A arquidiocese de São Paulo (SP) disse ontem (5) que não arquivou denúncias de abuso sexual de menor contra o padre Júlio Lancellotti, pároco da igreja de São Miguel Arcanjo e vigário episcopal para o povo da rua da arquidiocese.

A arquidiocese disse ter publicado a nota “diante das interpretações equivocadas e amplamente divulgadas na opinião pública” sobre outra nota de esclarecimento publicada em 23 de janeiro sobre denúncia contra o padre Júlio Renato Lancellotti, recebida da presidência da Câmara de São Paulo em 22 de janeiro.

A denúncia de janeiro se refere a um vídeo que mostraria o padre e um menor de idade.

“O arquivamento mencionado naquela nota referia-se ao procedimento investigativo realizado pela Cúria Metropolitana em 2020. É o que já se dizia na mesma nota de 23 de janeiro”.

“A recente divulgação de laudos periciais com resultados contraditórios e a notícia de um suposto novo fato de abuso sexual envolvendo o referido sacerdote requerem uma nova investigação da parte da Arquidiocese para a busca da verdade”, conclui a nota de ontem assinada pelo padre Michelino Roberto Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo.

A nova denúncia foi feita pelo jornalista Cristiano Gomes, que acusou o padre Lancellotti de abuso sexual que teria ocorrido em 1987, quando ele tinha 11 anos e era coroinha da paróquia São Miguel Arcanjo. A acusação foi publicada pela revista Oeste em 30 de janeiro.

“Não houve e não há arquivamento dessa atual denúncia e a Arquidiocese segue atenta aos ulteriores elementos sobre os fatos denunciados e a toda investigação séria, fazendo o que lhe compete conforme a norma da Igreja e investigando o caso na área de sua competência, distante de interesses ideológicos e políticos, com serenidade e objetividade”, diz o comunicado.

A nota fala em interesses ideológicos e políticos porque as acusações com o padre Júlio Lancellotti vêm de setores identificados como conservadores. O padre foi incluído em um pedido de CPI sobre ONGs que atuam na Cracolândia, região do centro de São Paulo que concentra usuários de droga, feito pelo vereador Rubinho Nunes, do União Brasil.

O vídeo supostamente incriminatório chegou à arquidiocese por meio do presidente da Câmara Municipal de São Paulo, o vereador Milton Leite (União Brasil - SP).

A revista Oeste, que publicou a nova acusação, se identifica como conservadora.

O padre Júlio Lancellotti é ligado ao Partido dos Trabalhadores.

“Lutamos muito para te eleger, presidente”, disse o padre ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em evento no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), que marcou a regulamentação da lei Padre Júlio Lancellotti, que “veda o emprego de técnicas construtivas hostis em espaços livres de uso público”, em 13 de dezembro de 2023.

“Para que os moradores de rua, as mulheres, os LGBTs, os indígenas, as religiões de matriz africana, os sem religião e os que lutam pela dignidade humana pudessem voltar a esse palácio”, disse o padre Júlio Lancellotti, disse o padre.

Lancellotti publicou ontem (5) nas redes sociais uma nota sobre as acusações que vem sofrendo.

“Recebo, com serenidade e paz de espírito, a nota da Arquidiocese de São Paulo, publicada na presente data, informando que apura as acusações lançadas nos últimos dias. Esclareço que as imputações surgidas recentemente - assim como aquelas que sobrevieram no passado - são completamente falsas, inverídicas e tenho plena fé que as apurações conduzidas pela arquidiocese esclarecerão a verdade dos fatos”.

“As acusações estão imbricadas em uma rede de desinformação que mascara eventuais interesses de setores do poder político e econômico em ceifar aquilo que é o sentido do meu sacerdócio: a luta pelos desamparados e pelo povo de rua”, diz o padre.