Em uma Beirute ainda marcada pelos sons do conflito de 2024 entre o Hezbollah e Israel, o papa Leão XIV exortou o Líbano a superar a violência e a divisão. “Líbano, levanta-te! Sê casa de justiça e de fraternidade! Sê profecia de paz para todo o Levante!”, disse ele em uma missa com a presença de cerca de 150 mil pessoas na orla de Beirute.

A liturgia concluiu o último dia da visita do papa a uma nação marcada por intermitentes paralisias políticas, recessão econômica e instabilidade persistente. A própria orla marítima carrega um peso simbólico. Construída em terras recuperadas do mar com escombros do centro de Beirute, destruído durante a guerra civil, ela passou a representar tanto a perda quanto a reconstrução.

Na homilia, o papa Leão XIV falou de louvor, esperança, beleza e responsabilidade, clamando por união em um momento de fratura nacional. Ele reconheceu os fardos carregados pelo povo libanês e disse que o louvor se torna difícil quando “estamos sobrecarregados pelas dificuldades da vida”. O Líbano, acrescentou, sofreu “muitos problemas” e “situações difíceis” que deixam as pessoas se sentindo impotentes.

O papa exortou o país a redescobrir a gratidão. O Líbano, disse ele, é “o destinatário de uma rara beleza”, embora essa beleza muitas vezes seja ofuscada pelo sofrimento. O país também é, disse ele, testemunha de como “o mal, de múltiplas formas, pode ofuscar esta magnificência”.

Do espaço aberto da costa, ele evocou imagens bíblicas do Líbano. Em seguida, falou das feridas atuais da nação: pobreza, instabilidade política, colapso econômico e o medo renovado depois do conflito. Ele mencionou a sua oração na manhã de hoje no porto de Beirute, local da explosão de 2020, e relacionou essa visita ao trauma nacional mais amplo. Nessas circunstâncias, disse ele, o louvor e a esperança podem dar lugar à desilusão.

O papa convidou os fiéis a procurarem “pequenas luzes brilhantes no coração da noite”. Jesus agradece não por ações extraordinárias, mas pela fé e humildade dos “pequeninos”, disse ele, mencionando os “pequenos sinais de esperança” encontrados em famílias, paróquias, comunidades religiosas e leigos que continuam dedicados ao serviço e ao Evangelho. Essas luzes, disse ele, prometem renascimento.

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Ele exortou o país a não ceder à “lógica da violência” ou à “idolatria do dinheiro” e pediu a todos os libaneses que trabalhem juntos. “Cada um deve fazer a sua parte”, disse o papa. “Despertemos no nosso íntimo o sonho de um Líbano unido onde triunfem a paz e a justiça, onde todos possam reconhecer-se irmãos e irmãs”.

Ao final da missa, o papa ofereceu uma oração espontânea pela paz na região e no mundo, convocando os “cristãos do Levante” a serem “construtores da paz, anunciadores da paz, testemunhas da paz”.

Cerimônia de despedida

Depois da missa, o papa foi para o Aeroporto Internacional de Beirute para uma cerimônia de despedida, onde foi recebido pelo presidente.

Em palavras de pesar, o papa relembrou a visão do porto naquela manhã e elogiou a resiliência do povo libanês. “Sois fortes como os cedros, as árvores das vossas belas montanhas, e carregados de frutos como as oliveiras que crescem na planície, no sul e perto do mar”.

O papa também saudou as regiões do país que não pôde visitar e reiterou seu apelo pela paz. “Que cessem os ataques e as hostilidades”, disse ele. “Ninguém acredite mais que a luta armada traz algum benefício. As armas matam; a negociação, a mediação e o diálogo edificam. Escolhamos todos a paz como caminho, não apenas como meta!”.