6 de nov de 2025 às 09:34
O bispo de Orihuela-Alicante, Espanha, José Ignacio Munilla, falou ontem (5) sobre um dos riscos da atual polarização mundial e disse que não se deve pensar que "meus inimigos são os de outra religião".
“Um dos riscos que surge da polarização é a percepção de que meus inimigos são aqueles de outra religião. Não. Nosso desafio não são aqueles que têm uma religião diferente, mas sim aqueles que não respeitam a liberdade religiosa”, disse o bispo na conferência de imprensa de apresentação do Relatório sobre Liberdade Religiosa 2025 da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN).
“É verdade que nós, cristãos”, disse ele, “fomos mais instruídos no princípio do respeito à liberdade religiosa, mas o nosso inimigo não é quem professa uma religião diferente, e sim quem não compreende que a religião deve ser um espaço de encontro e não de confronto”.
O bispo disse que, atualmente, “existe o risco de não sabermos como coexistir entre as religiões. E creio que o que é próprio do cristianismo… como o Concílio Vaticano II fez de modo muito abrangente, é educar no diálogo inter-religioso” e no diálogo ecumênico entre as denominações cristãs.
“Somos chamados a desenvolver e estabelecer princípios para o diálogo, mas obviamente também vivemos num Estado não-confessional”, disse Munilla. “A Igreja parte do princípio de que vivemos num Estado não-confessional, mas, como a própria Constituição espanhola diz, trata-se de um Estado não-confessional com profundas raízes históricas católicas. As duas coisas são compatíveis”.
O bispo espanhol disse também que “seria um erro colocar todos no mesmo saco sob o rótulo de fundamentalismo".
Por exemplo, identificar muçulmanos com jihadistas fundamentalistas seria um erro”, disse Munilla. “E acho que esse é um risco que está acontecendo”.
Atualmente, existem cerca de 2,16 bilhões de muçulmanos no mundo, sendo 26,3% da população global, segundo o site horario-salat.org, que divulga estatísticas detalhadas sobre os seguidores do islã. E, segundo o Pew Research Center, o islã é a religião que mais cresce, com uma estimativa de 2,8 bilhões de muçulmanos até 2050.
Uma reflexão sobre a liberdade religiosa no Ocidente.
“Acredito que no Ocidente”, disse o bispo, “o principal risco que nós, países ocidentais e europeus, enfrentamos atualmente, e que pode comprometer a liberdade religiosa, é a imposição de um único modo de pensar em detrimento da liberdade de consciência”.
“A imposição de um único modo de pensar, essa cultura do cancelamento woke, eu acho que é um grande risco, de modo que no fim, por exemplo, a autoridade dos pais sobre a educação de seus filhos não seja respeitada, e as coisas sejam impostas a eles de fora”, disse Munilla.
A palavra woke, que pode ser traduzida do inglês para o português como "desperto", começou a ser usada nos EUA como referência à conscientização sobre o racismo. Gradualmente, ela se espalhou para outras áreas, como a desigualdade social sob uma perspectiva de esquerda, a ideologia de gênero, o movimento LGBT e o feminismo radical.
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O bispo também falou sobre situações em que se pretende que "aqueles que, devido às suas circunstâncias, não desejam fazer abortos, sejam colocados numa lista que é quase um alvo, uma lista de resistentes, e a privacidade deles não seja respeitada".
"Existem, digamos, maneiras insidiosas no Ocidente que, a partir de um único modo de pensar, podem exercer pressão que não respeita suficientemente a liberdade de consciência das pessoas", disse ele.
Liberdade religiosa como fundamento dos direitos humanos
Na conferência de imprensa, o bispo Munilla disse que "o princípio da liberdade religiosa é uma questão que obviamente diz respeito e afeta aqueles que professam uma fé e não são respeitados".
“Mas eu diria ainda que, quando o princípio da liberdade religiosa não é respeitado, muitos outros direitos ficam em perigo, porque, em sua essência, trata-se do direito à liberdade de consciência”, enfatizou Munilla.
O bispo disse também que "é impossível que o princípio da liberdade religiosa desmorone, como está acontecendo na China, sem que ocorram simultaneamente muitas outras violações dos direitos humanos".
Relatório ACN 2025
O Relatório ACN 2025 sobre Liberdade Religiosa abrange 196 países e diz que violações desse direito existem em 62 deles. Em 24 desses países, as violações são graves ou muito graves; e em 38, há discriminação religiosa.
A conferência de imprensa disse que "o mais alarmante de tudo é que, segundo esses dados, 220 milhões de cristãos estão diretamente expostos à perseguição".




