Instagram que entregaram à Embaixada da Santa Sé, em Brasília (DF), um abaixo-assinado com mil assinaturas apresentando denúncias contra o padre Júlio Lancellotti. O casal diz em vídeo publicado em suas redes sociais que o documento também seria encaminhado para o Dicastério para a Vida Consagrada, no Vaticano, “para as autoridades competentes, para que eles possam investigar e dar uma resposta ao povo sobre esses abusos que o padre vem cometendo frequentemente no nosso país”, diz Marília.

“Que a gente não se curve mais às pessoas que usam de seu poder religioso pra promover abusos, pra promover politicagem e, principalmente, para induzir tantos fiéis ao erro”, diz Marília.

Em outro vídeo publicado em outubro, Marília enumera algumas denúncias feitas contra o padre Júlio Lancellotti, todas de casos já divulgados anteriormente na imprensa, como sincretismo religioso, manifestações políticas em missa e a afirmação de que “catolicismo foi inventado depois do Constantino”.

 “No tempo de Jesus, tinha os fariseus, os saduceus, os herodianos. Jesus não foi de nenhum desses grupos. E Jesus também não era católico, porque nem tinha Igreja Católica no tempo de Jesus. O catolicismo foi inventado depois do Constantino”, disse o padre.

Depois da repercussão negativa nas redes sociais, o padre publicou um vídeo pedindo “perdão por afirmações equivocadas e errôneas”, sem especificar o motivo da retratação. No vídeo, Júlio Lancellotti também reafirmou sua “fé católica, apostólica, romana”, sua “obediência à hierarquia católica” e “ao bispo” ao qual é “jurisdicionado na arquidiocese de São Paulo”.

Na ocasião, ACI Digital perguntou à arquidiocese de São Paulo se o vídeo de retratação tinha sido publicado a pedido do cardeal Odilo Scherer. Em resposta, a arquidiocese disse que o vídeo tinha sido publicado pelo padre por “iniciativa pessoal dele”.

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