O bispo de Caraguatatuba (SP), dom José Carlos Chacorowski fez um ato de desagravo “por santo Antônio”, padroeiro da cidade, ontem (5), durante a missa na catedral de Caraguatatuba. A imagem do santo foi usada em cartazes de divulgação da 1ª Marcha da Maconha do município, que ocorreu no sábado, 4 de outubro, com autorização da justiça.

“A imagem de santo Antônio é sagrada e faz parte do patrimônio imaterial, espiritual da nossa comunidade cristã”, ressaltou o bispo na missa.

Segundo dom José Carlos, “a comunidade católica de Caraguatatuba está sendo desrespeitada, injuriada” pelos cartazes “que estão sendo veiculadas” na mídia “convidando as pessoas para a 1ª marcha da maconha de Caraguatatuba”. Um dos cartazes, segundo o bispo, “está a imagem de santo Antônio com ramos de maconha, o menino Jesus no braço segurando um vaso com uma muda de maconha” e o segundo cartaz “mostra santo Antônio fumando um charuto de maconha”.

“Creio que há um enorme desrespeito ao que é sagrado”, declarou o bispo. “Com certeza, nesta marcha santo Antônio e o menino Jesus não estão presentes. Mas suas imagens que são sagradas foram aí desrespeitadas”, frisou.

O bispo de Caraguatatuba disse que sabe “da liberdade que as pessoas têm para publicarem o que pensam, o que acham que é certo”, mas segundo ele, “esta liberdade não dá direito a desrespeitar o que é sagrado e os valores que temos em nossa Igreja católica”.

“Creio que estas pessoas estão devendo um pedido público e claro de desculpas para a sociedade toda católica, para a comunidade católica de Caraguatatuba”, declarou o bispo pedindo aos organizadores do evento: “Se querem ser respeitados em suas opiniões e atividades, por favor, comecem respeitando o que é sagrado para nós. Busquem pela honestidade, pela lealdade apresentar as suas ideias e não desrespeitando conscientemente, propositadamente, nossos valores sagrados e eternos”.

Nota de repúdio

Antes do ato de desagravo, dom Chacorowski escreveu uma nota de repúdio no dia 4 de outubro,  no qual manifestou “sua profunda indignação diante da utilização indevida da imagem de santo Antônio”, destacando que “associar a imagem de um santo, que tinha entre seus carismas a vivência do Evangelho e a compaixão pelos necessitados, fere os sentimentos da fé dos fiéis católicos e causa justo repúdio e dor espiritual”.

Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram

Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:

O bispo também enfatizou em seu comunicado que “a Igreja Católica não guarda qualquer relação ou vinculação” com a Marcha da Maconha “e rejeita veementemente o indevido uso da imagem de um santo católico para promoção de ideais que não se coadunam com a fé cristã apostólica”.

Nota de retratação

A Marcha da Maconha de Caraguatatuba escreveu hoje (6), uma nota de retratação pedindo “desculpa” à diocese de Caraguatatuba,  “à comunidade católica e a todas as pessoas que possam ter se sentido ofendidas pela imagem”  divulgada em suas redes sociais, que, segundo eles, “trazia uma releitura artística de santo Antônio”.

Segundo o movimento, “a referência a santo Antônio nasceu da identificação popular com seu papel de acolher os mais pobres e cuidar dos esquecidos, valores que também movem” a “caminhada” da Marcha. “Nesse caminho, nos inspiramos na trajetória do padre Ticão, religioso católico que foi pioneiro ao abrir o diálogo entre fé, ciência e o uso medicinal da maconha”, disse o movimento.

Padre Antônio Luís Marchioni, conhecido como padre Ticão, era um militante pela liberação da maconha no Brasil. Ele era sacerdote da diocese de São Miguel Paulista (SP) e idealizou o curso maconha medicinal realizado em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em 2019. Padre Ticão morreu aos 68 anos no dia 1º de janeiro de 2021 de parada cardíaca.

“Reconhecemos o valor espiritual e simbólico do santo e reafirmamos que jamais houve intenção de ofender, vilipendiar ou desrespeitar a fé de quem quer que seja”, disse o movimento destacando que, embora eles seja “um movimento laico, a Marcha da Maconha é formada por pessoas de diversas crenças e espiritualidades, incluindo membros que se orientam pela fé cristã” e respeitam “profundamente todas as manifestações religiosas e culturais”.

“A Marcha da Maconha de Caraguatatuba reafirma que não compactua com vilipêndio religioso (art. 208 do Código Penal), repudia qualquer forma de intolerância e, em respeito à diocese, à comunidade católica e local, fazemos esse pedido de retratação, mas reafirmando que a imagem vinculada foi mera manifestação artística”, declarou o movimento ressaltando que “diante do incômodo e em respeito a todas as religiões”, decidiram “retirar a imagem das redes sociais como gesto de escuta e respeito, reafirmando o compromisso da Marcha com o diálogo e a convivência pacífica entre diferentes expressões de fé”.