O secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, falou sobre a existência de "prisões injustas" e "opressão" na Venezuela na missa de ação de graças pela canonização dos dois primeiros santos do país que celebrou ontem (20).

Em sua homilia, o cardeal pediu que se siga o exemplo de são José Gregorio Hernández e santa Carmen Rendiles, canonizados na praça de São Pedro no domingo (19) pelo papa Leão XIV, para que a Venezuela possa passar "da morte para a vida" por meio do amor aos irmãos, com base na Primeira Carta de são João.

"Quem não ama permanece na morte", disse o cardeal, segundo o Vatican News, serviço de informações da Santa Sé.

Nos santos venezuelanos, disse Parolin, "essa antiga mensagem foi heroicamente atualizada".

"Eles nos chamam a viver essa mensagem como nossa, seguindo o exemplo do Mestre e Senhor o exemplo que eles nos deram", disse ele na missa celebrada ontem no Altar da Cátedra da basílica de São Pedro, no Vaticano.

Então, num apelo direto ao país, o cardeal Parolin disse: “Só assim, querida Venezuela, passarás da morte para a vida! Só assim, querida Venezuela, a tua luz brilhará na escuridão, a tua escuridão se tornará meio-dia, se ouvires a Palavra do Senhor que te chama a abrir as prisões injustas, a quebrar os ferrolhos das algemas, a libertar os oprimidos, a quebrar todas as algemas”.

No início de sua homilia, o secretário de Estado da Santa Sé falou sobre a emoção de ter dois venezuelanos adicionados ao Livro dos Santos com os vários peregrinos, bispos e padres que foram a Roma do país latino-americano para a canonização.

Santos “para todos”

“Nossos corações estão repletos da mesma alegria que experimentamos ontem na praça de São Pedro, porque a Venezuela tem seus primeiros santos”, disse o cardeal Parolin. “Não um, mas dois: santos para todos”.

Inspirado pela primeira leitura, tirada do livro do profeta Isaías (58, 6-11), o cardeal disse que os santos venezuelanos encarnaram o chamado à misericórdia e ao serviço: “Como uma só voz, são José Gregório e madre Carmen respondem ao convite do texto bíblico: partilha o pão com os famintos, acolhe os desabrigados, veste quem vês nu e não vires as costas à tua própria carne”.

Sobre o homem conhecido como o "médico dos pobres", que tratava os doentes de graça e até pagava seus próprios remédios, Parolin falou sobre como "o vemos caminhando solicitamente pelas ruas da cidade, levando conhecimento médico, mas também o bálsamo do conforto".

"Muitos diziam que sua mera presença era curativa", disse o cardeal.

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Sobre santa Carmen Rendiles, também muito querida na Venezuela, o cardeal Parolin enfatizou que a Igreja "quer prestar homenagem à mulher forte que trabalha e constrói, e que garante a transmissão da fé às gerações a ela confiadas".

"Nela, a Igreja celebra a força do gênio feminino venezuelano", disse ele.

“Construir sobre os alicerces da justiça”

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O cardeal também fez um firme apelo à reconciliação nacional e à reconstrução do tecido social do país, enfatizando que a verdadeira paz só pode ser alcançada "sobre os fundamentos da justiça, da verdade, da liberdade e do amor".

"Só assim, querida Venezuela, poderás cumprir a tua vocação de paz", disse Parolin, "se a construíres sobre os fundamentos da justiça, da verdade, da liberdade e do amor; respeitando os direitos humanos, criando espaços de encontro e convivência democrática, priorizando o que une em vez do que divide, buscando os meios e as oportunidades para encontrar soluções comuns para os grandes problemas que te afetam, colocando o bem comum como objetivo de toda a atividade pública".

“Um kairós para a Venezuela”

O secretário de Estado da Santa Sé disse que a canonização dos dois santos é um momento providencial para o país: "A canonização de José Gregorio Hernández e Madre Carmen é um kairós, um momento oportuno para trilhar esse caminho. Não o deixem passar em vão!"

A cerimônia foi acompanhada pelo Coral Simón Bolívar do Sistema de Orquestras Venezuelanas, que cantou canções tradicionais e litúrgicas.