8 de set de 2025 às 13:52
Sua alteza real, a duquesa de Kent, primeira integrante importante da realeza britânica convertida à Igreja Católica desde o século XVII, morreu aos 92 anos.
Num comunicado, o palácio de Buckingham disse que a duquesa morreu em paz na noite de 4 de setembro em sua casa no palácio de Kensington, em Londres, cercada por sua família.
“O rei, a rainha e todos os membros da família real se unem ao duque de Kent, seus filhos e netos para lamentar sua perda e lembrar com carinho da devoção de toda a vida da duquesa a todas as organizações às quais ela estava associada, sua paixão pela música e sua empatia pelos jovens”, diz o comunicado.
Reconhecida por seu charme natural, compaixão pelos doentes e oprimidos e compromisso em servir aos outros, a duquesa era muito amada. Sua popularidade era reforçada por seu próprio sofrimento pessoal e natureza modesta.
Nascida numa família proprietária de terras, Katharine Lucy Mary Worsley foi criada como anglicana e, em 1961, casou-se com o príncipe Edward, duque de Kent, neto do rei George V e primo da rainha Elizabeth II.
A primeira mulher sem título de nobreza ou princesa ao nascer a se casar com um duque real em cerca de um século, Katharine se dedicou a uma vida de serviço e, frequentemente, junto com o duque, representava a rainha Elizabeth II em eventos de caridade e de Estado no país e no exterior.
Sua jornada para a fé católica foi historicamente significativa e nasceu de consideráveis perdas e sofrimentos pessoais.
Grávida de seu quarto filho em 1975, a duquesa contraiu sarampo e, seguindo o conselho dos médicos, fez um aborto por motivos médicos. Em 1977, grávida novamente, ela fez um discurso no Congresso Britânico de Obstetrícia, no qual disse que a vida humana é uma dádiva de Deus e de valor único, assim como cada nascimento é um milagre. Ela também prestou homenagem àqueles que lutam para proteger a vida e a família.
Mas algumas semanas depois, a duquesa perdeu o bebê com 36 semanas; ela descreveu a experiência como "devastadora" e viu o aborto espontâneo como uma punição pelo aborto feito dois anos antes.
A duquesa expressou profunda empatia por outros que sofreram tragédias semelhantes e se voltaram para sua fé, fazendo a primeira de várias visitas regulares ao santuário de Nossa Senhora de Walsingham com o então arcebispo anglicano de Canterbury, Robert Runcie.
Anos depois, vendo as incertezas e as lutas internas da Igreja da Inglaterra, que estava então em dúvida se aceitaria ou não mulheres no clero, ela se sentiu atraída pelo catolicismo.
Sua jornada culminou com sua entrada na Igreja Católica em janeiro de 1994 pelo cardeal Basil Hume, então arcebispo de Westminster. Até então, nenhum membro importante da realeza havia se convertido publicamente na Igreja desde 1685. O Ato de Estabelecimento de 1701 também proibia membros da realeza que se tornassem católicos ou se casassem com eles de estarem na linha de sucessão ao trono britânico.
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Ela descreveu sua conversão como uma "decisão pessoal há muito ponderada" e que se sentiu atraída pelo consolo e pela clareza da fé católica. "Eu amo diretrizes, e a Igreja Católica oferece diretrizes", disse ela certa vez à rede de comunicação britânica BBC. "Sempre quis isso na minha vida. Gosto de saber o que se espera de mim".
Como católica, ela fazia visitas regulares a Lourdes, França, com sua paróquia local e frequentemente assistia à missa no oratório de Brompton, em Londres, perto de sua casa no palácio de Kensington.
Em 2001, o terceiro mais velho de seus quatro filhos, lorde Nicholas Windsor, seguiu-a para a Igreja Católica, tornando-se o primeiro membro consanguíneo masculino da família real britânica a se tornar católico desde a provável conversão do rei Carlos II no leito de morte em 1685.
A duquesa de Kent dedicou seu tempo e energia a várias boas causas, como tornar-se patrona dos samaritanos, instituição de caridade que tenta impedir pessoas de cometer suicídio, e ser cofundadora de uma instituição de caridade chamada Future Talent (Talento Futuro), que apoia jovens músicos de origens pobres.
Depois de se aposentar do serviço público, ela lecionou música para crianças numa escola primária nos anos 2000, por cerca de uma década, em completo anonimato. Conhecida simplesmente como "senhor Kent" na escola, ela disse em 2022 que "só a diretora” sabia quem ela era.
“Os pais não sabiam, e os alunos também não”, disse a duquesa. “Ninguém nunca percebeu. Não houve nenhuma publicidade sobre isso — simplesmente parecia funcionar".
Muitas das crianças da escola em Hull, no norte da Inglaterra, vinham de famílias monoparentais e de áreas muito carentes. "Foi muito, muito gratificante", disse a duquesa. "A música fez maravilhas ".
Muitos no Reino Unido se lembram de ver a compaixão da duquesa demonstrada visivelmente quando, como apresentadora de troféus em Wimbledon, ela quebrou o protocolo para confortar Jana Novotná, tenista tcheca que chorou em seu ombro ao perder por pouco a final de simples feminina de Wimbledon, em 1993.
O arcebispo de Westminster, cardeal Vincent Nichols, falou “com carinho de sua presença em nossa comunidade, especialmente sua participação na peregrinação a Lourdes, assim como sua vida de serviço público”.
O príncipe e a princesa de Gales disseram que a duquesa trabalhou "incansavelmente para ajudar os outros" e que é um "membro da família que fará muita falta".
Escrevendo na rede social X, o radialista católico britânico Colin Brazier escreveu que “num mundo de ostentação, autopromoção e vaidade, Katharine Worsley era a coisa mais rara: uma figura pública de genuína humildade, até mesmo santidade”.
O funeral da duquesa de Kent — o primeiro funeral católico de um membro da família real na história britânica moderna — vai acontecer na catedral de Westminster, em Londres, nas próximas semanas.





