Apesar das ordens de evacuação e da escalada das operações militares na Faixa de Gaza, o comitê de emergência da igreja da Sagrada Família — a única paróquia católica de Gaza — anunciou recentemente que seus membros permanecerão no local para cuidar de moradores deslocados que se abrigaram lá.

As forças israelenses emitiram recentemente ordens gerais aos moradores para evacuarem o bairro de Zeitoun, um dos maiores da Cidade de Gaza, que cobre cerca de 9 km² e abrigava, até o início da guerra em outubro de 2023, cerca de 100 mil pessoas. A igreja da Sagrada Família fica nesse bairro, embora não tenha recebido nenhuma ordem específica para evacuar seu complexo.

O comitê de emergência abriu sua declaração com um versículo bíblico: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é inútil no Senhor” (1 Co 15,58).

Permanecer na paróquia é um dever moral e pastoral, disse o comitê, motivado pela necessidade de cuidar de idosos e deficientes que dependem do apoio 24 horas da igreja.

O comitê de emergência, em operação "desde o primeiro dia da guerra", prometeu permanecer "na vanguarda do serviço" à comunidade. A decisão de permanecer foi tomada para proteger aqueles que buscaram refúgio na igreja, enfatizando que a escolha de partir ou permanecer "deve ser deixada à consciência de cada civil".

A linguagem do anúncio do comitê em 27 de agosto ecoa uma declaração conjunta emitida no dia anterior, em 26 de agosto, pelo Patriarcado Latino de Jerusalém e pelo Patriarcado Ortodoxo Grego de Jerusalém, que disse que as ordens de evacuação que forçam os civis a se mudarem para o sul de Gaza equivalem a uma "sentença de morte" para muitos que encontraram abrigo em instituições religiosas.

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O complexo da igreja católica Sagrada Família e a vizinha igreja ortodoxa grega de São Porfírio abrigaram centenas de civis desde o início da guerra, muitos deles fisicamente impossibilitados de fazer a viagem para o sul.

“O caminho da justiça conduz à vida”, disseram ambos os patriarcados, exortando os líderes mundiais a proteger o direito dos civis de permanecerem em suas terras e a rejeitar as políticas de expulsão em massa. O comitê de emergência também pediu às autoridades locais e internacionais que rompam o ciclo de violência e encontrem soluções que protejam a vida e a dignidade humana.

O padre Gabriel Romanelli, pároco da igreja católica da Sagrada Família, reforçou essa posição ao falar ao Vatican News, serviço oficial de informações da Santa Sé. “Estamos nas mãos de Deus”, disse ele. “Estamos aqui por Jesus Cristo. Estamos aqui para servi-Lo na Eucaristia e para servi-lo nos pobres, nos doentes e nos que sofrem”.

Romanelli disse que os padres e freiras que permanecem na igreja acreditam ter a obrigação moral de continuar cuidando de idosos, deficientes e outras pessoas vulneráveis ​​que dependem das instituições da igreja para sua sobrevivência diária há anos. Forçar essas pessoas a viverem nas ruas seria catastrófico, disse ele, dada a desnutrição generalizada, a vulnerabilidade física e a quase total ausência de assistência médica fora dos muros da igreja.

A declaração do comitê de emergência ocorre num momento em que as operações militares em Gaza se intensificaram, com bombardeios intensos contra bairros densamente povoados. Autoridades locais e moradores relatam um número crescente de vítimas civis e destruição generalizada. Diante desse cenário, líderes religiosos renovaram apelos urgentes por uma ação internacional imediata para proteger civis, garantir a entrega de ajuda humanitária e prevenir deslocamentos forçados.