O debate político e religioso continuou mesmo depois da desistência do senador democrata Richard Durbin, de Illinois, EUA, de receber um prêmio católico devido à reação negativa porque ele é pró-aborto.

Durbin deveria receber o Prêmio pelo Conjunto da Obra em apoio a imigrantes num evento arquidiocesano em Chicago no mês que vem. Mas críticas de vários bispos dos EUA levaram o senador a desistir da cerimônia de premiação em 30 de setembro.

O papa Leão XIV chegou a opinar sobre a controvérsia antes da decisão de Durbin, aparentemente saindo, pelo menos em parte, em defesa do senador em 30 de setembro, quando, numa entrevista coletiva em Castel Gandolfo, Itália, disse que era "importante analisar o trabalho geral que um senador fez [por] 40 anos de serviço no Senado dos EUA".

O papa, que nasceu em Chicago, disse que tais disputas políticas são “complexas”.

“Não sei se alguém tem toda a verdade” sobre essas questões, disse ele, pedindo àqueles que discordam uns dos outros que “tenham respeito uns pelos outros” em meio aos debates.

"Alguém que diz que é contra o aborto, mas é a favor da pena de morte, não é realmente pró-vida”, disse Leão XIV aos jornalistas. “Alguém que diz que é contra o aborto, mas concorda com o tratamento desumano de imigrantes nos EUA, não sei se isso é pró-vida".

'Uma hierarquia de verdades'

O bispo de Toledo, Ohio, Daniel Thomas, presidente do comitê pró-vida da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, disse esta semana que há uma “hierarquia de verdades” a respeito da santidade da vida.

“Não há dúvida de que as pessoas em geral são vulneráveis, mas quem são os mais vulneráveis?”, disse Thomas ao portal de notícias católico OSV News. “São as crianças inocentes e completamente vulneráveis ​​no útero que não conseguem se defender”.

O próprio Durbin, entretanto, disse estar surpreso com o “nível de controvérsia” em torno de sua intenção de receber o prêmio.

Durbin, que é senador desde 1997 e antes foi deputado, disse à rede de televisão americana NBC News que retirou o prêmio "porque a reação foi muito controversa" contra o arcebispo de Chicago, cardeal Blase Cupich.

“[Não] vejo sentido em prosseguir com isso”, disse ele à rede americana, embora tenha dito que as observações do papa Leão XIV foram “incríveis” e que ele “não esperava” que o papa aparentemente viesse em sua defesa.

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Durbin há muito tempo se manifesta em seu apoio ao direito ao aborto. Ele se opôs ao aborto no início de sua carreira política, mas disse ao jornalista Tim Russert em 2005 que havia mudado de ideia sobre o assunto, dizendo que há "certos momentos na vida de uma mulher" em que o aborto é necessário.

O senador apoiou mais abertamente o aborto em 2022, depois da revogação de Roe x Wade, decisão judicial que liberou o aborto nos EUA em 1973, quando disse que a Suprema Corte do país havia “eliminado um direito constitucional protegido pelo governo federal que é lei há quase meio século”.

“Como resultado, milhões de americanos estão acordando num país onde têm menos direitos do que seus pais e avós”, disse ele.

Durbin prometeu "continuar lutando para consagrar na lei o direito da mulher de fazer suas próprias escolhas reprodutivas", argumentando contra "[deixar] nossos filhos herdarem uma nação que é menos livre e mais perigosa do que aquela em que seus pais cresceram".

O senador recebeu elogios de defensores do aborto. Ele tem recebido regularmente a nota "100" do grupo Reproductive Freedom for All (Liberdade Reprodutiva para Todos) — anteriormente NARAL Pro-Choice America — por seus anos de votos favoráveis ​​a políticas pró-aborto.

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Susan B. Anthony, do grupo pró-vida Pro-Life America, por sua vez, dá a Durbin um prêmio "F" por ter "consistentemente votado para eliminar ou impedir proteções para os nascituros e para crianças nascidas vivas depois de abortos fracassados", entre outras posições pró-aborto.

Depois de dias de reação negativa, vários bispos dos EUA expressaram alívio com a desistência de Durbin em relação à concessão do prêmio. Semelhante a Thomas, o bispo de Arlington, Virgínia, Michael Burbidge, disse depois da retirada de Durbin que o "testemunho público do Evangelho" da Igreja exige que ela "mostre a hierarquia e a unidade de todas as verdades".

Ao anunciar a recusa do prêmio por Durbin, o cardeal Blase Cupich falou em 30 de setembro contra a "condenação total" de líderes políticos católicos que não defendem a totalidade das doutrinas da Igreja.

“[Uma] abordagem positiva pode manter viva a esperança de que vale a pena conversar uns com os outros — e colaborar uns com os outros — para promover o bem comum”, disse o arcebispo de Chicago.

Thomas, entretanto, disse ao OSV News esta semana que a “promoção do assassinato direto de bebês no útero” é “um assunto muito grave”.

“Acho que temos que dizer que existe uma hierarquia moral da vida aqui”, disse ele. “Certamente, fazer uma coisa ou outra pode ser errado, mas matar diretamente crianças no útero é a mais grave dessas coisas”.