O projeto Il senso del Pane (O Significado do Pão), da Fundação Casa dello Spirito e delle Arti (Casa do Espírito e das Artes) foi criado para restaurar a autoconfiança dos presidiários dando-lhes uma responsabilidade que beira o sagrado: fazer as hóstias que serão usadas na Eucaristia.

“Esse projeto tem o desejo de testemunhar a presença real de Jesus na Eucaristia”, disse Arnoldo Mosca Mondadori, presidente da fundação, à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI.

De Francisco a Leão XIV

Em 2016, no Jubileu da Misericórdia, a fundação lançou a primeira oficina de produção de hóstias na prisão de Opera, em Milão, com a participação de detentos condenados por homicídio.

Naquele ano, o papa Francisco consagrou essas hóstias: um gesto que foi continuado por seu sucessor. Na missa celebrada no último domingo (14) por Leão XIV para o Jubileu dos Reclusos, foram consagradas as hóstias das oficinas eucarísticas das prisões de Opera, San Vittore e Bollate, que ficam em Milão, Itália.

Um Pão redentor

Esse pão já tem uma forma de sacralidade”, diz Mosca Mondadori. “Ele passou pelas mãos dos mais necessitados. E então chega ao altar e se torna Jesus. O projeto visa mostrar, precisamente, a união indissociável entre Cristo e os pobres”.

A fundação selecionou prisões onde pessoas que cometeram crimes graves estão cumprindo suas penas. "De roubo a homicídio", diz Mosca Mondadori.

“É um sonho muito pessoal”, diz ele. “Acredito que a Eucaristia é o próprio centro do significado, o verdadeiro sentido da realidade. No entanto, esse maravilhoso mistério, que produz frutos concretos como a conversão de pessoas que cometeram os crimes mais horríveis, é frequentemente ignorado no nosso mundo”.

O fundador da Casa dello Spirito e delle Arti testemunhou essa redenção em primeira mão em muitas ocasiões. “São pessoas que cometeram crimes graves”, diz Mondadori. “Muitas foram condenadas à prisão perpétua e perderam qualquer esperança de que as coisas possam melhorar”.

O primeiro passo para que a luz comece a brilhar é reconhecer os próprios erros e ter uma disposição permanente para assumir a responsabilidade. “É essencial que os detentos reconheçam seus erros”, diz ele. “Isso requer um processo de autoconhecimento. E esse é o verdadeiro ponto de partida”.

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Impacto internacional

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O projeto colabora com a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC), fundada no Brasil em 1972 pelo leigo Mário Ottoboni como alternativa ao sistema prisional tradicional, então marcado pela violência e superlotação.

Sua proposta era radical: prisões sem policiais armados, baseadas na responsabilidade pessoal, na confiança e na participação da comunidade.

Graças também a essa colaboração, Il senso del pane faz 32 oficinas eucarísticas em 20 países. Cerca de 15 mil dioceses, congregações religiosas, paróquias, mosteiros e organizações cristãs italianas e de outros países aderiram a essa iniciativa, por meio da qual recebem gratuitamente as hóstias produzidas nas várias oficinas.

Exemplo para os mais pequenos

Essa iniciativa ultrapassou os muros da prisão. Oficinas eucarísticas foram criadas em áreas devastadas pela guerra e pela pobreza, como a Faixa de Gaza.

Os próprios detentos oferecem seu testemunho a garotos e garotas que se preparam para a primeira comunhão, divulgando sua história com verdade e humildade.

“Isso ajuda as crianças e os jovens a reconhecer suas próprias sombras e fragilidades”, diz Mosca Mondadori.

Nas reuniões, os detentos se apresentam como um são Paulo apóstolo contemporâneo: alguém que pecou gravemente, reconheceu sua culpa e mudou de vida.

“As crianças veem com os próprios olhos que é possível reconhecer os próprios erros e se transformar”, conclui Mondadori. “Elas recebem conselhos simples, mas autênticos, fruto da experiência. E, por fim, recebem o mesmo Pão com o qual farão a Primeira Comunhão”.