O secretário da Conferência Episcopal Católica de Bangladesh criticou a condenação à morte da ex-primeira-ministra Sheikh Hasina como unilateral e politicamente motivada, reafirmando a oposição da Igreja à pena capital.

Em julho do ano passado, protestos estudantis contra cotas de emprego se transformaram em levante popular que forçou Hasina a fugir para a Índia em 5 de agosto. Uma equipe de investigação da Organização das Nações Unidas disse que cerca de 1,4 mil pessoas foram mortas, embora ativistas de Bangladesh acreditem que o número ultrapasse 2 mil.

Hasina vive exilada na Índia desde que fugiu do país. Num comunicado divulgado por meio de seu partido, a Liga Awami, no Facebook, ela classificou os veredictos como “tendenciosos e politicamente motivados”, proferidos por “um tribunal fraudulento, estabelecido e presidido por um governo não eleito e sem mandato democrático”.

O bispo de Mymensingh, Ponen Paul Kuni, CSC, disse à CNA, agência em inglês da EWTN, que o veredito proferido ontem (17) pelo Tribunal Penal Internacional de Bangladesh foi “unilateral”, que “o acusado não tinha advogado e que o governo atual usou o poder político para proferir esse veredicto”.

“A Igreja Católica nunca apoiou a pena de morte”, disse o bispo. “Acho que, mesmo que Sheikh Hasina tenha cometido um crime, ela deve ser punida de um modo que seja reparador”.

"Se julgarmos com pressa e dermos um veredicto como bem entendermos, não estaremos mais vivendo numa civilização, mas sim de volta à era primitiva", disse Kubi.

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O Tribunal Penal Internacional de Bangladesh considerou Hasina, de 78 anos de idade, culpada de crimes contra a humanidade relacionados à repressão violenta de protestos estudantis em julho e agosto do ano passado. O tribunal condenou in absentia Hasina e seu ex-ministro do Interior, Asaduzzaman Khan Kamal, à morte. O ex-inspetor-geral da polícia, Chowdhury Abdullah Al-Mamun, testemunhou contra os acusados e foi condenado a cinco anos de prisão.

A sentença de 453 páginas, transmitida ao vivo ontem por televisão estatal declarou Hasina culpada de três das cinco acusações, como ordenar o uso de drones, helicópteros e armas letais contra manifestantes e não impedir assassinatos em massa.

O veredito provocou reações bastante divergentes em Bangladesh. Enquanto o partido Liga Awami, proibido, fez marchas de protesto em várias regiões, pessoas comuns organizaram passeatas de comemoração na maioria das regiões, como na capital, Daca, onde doces foram distribuídos.

"Só ficaremos completamente felizes quando Sheikh Hasina vier ao país e for enforcada", disse à CNA Tarif Hasan, estudante da Universidade de Daca que participou da marcha comemorativa.

O professor Asif Nazrul, consultor jurídico do governo interino, descreveu a sentença de morte como "a maior conquista no estabelecimento da justiça" e a chamou de "mais um dia de vitória para a Revolta de Julho".

Está agendada uma audiência pública sobre o caso, e o governo interino solicitou formalmente a cooperação da Índia na extradição de Hasina para que ela compareça diante do tribunal. As eleições nacionais em Bangladesh estão previstas para fevereiro do ano que vem.