“Em um tempo marcado por tantas incertezas e angústias, celebrar o nascituro é um ato de profunda esperança, uma afirmação corajosa de que vale a pena acreditar no futuro, pois acreditamos no Deus que é o Senhor da Vida”, escreveu o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta em um artigo sobre o Dia do Nascituro, celebrado pela Igreja no Brasil amanhã (8).

Dom Orani Tempesta diz que, desde o dia 1º de outubro, “a Igreja no Brasil” convida os brasileiros “a uma jornada de reflexão e oração com a Semana Nacional da Vida”, que terá “seu ápice” amanhã, com a celebração do Dia do Nascituro, na qual reflete “a sacralidade e a inviolabilidade da vida humana, desde o seu primeiro instante na concepção até seu ocaso natural”.

“O fundamento” desta celebração, segundo o cardeal “não repousa sobre uma opinião filosófica ou uma preferência cultural, mas sobre a rocha firme da Revelação Divina” que “desde as primeiras páginas da Sagrada Escritura”, apresenta a vida humana “como o cume da obra criadora de Deus”.

“Ser imagem de Deus é a fonte da dignidade incomparável de cada pessoa. Esta dignidade não é adquirida por mérito, por capacidade de produção, por reconhecimento social ou por qualquer outro critério humano. Ela é um dom gratuito, impresso no ser de cada um de nós pelo próprio Deus, disse dom Orani enfatizando que “o nascituro, em sua pequenez e silêncio, já é portador desta imagem divina em sua plenitude” e “nele, já resplandece o selo do Criador”.

A ‘vida humana não é fruto do acaso’

“Cada vida humana não é fruto do acaso ou de uma cega necessidade biológica, mas de um pensamento eterno de amor de Deus”, mas “antes de existirmos no tempo, já existíamos em Seu coração”, disse o cardeal Tempesta.

Esta verdade, segundo dom Orani, “o saudoso papa são João Paulo II, em sua Carta Encíclica Evangelium Vitae” chamou-a de “o Evangelho da Vida”, “recordando que a vida de cada indivíduo é um dom a ser acolhido, respeitado e protegido”.

“Portanto, quando a Igreja se levanta em defesa do nascituro, ela não está impondo uma visão particular, mas proclamando uma verdade que diz respeito à própria essência do ser humano e ao futuro de toda a civilização”, disse o arcebispo ressaltando que “defender o nascituro é defender a humanidade de si mesma”.

“Cultura do descarte”

Para Tempesta, vivemos atualmente “imersos no que o papa Francisco denominava cultura do descarte”, uma mentalidade que tende a valorizar as pessoas por sua eficiência e utilidade.

“Nesta lógica, os mais vulneráveis, como os idosos, os doentes e, de modo particular, os nascituros, são vistos como um peso ou um problema a ser eliminado”, relatou. “A esta cultura do descarte, soma-se uma cultura do medo: o medo do futuro, a instabilidade econômica, as pressões de uma carreira profissional e um individualismo exacerbado que leva muitos a ver um filho não como um dom, mas como um obstáculo à realização pessoal”.

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“Diante deste cenário”, segundo dom Orani “a fé cristã nos oferece um antídoto poderoso: a virtude teologal da esperança”, na qual, mostra que “acolher uma nova vida é um ato supremo de esperança”.

“É acreditar que o amor é mais forte que o egoísmo, que a providência de Deus não nos abandona e que o futuro construído com generosidade é sempre mais luminoso”, disse o arcebispo. “O maior exemplo desta esperança corajosa nos vem da Sagrada Família”.

“A Virgem Maria, diante do anúncio do Anjo, não se deixou paralisar pelo medo do desconhecido ou pelo risco do juízo social”, mas disse “seu “sim” em “um ato de total confiança em Deus, um modelo de acolhida incondicional à vida”, assim como  São José que que, “em meio à sua perplexidade, escolheu o caminho da obediência a Deus, acolhendo Maria e o Menino que ela trazia no ventre”.

“A Sagrada Família de Nazaré, enfrentando a pobreza e a perseguição, nos ensina que nenhuma dificuldade é grande o suficiente para justificar a recusa do dom da vida”, frisou o cardeal. “A sua fé nos convida a ser, hoje, guardiões e protetores de cada nascituro, vendo em cada um deles o próprio Menino Jesus que busca acolhida em nosso mundo”.

Celebração do Dia do Nascituro

“A celebração do Dia do Nascituro, portanto, não pode se esgotar em belas reflexões; ela deve nos impulsionar a um compromisso concreto e multifacetado, a uma verdadeira “cultura da vida em ação”. Esta missão pertence a toda a Igreja e a todas as pessoas de boa vontade”, ressaltou Tempesta.

Ele destacou que, “primeiramente, nossas paróquias e comunidades devem ser, de fato, “santuários da vida””, criando “espaços de acolhida real e sem julgamentos para gestantes em dificuldade”. Em segundo lugar, que “as famílias” sejam como “igrejas domésticas”, “onde se aprende a amar e a valorizar a vida”, e os pais eduquem “seus filhos para uma visão cristã da sexualidade, do amor e do matrimônio, formando consciências que espontaneamente reconheçam a sacralidade de cada ser humano”.

Aos educadores, profissionais da saúde e cientistas, o arcebispo frisou que “eles têm uma responsabilidade imensa na formação das novas gerações e no cuidado com a vida” e disse: “Pedimos que sejam sempre servos da verdade, colocando sua inteligência e sua técnica a serviço da vida, e não da morte, resistindo às pressões que buscam transformar a medicina e a ciência em instrumentos contra a dignidade humana”.

“Como cidadãos, somos chamados a promover e defender leis e políticas públicas que protejam o nascituro e, ao mesmo tempo, deem todo o suporte necessário à gestante e à família". ressaltou. “Uma sociedade que verdadeiramente defende a vida não se limita a proibir o aborto; ela investe em saúde, em creches, em mecanismos de adoção ágeis e seguros e em amparo econômico para famílias vulneráveis, para que nenhuma mulher se sinta forçada a escolher entre a sua dignidade e a vida de seu filho”.

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Dom Orani concluiu declarando que o Dia do Nascituro “não é apenas uma data em nosso calendário litúrgico”, mas “é um convite anual para renovarmos nossa consciência e nosso compromisso com a verdade mais fundamental do Evangelho”, “é um chamado à conversão do nosso olhar”, mas também “é um convite a ver em cada vida concebida não um problema, mas uma promessa; não um fardo, mas um dom”.

“Que esta celebração renove em nós a coragem de sermos profetas e construtores da “civilização do amor””, pediu o arcebispo do Rio de Janeiro “confiando esta nobre causa à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Mãe e Padroeira do Brasil, peçamos a graça de sermos sempre fiéis ao Evangelho da Vida”.