13 de out de 2025 às 11:36
O papa Leão XIV exortou os pensadores cristãos a mostrar que “a racionalidade humana é um dom expressamente desejado pelo Criador” que, de mãos dadas com a fé, permite ao homem ter o seu encontro com Jesus Cristo, “que nos revela o Pai”.
O papa fez esse convite em sua mensagem aos participantes do Congresso Internacional de Filosofia, realizado de 8 a 10 de outubro na Universidade Católica Nossa Senhora da Assunção, no Paraguai.
Em sua mensagem, lida pelo bispo de Encarnación, Francisco Javier Pistilli Scorzara, grão-chanceler da universidade, Leão XIV destacou o objetivo do congresso de "analisar o papel e o significado do pensamento filosófico cristão na configuração cultural do continente a fim de iluminar, a partir da fé, os desafios contemporâneos".
O papa disse que o desejo de ser um lugar de encontro é louvável, especialmente dada a tentação "de quem via na reflexão racional - porque surgida em âmbito pagão - uma ameaça que poderia poluir a pureza da fé cristã".
O papa Leão XIV disse que o papa Pio XII já havia alertado sobre essa tentação em sua encíclica Humani generis e que essa desconfiança da filosofia foi percebida até mesmo “em alguns autores modernos, como o teólogo reformado Karl Barth”.
“Perante isto, santo Agostinho dizia: Quem, portanto, acredita que a filosofia deve ser evitada em sentido absoluto, simplesmente supõe que não amamos a sabedoria (De ordine, I, 11, 32)”, disse o papa. “Por isso, o crente não deveria ficar alheio ao que propõem as diversas escolas filosóficas, mas entrar em diálogo com elas a partir da Sagrada Escritura”.
Para Leão XIV, “o pensamento filosófico é um espaço privilegiado de encontro com aqueles que não compartilham o dom da fé”, e que a experiência lhe mostrou “que a descrença está frequentemente ligada a uma série de preconceitos históricos, filosóficos e de outros tipos”.
Portanto, "sem reduzir a filosofia a mero instrumento apologético, é imenso o bem que um filósofo crente pode realizar com o seu testemunho de vida e com aquilo que o apóstolo Pedro nos encoraja a fazer: Adorai o Senhor, Cristo, no vosso coração, sempre prontos a responder a quem vos perguntar a razão da esperança que há em vós (1 Pd 3, 15)", disse o papa.
Em sua mensagem, o papa também falou sobre o desejo de “alcançar o conhecimento transcendente através da mera análise racional”.
Ele ressaltou que pensadores como Hegel e o monge Pelágio, cujas ideias levaram à heresia do pelagianismo, caíram no erro de "pensar que a razão e a vontade são suficientes para chegar à verdade". Pelágio dizia na antiguidade "que a vontade humana era suficiente para cumprir os mandamentos sem a ajuda indispensável da graça, tese a que santo Agostinho respondeu de modo abrangente e profundo".
Leão XIV exortou os fiéis para ter em mente que a filosofia pode atingir alturas iluminadoras, mas também "descer a abismos sombrios de pessimismo, misantropia e relativismo, onde a razão, fechada à luz da fé, se torna sombra de si mesma".
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"Nem tudo o que tem o nome de racional ou filosófico tem o mesmo valor em si próprio: a sua fecundidade mede-se pela sua conformidade com a verdade do ser e pela sua abertura à graça que ilumina toda a inteligência", disse o papa.
Por isso, ele incentivou a contribuição do cristianismo "para que a nobre tarefa de filosofar revele cada vez mais e melhor a dignidade do homem criado à imagem de Deus, a clara distinção entre o bem e o mal e a fascinante estrutura da realidade que conduz ao Criador e Redentor".
Leão XIV também exortou os fiéis a buscar o diálogo, assim como fizeram grandes pensadores, teólogos e filósofos cristãos que demonstraram "que a racionalidade humana é um dom expressamente desejado pelo Criador e que a busca mais profunda da nossa inteligência tende para a sabedoria, que se manifesta na criação e alcança o seu ponto culminante no encontro com nosso Senhor Jesus Cristo, que nos revela o Pai".
O papa Leão XIV citou como exemplos o filósofo e mártir são Justino, são Boaventura e São Tomás de Aquino, que mostraram “que a fé e a razão não só não se opõem uma à outra, mas também se apoiam e complementam admiravelmente”.
Ele também citou a encíclica Fides et ratio, na qual o papa são João Paulo II disse que “a íntima ligação entre a sabedoria teológica e o conhecimento filosófico é uma das riquezas mais originais da tradição cristã no aprofundamento da verdade revelada» (Fides et ratio, n. 105)”.
“Numa época em que tantas coisas, e até as próprias pessoas, são vistas como descartáveis, e em que a proliferação dos progressos tecnológicos parece deixar na penumbra os problemas mais transcendentes, a filosofia tem muito a questionar e a oferecer no diálogo entre fé e razão, entre Igreja e mundo”, disse o papa.
"Sem dúvida, mais pelas suas perguntas do que pelas suas respostas, a filosofia permite-nos analisar o núcleo de valores e defeitos presentes em cada povo”, disse Leão XIV. “Nessa linha, o trabalho dos filósofos crentes não pode limitar-se a proclamar, ainda que com linguagem elaborada, o que é exclusivo da própria cultura".
O papa disse que, em sua Carta a Dióscoro, “santo Agostinho diz que não se deve amar a verdade porque se chegou a conhecê-la através deste ou daquele sábio ou filósofo, mas porque é a verdade, mesmo que nenhum daqueles filósofos a tivesse conhecido (Carta a Dióscoro, 118, IV, 26)”.
O papa encorajou os pensadores a ajudar a situar as ideias "no conjunto das grandes tradições de pensamento".
“Desse modo, a sua contribuição será magnífica e se, além disso, os bispos, sacerdotes e missionários chamados a levar a Boa Nova forem instruídos com esse conhecimento, a mensagem salvífica será transmitida numa linguagem mais compreensível e relevante para todos”, disse o papa.






