No avião a caminho de casa depois de sua primeira viagem internacional, o papa Leão XIV mencionou um livro que influenciou sua espiritualidade, ao responder a um jornalista sobre o conclave e como foi se tornar papa.

“Além de santo Agostinho”, disse o papa Leão XIV, A Prática da Presença de Deus, do frade carmelita irmão Lourenço da Ressurreição, do século XVII, é um livro que pode ajudar qualquer pessoa a compreender sua espiritualidade.

“É um livro muito simples, escrito há muitos anos por alguém que nem assina com o seu sobrenome”, disse o papa aos jornalistas no avião papal, na terça-feira (2). “Eu o li há muitos anos, mas descreve um tipo de oração e espiritualidade onde simplesmente entregamos nossa vida ao Senhor e permitimos que Ele nos guie”.

“Se querem saber algo sobre mim, sobre minha espiritualidade ao longo de muitos anos, em meio a grandes desafios, vivendo no Peru durante os anos do terrorismo, sendo chamado a servir em lugares em que jamais poderia ter pensado que seria chamado para servir. Eu confio em Deus e essa mensagem é algo que compartilho com todas as pessoas”, continuou ele. 

O papa Leão XIV mencionou o livro quando respondia sobre a experiência que teve no conclave e disse: "Eu me rendi quando vi como as coisas estavam indo e disse que isso poderia se tornar realidade". 

"Respirei fundo e disse: ‘Eis-me aqui Senhor, Tu és o chefe, Tu guias o caminho’”, disse ele. 

Quem foi o irmão Lourenço

A Prática da Presença de Deus é uma coletânea dos ensinamentos do irmão Lourenço, registrados em cerca de 30 páginas de cartas e anotações de suas conversas. 

Embora o irmão Lourenço fosse praticamente desconhecido em vida, o padre Joseph de Beaufort compilou sua sabedoria em um panfleto publicado logo depois de sua morte, em 1691. O livro é hoje apreciado tanto por católicos quanto por protestantes. 

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Em seus escritos, o irmão Lourenço apresenta uma espiritualidade que envolve estar em constante contato com Deus, sendo acompanhado por Ele em todas as coisas — desde cozinhar até consertar sapatos. 

Antes de se tornar irmão Lourenço, Nicholas Herman lutou na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Por causa de um ferimento de guerra, sua perna ficou com mobilidade limitada, causando-lhe dores constantes pelo resto da vida. Mas, quando jovem adulto, teve uma visão de Cristo que o inspiraria para o resto da vida; ou, como de Beaufort recordou: “que nunca mais foi apagada de sua alma”.

Ele então entrou para a Ordem dos Carmelitas Descalços em Paris, na qual realizou um trabalho humilde como cozinheiro e, eventualmente, também trabalhou na oficina de conserto de sandálias.  

O irmão Lourenço acreditava que as pequenas coisas podiam agradar a Deus tanto quanto as grandes coisas. 

“Não devemos nos cansar de fazer pequenas coisas por amor a Deus, que não leva em conta a grandeza da obra, mas o amor com que ela é realizada”, ensinava ele.

Em meio ao ambiente agitado de uma cozinha que servia cerca de 100 pessoas, ele ainda conseguia se conectar com Deus. 

Em uma conversa Beaufort lembrou que o irmão Lourenço dizia que “o tempo de trabalho… não difere para mim do tempo de oração”.

“E no barulho e na confusão da minha cozinha, enquanto várias pessoas pedem coisas diferentes ao mesmo tempo, eu tenho a presença de DEUS com a mesma tranquilidade que teria se estivesse de joelhos diante do Santíssimo Sacramento”, continuou ele.