11 de nov de 2025 às 10:48
O cardeal Gerhard Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, conclamou a superar as divisões ideológicas na Igreja, em uma entrevista a La Sacristía de la Vendée, na qual reflete sobre a "instrumentalização" dos casos de abuso.
Feita em julho, a entrevista foi divulgada no domingo (9) depois do coordenador do grupo de discussão sacerdotal, padre Francisco José Delgado, ter sido declarado inocente das acusações de “incitar o ódio” contra a Santa Sé, interferir na investigação sobre o Sodalício de Vida Cristã (SCV, na sigla em latim) e afetar a “boa reputação” do leigo José Enrique Escardó, um dos principais promotores do processo contra o SCV.
O cardeal Müller disse que, desde o início da Igreja, houve divisões nela "por causa de falsas doutrinas, heresias ou ideologias pagãs" e propôs que "todos devem estar conscientes de seguir Jesus Cristo e não às ideologias".
Para o cardeal, dentro da Igreja não é possível definir-se como conservador, tradicionalista ou progressista. “Temos que superar essas divisões que vêm da Revolução Francesa, dos jacobinos”, disse Müller. “Naquele parlamento havia esses grupos de direita e de esquerda, mas esses são conceitos políticos e ideológicos, e não conceitos cristãos”.
“Formamos uma só unidade em Jesus Cristo, um só Cristo, cabeça da Igreja, e somos membros de um só corpo, um só Senhor, um só Deus, um só batismo e uma só Eucaristia”, disse o cardeal. “Os sacramentos são válidos para todos, e estamos unidos no amor, na fé e na esperança. Essa é a definição da Igreja, não de uma ideologia ou de uma ONG (Organização Não Governamental)”.
Casos de exploração de abusos
O cardeal Müller falou sobre os processos canônicos decorrentes de acusações de abuso sexual e o uso deles tanto dentro quanto fora da Igreja. Depois de dizer que as vítimas “com razão exigem justiça”, ele disse que “a justiça não pode ser exigida ou feita à custa dos inocentes”. Para condenar uma pessoa, disse o cardeal, “precisamos de provas da culpa dela e também de um julgamento adequado”.
“Além desses casos reais, também temos um número considerável de acusações falsas”, especialmente contra padres que já morreram. guns inimigos da Igreja exploram escândalos, ou mesmo casos sem escândalo, quando se trata de pessoas inocentes falsamente acusadas, para prejudicar a imagem do sacerdote católico”.
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Em resposta às amplas investigações sobre toda a Igreja, o prefeito emérito do dicastério para a Doutrina da Fé disse que os casos individuais deveriam ser examinados “não contra um grupo” indiscriminadamente, porque, na opinião dele, “isso também é pensamento totalitário”.
Sobre isso, Müller disse que o crime de abuso “tem a causa na moralidade ou imoralidade de uma pessoa, não na graça divina” do sacramento da ordem, no caso dos sacerdotes. Caso contrário, disse o cardeal alemão, seria preciso dizer que “Jesus Cristo é responsável pela traição de Judas”.
“O Estado não é Deus”
A conversa do padre Delgado com o cardeal Müller também girou em torno da realidade do martírio na Espanha do século XX e do Vale dos Caídos como um monumento de reconciliação que o governo espanhol deseja redefinir.
Para o cardeal, “a reconciliação na sociedade, na Igreja, em qualquer comunidade não é possível se os acontecimentos do passado forem esquecidos”, dizendo que os mártires “são a coroa, as joias da Igreja”.
“Eles são mártires do Evangelho, testemunhas da ressurreição, da vitória de Jesus ressuscitado, e, portanto, são os primeiros a nos convidar a todos a superar as ideologias que dividem as comunidades e a Igreja”, disse Müller.
“O Estado precisa se retirar da consciência das pessoas”, disse o cardeal alemão. “O Estado não é Deus no mundo”.







